Foi há dois anos que, hoje, 4 de Dezembro, a cidade de Tavira conquistou aquela que é provavelmente a mais importante distinção patrimonial algarvia em termos internacionais, trazendo para a região – e para o país – enquanto comunidade nacional representativa da dieta mediterrênica a classificação de Património Imaterial da Humanidade.
Tavira arrecadava a distinção depois de um aturado trabalho de candidatura chefiado por Jorge Queiroz e somava ao Fado a dieta mediterrânica no rol de classificações nacionais de Património Imaterial da humanidade. Hoje o país já conta com mais duas o cante alentejano e a Arte Chocalheira, cuja classificação se verificou há dias.
O Algarve e o país têm desde então o enorme ónus de retirar desta classificação todas as mais-valias, ao mesmo tempo que sobre eles recai a obrigação de salvaguarda da complexa teia realidades que consubstanciam a dieta mediterrânica e a autarquia liderada por Jorge Botelho não deixou por mãos alheias a tarefa de elevar cada vez mais a consciência de que este é um património que representa para o concelho, para a região e para o país uma verdadeira oportunidade.
Na senda de dar visibilidade e consistência a esta mais-valia são centenas e centenas as actividades e trabalhos desenvolvidos pelo município no sentido de salvaguardar o património milenar que consubstancia a universalidade que é a dieta mediterrânica.
O mérito da aposta num trabalho difícil
É verdade que a visibilidade geral do trabalho a realizar quer pelo Estado, quer em particular pela autarquia de Tavira, quer mesmo pelas entidades públicas regionais é, e será, durante anos colossal. Afinal, não se pode ignorar que a dieta mediterrânica enquanto património imaterial difuso e maioritariamente intangível. Não é visitável num determinado lugar em concreto, não tem representação física concreta numa única realidade e, acima de tudo, não se estabelece como ideia identitária de um povo por decreto.
Não se faz da dieta mediterrânica uma mais-valia com a aposição indiscriminada de um simples selo de qualidade ou certificação, não se explica um modo de vida numa visita a um espaço ou construção, nem se garante a atenção do mundo para uma realidade pelo simples martelar desenquadrado na temática.
As mais-valias da distinção da UNESCO fazem-se de tudo isto e de muitíssimo mais, num trabalho que levará anos a por de pé e que acima de tudo demorará a integrar no ideário dos tavirenses, dos algarvios e dos portugueses como valor inalienável da cultura lusa.
Exposições, seminários, feiras, mostras, passeios, inventários, sensibilização escolar e educacional e publicações, a par de reuniões de trabalho, promoção da actividade física e da gastronomia, do artesanato e das actividades tradicionais, bem como, intenso trabalho de bastidores junto do Governo e entidades nacionais e estrangeiras, são alguns exemplos das centenas de actividades desenvolvidas cujo elenco especificado seria impossível de retratar.
À cabeça dos esforços feitos em prol da ideia de consolidação da dieta mediterrânica como mais-valia patrimonial tavirense e algarvia estão Jorge Botelho, autarca tavirense, e Jorge Queiroz, responsável pelo grupo de trabalho da dieta mediterrânica, que têm sem descanso colocado a distinção portuguesa entre as prioridades máximas das respectivas funções.
Em dois anos muito se percorreu desta verdadeira maratona de consciência colectiva e identitária e muito mais está por percorrer, mas o certo é que hoje a dieta mediterrânica é um a realidade muito mais inculcada na população algarvia do que era à data em que Portugal recebia as boas notícias em Baku, capital do Azerbaijão e isso só por isso é já o primeiro passo para o sucesso.
A par de Portugal e Tavira a defesa do património imaterial da dieta mediterrânica cabe a Chipre (Agros), Croácia (Hvar e Brac), Grécia (Koroni), Espanha (Soria), Itália (Cilento) e Marrocos (Chefchaouen), como comunidades e países estandarte daquele que, mais do que tudo, é um modo de vida, assente nas ancestrais tradições de uma civilização que tem o Mediterrâneo e a sua influência como palco central da sua vivência.