A detenção da presidente da Câmara de Vila Real de Santo António por suspeitas de corrupção num negócio imobiliário foi uma “surpresa”, disse hoje o presidente da comissão política do Algarve do PSD, afirmando acreditar na sua inocência.
David Santos preside à estrutura regional do PSD, no distrito de Faro, ao qual o concelho de Vila Real de Santo António pertence, e considerou que o caso – que já levou a presidente da Câmara, Conceição Cabrita, a apresentar hoje a demissão com efeitos imediatos – não vai ter reflexos nas ambições autárquicas do partido, porque já estava escolhido outro candidato à autarquia, numa referência ao antigo presidente do município Luís Gomes.
“Eu acho que foi uma surpresa para todos e continuamos a acreditar que não haverá nada de complicado com a nossa presidente. Nós conhecemo-la bem, é uma pessoa trabalhadora, humilde, honesta, e nada aponta para que alguma coisa destas pudesse acontecer, portanto, agora, aguardamos com calma que a justiça faça o seu caminho e continuamos a acreditar que ela não terá nada a ver com este processo”, reagiu o presidente do PSD do Algarve.
O representante acrescentou que esta é a sua “convicção em função do passado” que Conceição Cabrita “tem no partido”, depois de 12 anos como vereadora e vice-presidente de Luís Gomes, e mais de três na presidência da autarquia.
“Quanto ao futuro, como se sabe ela não vai ser recandidata, já tinha dito que não se recandidatava porque estava muito cansada e é um trabalho desgastante. Disse-nos que não iria ser recandidata e, a partir daí, temos um candidato [Luís Gomes] no terreno e as coisas caminharão como têm de caminhar”, referiu.
O partido, disse, “tem uma tradição grande em Vila Real de Santo António e também no Algarve”, e vai “continuar na pré-campanha e posteriormente na campanha” com o plano que tinha delineado, ao lado do candidato.
“Entendemos que não afetará nada do que temos pensado fazer na campanha no Algarve. Acho que o povo tem dado grandes demonstrações de maturidade e de saber distinguir exatamente os atos eleitorais. O mais recente em que pudemos distinguir isso claramente foi nas últimas legislativas, por exemplo, no concelho de Castro Marim, onde o PS ganhou as eleições de forma folgada e, uma semana depois, o candidato do PSD, numas eleições intercalares autárquicas, também ganhou as eleições folgadas”, argumentou.
David Santos acrescentou que o “povo sabe muito bem distinguir as coisas” e disse “não ter dúvidas de que saberá também, desta vez, fazê-lo” nas autárquicas deste ano.
“Como disse, penso que toda a gente ficou surpresa, é uma pessoa que não nos passava pela cabeça que pudesse estar envolvida num processo destes e acreditamos que poderá ser um mal-entendido que se resolverá a seu tempo”, reiterou o presidente do PSD do Algarve.
Questionado sobre o alegado envolvimento e detenção de um funcionário da Câmara pertencente também aos órgãos do partido a nível local e regional, David Santos escusou-se a comentar, justificando que, “enquanto não souber a identificação das pessoas, não gostaria de especular”.
David Santos falou à agência Lusa pouco antes de a Câmara de Vila Real de Santo António ter anunciado a demissão “com efeitos imediatos” da presidente da Câmara, que aguarda pela decisão do tribunal para conhecer as eventuais medidas de coação a que ficará sujeita, como as restantes três pessoas que foram detidas na terça-feira.
Em causa estão suspeitas de corrupção, recebimento indevido de vantagem e abuso de poder na intermediação de um negócio imobiliário em Monte Gordo, revelou a Polícia Judiciária no comunicado em que anunciou as quatro detenções.
“No decurso desta operação, denominada Operação Triângulo, foram detidas quatro pessoas, uma delas titular de cargo político”, referiu na ocasião a PJ, precisando que entre os detidos estavam também “um trabalhador da Administração Pública e dois empresários”.
Os arguidos detidos estão no Tribunal de Instrução Criminal de Évora, onde foram sujeitos a primeiro interrogatório judicial, e aguardam para conhecer as eventuais medidas de coação a que ficam sujeitos.