O presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública alertou hoje que a resposta do Serviço Nacional de Saúde “não é ilimitada” e salientou que se as infeções por covid-19 continuarem a aumentar pode ser difícil prestar cuidados.
“Sendo verdade que já se esperava, que havia uma evolução do número de casos, pelo facto de se verificar não devemos ficar menos preocupados”, afirmou Ricardo Mexia à agência Lusa, assinalando que Portugal regista um “número elevado de casos” de covid-19.
Apesar de ressalvar que o limite da capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ainda não foi ultrapassado, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP) alertou que se os casos continuarem numa trajetória ascendente o país vai “ter dificuldades precisamente nessa resposta”.
“A resposta do SNS não é ilimitada e, portanto, tem um limite”, frisou, sustentando que se se mantiver “este ritmo talvez seja difícil para o SNS conseguir dar os cuidados necessários a todos os que deles necessitam”, ao mesmo tempo que sublinhou que esta é uma “constatação que já há longo tempo” era sabida.
Assim, na ótica do médico, “é fundamental interromper as cadeias de transmissão para evitar este avolumar do número de casos”.
Ricardo Mexia pediu “um reforço dos meios, designadamente no que diz respeito à capacidade de resposta das unidades de saúde pública”.
“As unidades, com os recursos que têm, têm uma particular dificuldade em conseguir realizar todas as tarefas de vigilância epidemiológica”, sublinhou.
Portugal registou hoje mais cinco mortos relacionados com a covid-19 e um número recorde de 1.646 novos casos de infeção com o novo coronavírus, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Desde o início da pandemia, em março, este é o maior número de casos de infeção. O segundo maior registo aconteceu a 10 de abril, com 1.516, e o terceiro mais recentemente, nesta sexta-feira, com 1.394 novos casos.
Perante estes dados, Ricardo Mexia considerou também que aquilo que “eventualmente preocupará mais são os impactos do número de casos, ou seja, aquilo que diz respeito por um lado aos internamentos, por outro às necessidades de cuidados intensivos” e, ainda, à “mortalidade associada”.
Questionado se a solução para contrariar o aumento de novas infeções por covid-19 deverá passar por um novo confinamento da população, o presidente da ANMSP admitiu essa hipótese.
“Eu julgo que essa é uma medida que nenhum de nós deseja nem desejava, mas (…), se nós não tivermos de facto uma resposta” através do “reforço dos meios humanos, materiais, para conseguir interromper cadeias de transmissão, se as diversas atividades económicas não fizerem o que lhes compete em termos de adaptação e minimização do risco e se o Governo não tiver os meios para alocar aos serviços para que eles possam dar uma resposta adequada” e se os cidadãos não fizerem a sua parte no cumprimento das recomendações, será “difícil” poder “encontrar outra solução”, alertou.
“Os recursos que temos são estes, se não forem suficientes acho que uma medida mais restritiva pode, eventualmente, ser a única que, perante o aproximar daquele limite, daquela linha vermelha que é a capacidade de resposta do SNS, eu não vejo muitas alternativas que possamos utilizar”, concluiu.
Portugal contabiliza pelo menos 2.067 mortos associados à covid-19 em 85.574 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).