Passaram 16 meses desde que criamos este grupo para debater o tema da construção de uma ponte para a ilha de Cabanas de Tavira.
Contamos com mais de 3400 assinaturas online, mais de 1000 em papel, pelo que podemos afirmar que os objectivos há muito foram cumpridos, no que toca ao esclarecimento e sensibilização das pessoas para este assunto que une todos quantos amam Cabanas, sejam naturais, residentes ou turistas.
E também verifico com imenso agrado que, muitas das pessoas que tinham uma opinião contrária à nossa pretensão, com os debates e esclarecimentos que aqui promovemos, compreenderam os motivos apontados e a importância para o futuro de Cabanas de uma acessibilidade pedonal, que permita o acesso permanente, democrático, seguro à ilha e não menos relevante referir, que se constitua como uma alternativa verdadeiramente ecológica à travessia intensiva de barcos, que como todos facilmente reconhecem, é causa evidente de um terrível atentado ambiental e da destruição, daquela que antes era uma aprazível praia fluvial e um habitat marinho de enorme riqueza.
Mas como quase tudo na vida, este tema não é consensual, contudo se no início me questionava se a ponte poderia de algum modo ser contraproducente por motivos que eu não estivesse a vislumbrar, passados estes 16 meses o que me apraz dizer é que a minha convicção é muito mais vincada do que alguma vez foi.
Em boa verdade, ninguém que seja contra a travessia conseguiu apresentar um único argumento, que de algum modo me leve a sentir insegurança quanto à importância de que uma travessia pedonal para a ilha se reveste, para o futuro desta magnífica vila que marca indelevelmente a minha identidade.
E depois destes meses em que debatemos o tema com variadas pessoas, dei por mim a pensar nas acusações que algumas pessoas nos têm injustamente apontado e é sobre isso que irei comentar de seguida:
1. “Queremos destruir empregos”
Esse é o argumento mais facilmente desmontável, a economia de Cabanas está centrada no turismo, como pode uma travessia pedonal que permita o acesso todo o ano à sua ilha, destruir empregos?
Com o acesso à ilha os empreendimentos turísticos irão promover a ilha todo o ano e fora da época balnear o turismo nunca é massivo, é um turismo de pessoas de idade mais avançada, principalmente vindos do norte da Europa, amantes de caminhadas pelas praias, pessoas com grande capacidade financeira e que não tendo praia acessível em Cabanas optam por outros destinos turísticos, como por exemplo as praias vizinhas até V.R. Santos António ou a Praia do Barril.
Com o clima típico de Cabanas, a ilha aberta todo o ano atrairá turistas para actividades náuticas e para a pesca desportiva, as empresas de passeios de barcos que nos longos meses do ano em que a ilha está inacessível, ficam praticamente sem actividade, irão seguramente ter muita procura.
Veja-se o que se passa em todo o país onde as praias são acessíveis, com a procura turística pela praia, vem a procura pela restauração e comércio uma maior empregabilidade e mais estável, nadadores salva-vidas e diversos funcionários das concessões manterão os seus empregos ao longo do ano e como consequência, a fixação da população residente, que assim não necessita emigrar para ganhar a vida.
Quanto aos barqueiros, que previsivelmente deixarão de ter essa actividade de passar pessoas intensamente durante 2, ou 3 meses, seguramente que terão mais e melhores oportunidades de trabalho e ao longo de todo o ano. De resto, os meses de verão em que os barqueiros trabalham, são precisamente aqueles em que há mais falta de mão-de-obra do que de ofertas de trabalho.
2. “Pretendemos prejudicar o Manuel Coelho e/ou a Macieira Coelho”
Este é um movimento cívico que apela a uma travessia pedonal para a ilha, todos nós que fazemos parte deste grupo, cresceu em Cabanas, vivemos grande parte ou a vida toda em Cabanas e temos todos pela ilha e pela ria um amor incondicional, resultando de uma vivência de acessibilidade livre à ilha e todos nós, desde tenra idade, gozamos dos prazeres e liberdade de nadar na ria, livre do trânsito infernal e de poluição.
Somos todos membros desta comunidade, conhecidos e respeitados pela generalidade dos cabanenses e ninguém nos pode apontar qualquer animosidade contra a empresa que tem a licença de travessia e concorre para obter a exclusividade por 25 anos, nem contra o dito empresário.
Pessoalmente nem conheço a pessoa em questão, nunca tive qualquer tipo de relacionamento e quanto aos demais membros do grupo, parte deles até nutre estima e amizade pelo Sr. Manuel Coelho.
É totalmente infundada essa acusação, nada nos move contra quem quer que seja, apenas pretendemos poder desfrutar da ilha e da ria, livremente e ao longo de todo o ano.
Mas sendo verdade que esta luta não é contra ninguém, não tenham dúvida de que lutaremos convictamente contra quem quer que tenha a pretensão de se apropriar da Ria e da Ilha de Cabanas.
E nesse sentido terei que dizer que não somos nós quem está a lutar contra o empresário ou a empresa que pretende ficar com a exclusividade da travessia de Cabanas, pelo contrário, são as pessoas que tendo interesses nas actividades marítimas comerciais, estão a lutar ferozmente contra a nossa pretensão, pois querem manter a ilha isolada e se possível ainda mais isolada por força de nova e violenta dragagem.
3. “Temos interesses políticos e/ou económicos”
Conforme referi no ponto anterior, somos sobejamente conhecidos em Cabanas, temos todos diversas ideologias e entre nós, alguns com actividade política activa por diferentes partidos, aliás, adversários políticos com lutas de décadas, sendo que a maior parte dos membros, não tem qualquer filiação ou vida activa partidária, como é o meu caso concreto.
Quanto a interesses económicos, não somos nós quem pretende facturar com a travessia, é fácil perceber quem realmente tem interesses económicos em manter a ilha isolada, nós apenas queremos poder ir livremente à ilha de Cabanas.
Posto isto, resta-me informar que continuamos a trabalhar para que a travessia pedonal venha a ser uma realidade o mais breve possível.
A dimensão e o conceito, de crescimento/desenvolvimento de Conceição e Cabanas, exige um projecto de mobilidade integrado. A travessia actual, é um completo caos no verão e praticamente inexistente na época baixa.
Sendo a fruição do produto turístico âncora, a praia, torna-se imperioso integrar uma acessibilidade facilitada e universal.
É fundamental de uma vez por todas pensar estrategicamente e nenhum sistema de transporte fluvial conseguirá alguma vez dar resposta à dimensão da população em época alta e cada vez mais importa pensar na época baixa!
Citando o nosso Primeiro-Ministro António Costa, numa intervenção pública recente: “Espaços públicos plurais, democráticos, que sejam seguros e confortáveis para todas as pessoas e não espaços públicos entregues à especulação ou à mercantilização”
Que sentido faz que os cabanenses tenham que sair de Cabanas para fazer praia?
O meu apelo é que todos os cabanenses juntem a sua à nossa voz, mostremos a toda a gente, que jamais nos conformaremos com a pretensão de alguém se apropriar da Ria de Cabanas.
Iremos até onde tivermos que ir, na defesa dos superiores interesses de Cabanas, pelo futuro da nossa terra e por todos os cabanenses.
Por Cabanas e por uma ilha acessível a todos.