O projecto de um gigante conjunto comercial a instalar pelo grupo IKEA em Loulé, junto ao nó da Via do Infante de acesso ao Aeroporto de Faro, levou várias associações empresariais do Algarve a entregar a 80 autoridades nacionais um memorando que manifesta a oposição das associações ao avanço do investimento da multinacional.
Além das autoridades nacionais as associações remeteram ainda a sua posição contra o projecto para análise pelo Conselho de Administradores da Inter IKEA Holding S.A., sediado na Bélgica.
Sobe assim de tom a contestação ao mega centro comercial IKEA no Algarve que passa a estar nas esferas políticas nacionais e na mesa da multinacional IKEA a nível internacional.
Autoridades nacionais determinam acompanhamento da situação
Isso mesmo resulta, esclarece a ACRAL em nota de imprensa, da atenção dada pela Casa Civil da Presidência da República, da Presidente da Assembleia da República e do Gabinete do Primeiro Ministro terem remetido o memorando enviado pelas associações regionais para análise e acompanhamento pelos Ministério da Economia, secretário de Estado do Ordenamento do Território e Recursos Naturais e pelas Comissões Parlamentares de Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local e de Economia e Obras Públicas.
Para Victor Guerreiro, presidente da ACRAL, em declarações ao Postal, “as mais altas autoridades nacionais deram à exposição das associações empresariais da região a merecida atenção face à gravidade dos riscos que o projecto IKEA representa”.
O dirigente associativo realça que “com esta tomada de posição as associações empresariais algarvias envolvidas no processo reforçam no campo político a oposição ao projecto IKEA para o Algarve que já está a ser contestado nos tribunais administrativos”.
Seis associações empresariais opõem-se ao projecto IKEA
As associações envolvidas na luta contra o projecto IKEA incluem ACRAL, ANJE – Associação Nacional dos Jovens Empresários – Algarve, a CEAL – Confederação dos Empresários do Algarve, A AHETA – Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, AEQV – Associação dos Empresários de Quarteira e Vilamoura e NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve, que lutam na barra dos tribunais e agora junto do poder político nacional contra as preensões de instalar em Loulé um gigante comercial.
IKEA quer instalar loja da marca, 220 lojas em centros comerciais e duas megastores
O projecto do IKEA prevê a instalação de dois centros comerciais com um total de 220 lojas, além de duas megastores e de uma loja IKEA e de acordo com as associações empresarial esta configuração “exagerada” de espaços comerciais põe em causa a sobrevivência da economia local, nomeadamente na área do comércio, o emprego e o equilíbrio económico e social regional, além de afectar questões ambientais sensíveis.
Para Victor Guerreiro, o momento é de acção. “Não podemos deixar que o tecido empresarial da região, constituído essencialmente por pequenas e médias empresas, e os postos de trabalho que lhes estão associados sejam postos em causa por um projecto comercial de dimensão megalómana que põe mesmo em causa a sobrevivência de outras grandes superfícies comerciais já instaladas no Algarve, numa região que já tem a maior densidade de grandes superfícies comerciais do país”.
IKEA avança com limpeza dos terrenos em Loulé
Entretanto, o IKEA já iniciou os trabalhos de limpeza dos terrenos que comprou junto ao nó da A22 de acesso ao Aeroporto de Faro. As máquinas iniciaram os trabalhos de desmatação nos últimos dias e mantêm-se a operar no local.
O grupo IKEA tem, de acordo com o dirigente associativo, “ignorado de forma repetida as chamadas de atenção dos agentes associativos e económicos algarvios para o sobredimensionamento do projecto e para os seus efeitos devastadores”.
“Uma empresa que se promove com base em valores ambientais e sociais sustentáveis não tem tido para com o Algarve e os algarvios um comportamento digno dos pergaminhos que apregoa”, refere o dirigente associativo, realçando que “as associações empresariais do Algarve envolvidas neste processo não baixarão os braços até às últimas consequências”, acrescentando, que “os algarvios podem sempre contar connosco e com a nossa intervenção na defesa contra situações que põem em risco o equilíbrio da região”.
Uma insensibilidade que a Câmara de Loulé, refere Victor Guerreiro, tem tido igualmente quanto aos alertas sucessivos dados sobre esta matéria” e que “não pode ficar sem uma resposta adequada daqueles que devem defender os interesses dos algarvios, nomeadamente as associações sectoriais”.
Associações empresariais querem acção dos tribunais
O dirigente máximo da ACRAL realça que “nesta matéria as associações empresariais do Algarve têm tido uma posição de grande empenho e força, recorrendo quer aos tribunais, quer às autoridades competentes do Estado”, sublinhando nas declarações feitas ao POSTAL, que “ainda recentemente entregámos no Ministério Público junto do Tribunal Administrativo um requerimento para que seja dado avanço aos processos pendentes relativos a esta situação.
O presidente da ACRAL refere que “não se opõe ao investimento na região no sector do comércio, seja qual for a sua origem, o que está em causa é a desproporção do projecto IKEA face à realidade económica e social da região e à oferta comercial de grandes superfícies comerciais já instalada”.
O líder da associação empresarial sublinha que “em matéria ambiental a QUERCUS e a ACRAL manifestaram fortes reservas quanto aos impactes do projecto em sede de discussão do Estudo de Impacte Ambiental, nomeadamente sobre o impacto nos aquíferos afectados pela zona de implantação do IKEA”.
Victor Guerreiro conclui dizendo que “ninguém nos demoverá de lutarmos pelo bem do Algarve e dos algarvios e pelo apuramento integral de responsabilidades nesta matéria sejam judiciais, sejam políticas”.