Nos últimos anos, uma prática perigosa e mortal tem vindo a ganhar popularidade entre os jovens: o chroming, uma forma de abuso de inalantes que, embora não seja inteiramente nova, está a alarmar especialistas devido ao seu ressurgimento e ao aumento da disseminação nas redes sociais. Esta tendência perigosa, que já causou várias mortes, envolve a inalação de produtos químicos presentes em produtos do quotidiano, como tintas metálicas, sprays de cabelo, desodorizantes em aerossol, acetona e gasolina, entre outros.
A origem do termo “chroming” está associada à inalação de tintas metálicas, que deixam resíduos cromados ou prateados ao redor da boca e do nariz. De acordo com o Dr. Anthony Pizon, professor de medicina de emergência na Universidade de Pittsburgh, os jovens utilizam estas substâncias inalando diretamente dos recipientes ou através de panos e sacos embebidos nos produtos químicos.
“Este fenómeno não é novo”, ressalta o médico, explicando que a prática tem raízes no “huffing”, uma forma mais antiga de inalação de vapores químicos para obter um efeito de euforia. No entanto, a facilidade de acesso a estes produtos domésticos e a influência das redes sociais têm contribuído para a crescente popularidade desta prática entre os jovens nos últimos anos, acrescenta o especialista.
O perigo à espreita
Embora a popularidade do uso de inalantes tenha atingido o seu auge nos anos 90, estudos indicam que a prática voltou a aumentar recentemente. Dados da National Survey on Drug Use and Health revelam que, embora o consumo de inalantes entre jovens americanos de 12 a 17 anos tenha diminuído de 684.000 em 2015 para 554.000 em 2022, os números voltaram a subir para 564.000 em 2023. Este aumento é alarmante, particularmente porque envolve adolescentes muitas vezes vulneráveis, enfrentando problemas de saúde mental como ansiedade e depressão.
Segundo a Dra. Betty Choi, pediatra e autora, muitos jovens recorrem ao chroming “como uma forma de relaxamento ou autossedação”. Esta tendência é exacerbada por plataformas digitais como o TikTok, onde surgem vídeos e hashtags que glorificam a prática.
Consequências graves e fatais
O chroming é muitas vezes subestimado devido ao facto de os produtos utilizados serem de uso comum e legal. No entanto, os efeitos a curto e longo prazo são devastadores. Entre os efeitos imediatos, a Dra. Choi aponta para sintomas semelhantes aos da intoxicação alcoólica, como tonturas, euforia, desinibição, e dificuldades de coordenação. Porém, as consequências mais graves incluem problemas cardíacos, convulsões, fraqueza muscular e até dificuldades respiratórias.
A longo prazo, os danos são ainda mais severos, afetando os rins, fígado, cérebro e coração, resultando em neuropatias, distúrbios eletrolíticos e danos cerebrais irreversíveis. “O chroming pode ser fatal, e não há uma quantidade ou frequência segura”, alerta a Dra. Choi, sublinhando que mesmo uma única sessão pode ter consequências letais.
Casos fatais e hospitalizações
Infelizmente, os riscos associados ao chroming não são teóricos. Vários casos de morte ligados à inalação de produtos tóxicos têm sido reportados nos últimos anos. Em março de 2023, uma mãe no Reino Unido perdeu o filho de 11 anos após ele ter sofrido um ataque cardíaco enquanto inalava produtos químicos durante uma festa de pijama. No mesmo ano, uma rapariga de 13 anos na Austrália e dois rapazes de 16 anos morreram em circunstâncias semelhantes. A prática tem também levado a hospitalizações frequentes, muitas vezes com lesões cerebrais irreversíveis.
Como proteger os jovens?
A prevenção do chroming começa em casa e nas escolas, onde pais e educadores desempenham um papel essencial na sensibilização para os perigos desta prática. De acordo com o Dr. Pizon, produtos potencialmente perigosos, como tintas, desodorizantes e solventes, devem ser armazenados em locais seguros e de difícil acesso.
Os pais devem também estar atentos a sinais de alerta, como hemorragias nasais frequentes, feridas ao redor da boca ou nariz, ou mudanças no comportamento e desempenho escolar. A comunicação aberta e honesta é outra ferramenta poderosa na prevenção. “Manter uma conversa franca sobre os riscos do chroming é uma das melhores estratégias”, afirma a Dra. Choi, recomendando que os pais introduzam o tema de forma subtil, por exemplo, ao explicar porque os profissionais usam máscaras de proteção ao manusear certos produtos.
Se a prática se tornar recorrente, é essencial procurar ajuda profissional. “Confusão, dormência, alucinações e convulsões são sinais de overdose e requerem ajuda médica imediata”, alerta o Dr. Pizon. Em casos de emergência, os pais devem contactar o 112 ou um centro de toxicologia local.
O chroming representa uma séria ameaça à saúde e ao bem-estar dos jovens, que muitas vezes desconhecem os riscos que correm ao experimentar estas substâncias. A chave para combater esta tendência está na educação, na vigilância e no apoio emocional. Abordar o tema com empatia e de forma não julgadora é crucial para que os jovens se sintam seguros a partilhar as suas experiências e preocupações, defende a Dra. Choi. Somente através de um esforço conjunto entre pais, educadores e autoridades de saúde será possível travar o avanço desta prática perigosa.
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