O Rio Sena, conhecido por ser palco de provas dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, acabou por se transformar num foco de preocupação nos primeiros dias do evento. Devido a níveis elevados de poluição, com a presença significativa de bactérias, várias provas de triatlo e natação em águas abertas foram adiadas. Apesar das competições terem sido realizadas após a melhoria da qualidade da água, o triatleta português Vasco Vilaça, que participou nas provas masculina e mista, desenvolveu “sintomas compatíveis com infeção gastrointestinal”, embora ainda não se possa afirmar que estão relacionados com a qualidade da água. Este episódio sublinha a importância de se garantir a segurança das águas tanto em eventos de grande escala como nas atividades recreativas quotidianas, como os banhos nas praias.
Em Portugal, o controlo da qualidade das águas balneares é uma prática rigorosa, especialmente durante a época balnear, quando o risco de contaminação é maior. A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) é a entidade responsável por realizar análises periódicas, segundo um calendário de amostragens definido. Os resultados dessas análises são partilhados com o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), a Autoridade Marítima e as autarquias locais. Em conjunto com as delegações regionais de saúde, estas entidades decidem sobre a necessidade de interditar banhos, colocando bandeiras vermelhas ou avisos, caso a água não esteja em condições adequadas. A reabertura das zonas balneares só ocorre após novas análises confirmarem a qualidade da água.
Os cidadãos podem aceder a informações em tempo real sobre a qualidade das águas balneares através do site ou da aplicação InfoPraia. Esta plataforma oferece dados atualizados sobre a qualidade da água, temperatura, horários das marés, e até informações sobre infraestruturas disponíveis nas praias. Para informações mais detalhadas sobre a qualidade das águas e a aptidão para a prática balnear, o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos da Agência Portuguesa do Ambiente (SNIRH) é uma excelente fonte de consulta.
O contacto com águas contaminadas, como avança a Executive Digest, pode representar riscos sérios para a saúde, sobretudo no que diz respeito a infeções gastrointestinais. A exposição pode ocorrer pelo simples contacto com a pele, pela inalação de gotículas de água contaminada ou, mais frequentemente, pela ingestão acidental de água durante o banho. Entre os agentes patogénicos mais comuns em águas contaminadas, destacam-se as bactérias E. coli, responsáveis por várias interdições de praias em Portugal nos últimos meses.
A Escherichia coli (E. coli) é normalmente encontrada no trato intestinal de humanos e outros mamíferos, mas certas estirpes podem ser patogénicas. A E. coli enterotoxigénica, por exemplo, é conhecida por causar diarreias em crianças e a famosa “diarreia do viajante”, com sintomas como diarreia aquosa, febre baixa, cólicas abdominais, fadiga e náuseas. Os sintomas surgem entre oito e 44 horas após o contacto com a água ou ingestão de alimentos contaminados, e podem durar entre três a 19 dias. Embora a maioria dos casos seja leve e resolva-se sem necessidade de tratamento, situações mais graves podem requerer cuidados médicos.
Além das bactérias, as cianobactérias, presentes sobretudo em águas de barragens e albufeiras, representam outro risco. Estas algas produzem toxinas que, quando ingeridas acidentalmente durante atividades recreativas, podem causar desde irritações cutâneas a problemas respiratórios e gastrointestinais. Embora as intoxicações por cianobactérias sejam menos comuns e pouco documentadas, os riscos associados à exposição prolongada a estas toxinas são reais e devem ser considerados.
O aumento das temperaturas e as alterações climáticas têm potencial para aumentar a proliferação de agentes patogénicos em águas de uso recreativo, tornando ainda mais crucial uma vigilância contínua e eficaz. Os recentes incidentes no Rio Sena e em várias praias portuguesas sublinham a importância de um controlo rigoroso e de uma comunicação clara e acessível à população. Garantir a segurança das águas balneares é, em última análise, proteger a saúde pública.
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