“Esta edição esteve dentro das expectativas e os objectivos foram plenamente atingidos”, disse ao POSTAL Carlos Gracias, presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA), depois de o IX Concurso de Vinhos do Algarve, que decorreu esta segunda-feira em Lagoa, ter reunido 81 vinhos em prova.
O concurso, organizado pela CVA, em parceria com a Câmara de Lagoa e a Associação dos Escanções de Portugal, premeia os melhores vinhos algarvios engarrafados, que aguardam a decisão do júri, que será divulgada esta terça-feira.
O POSTAL esteve presente numa tour, que contou com a presença de elementos do júri e especialistas na área da vinicultura, onde conheceu três quintas algarvias que têm contribuído para o desenvolvimento do vinho na região.
Quinta do Francês – De Bordéus a Silves
Situada nas colinas de Silves, no vale do rio Odelouca, a Quinta do Francês proporcionou-nos uma visita à sua adega, guiada por Fátima Santos, esposa de Patrick Agostini, o proprietário.
Patrick nasceu em França e veio para Portugal há 18 anos para ser médico de Anatomia Patológica, mas rapidamente se apaixonou pelo terreno xistoso do vale do rio Odelouca, ideal para produzir vinho de qualidade. Plantou as vinhas em 2002, com um sistema de irrigação, concluiu a construção da adega em 2008 e no ano seguinte colocou a sua marca no mercado.
Com oito hectares de vinha, e mais um de uva branca em desenvolvimento, a Quinta do Francês produz, por ano, 20 mil litros de vinho tinto, 10 mil de vinho branco e cinco mil de rosé. Fátima Santos admite aumentar a produção, mas diz ser algo que depende dos consumidores. “Os algarvios bebem pouco vinho do Algarve, porque é caro”, lamenta. O selo de certificação tem um custo mais elevado no Algarve em relação a outras zonas do país, o que dificulta, de certa forma, as vendas dos produtores desta região.
Actualmente, a Quinta do Francês recebe visitantes de várias partes da Europa, vende essencialmente no algarve mas faz exportação para países como Alemanha, Bélgica e Suíça. “O objectivo principal é vender em Portugal inteiro”, diz Fátima Santos.
Quando Patrick chegou àquelas colinas de Silves nada mais havia para além de laranjeiras. O único enólogo da Quinta introduziu a tradição do vinho na região, onde já pratica enoturismo.
Vinhos Cabrita – 40 toneladas de uva portuguesa
“Não inventamos. Nós fazemos o que o Algarve tem para nos dar”. Foi desta forma que Joana Maçanita, enóloga dos Vinhos Cabrita, apresentou o trabalho que José Manuel Cabrita tem desenvolvido na Quinta da Vinha, no Sítio da Vala, em Silves. “Este é um sítio ideal. Trinta graus no Verão, não chove muito, tem as condições ideais para a produção de vinho”, diz a enóloga.
José Manuel Cabrita iniciou este projecto em 2007, numa altura em que “o Algarve estava num ponto crítico porque estava muito desacreditado na área vitivinícola”. “Foi um grande desafio”, afirma Joana Maçanita.
Praticamente uma década depois do início do projecto, a Quinta da Vinha mais do que triplicou o tamanho da adega que já existia naquele local e tem no mercado, para além dos vinhos tinto, branco e rosé, um reserva tinto e um reserva branco de 2011.
Mais de seis hectares de vinha, apenas com castas portuguesas, em terrenos de argila e calcário, levam à produção de cerca de 40 mil quilos de uva por ano, onde cada casta é tratada de forma individual.
Vinte por cento da produção dos Vinhos Cabrita é para exportação e José Manuel Cabrita refere que “um dos objectivos é ganhar nome lá fora, porque o mercado internacional acaba por ser um cliente fiel”.
Adega do Cantor – Cem mil garrafas num ano
Mais a Este no território algarvio, fomos ao encontro da Adega do Cantor, na Guia, em Albufeira, onde já nos esperava o enólogo Ruben Pinto. Construída para produzir vinho de três Quintas – Quinta do Moinho, Quinta do Miradouro e Quinta do Vale do Sobreiro -, a Adega do Cantor vende cerca de 100 mil garrafas por ano e a sua novidade é um espumante branco. Habitualmente, a vindima começa logo no início de Agosto, tarefa na qual a uva é, nesta adega, toda apanhada à mão.
Cerca de 40% das vendas da Adega são no Algarve e cerca de 60% são para exportação, sendo Dinamarca e Inglaterra os destinos de eleição.
Os mais de 80 vinhos da região que concorreram no IX Concurso de Vinhos do Algarve, aguardam agora pelos resultados, que serão divulgados esta terça-feira. Os prémios para os vencedores serão entregues em cerimónia posterior, por ocasião da Fatacil 2016.