É um passo atrás no otimismo que desde outubro marcava a tendência em matéria de desemprego em Portugal. Apesar do recuo da recuperação económica, o desemprego registado – travado pelas medidas de incentivo à manutenção de emprego que o Governo disponibilizou às empresas – estava desde outubro de 2020 em queda. Dezembro inverteu a tendência de redução em cadeia do número de inscritos nos serviços públicos de emprego nacional, elevando o número de desempregados registados para 402.254, como sinalizam os dados divulgados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). São mais 3.967 (1%) indivíduos do que no mês anterior, mais 91.772 (29,6%) e mais 86.692 (27,5%) do que em fevereiro, último mês livre dos impactos da crise pandémica. Números que se distribuem transversalmente pelo território nacional.
A habitual análise da evolução do desemprego na era Covid nos vários concelhos do continente, realizada mensalmente pelo Expresso com base nos indicadores disponibilizados pelo IEFP, mostra que em termos geográficos o desemprego registado aumentou em todas as regiões do país, quer em cadeia quer em termos homólogos. Considerando a evolução geográfica dos indicadores desde fevereiro, a região do Algarve foi a mais fustigada pelos impactos da pandemia no mercado de trabalho.
No sul do país, o desemprego registado aumentou mais de 63% face a fevereiro de 2020. A região fechou o último ano com 31.313 desempregados registados, mais 12.125 do que tinha antes da pandemia.
A seguir na lista surge a região de Lisboa e Vale do Tejo, onde o desemprego registado se agravou em mais de 35% nos últimos dez meses atingindo em dezembro 125.213 desempregados inscritos nos centros de emprego da região. É um mapa mais sombrio do que em novembro aquele que nos pintam os indicadores do desemprego registado agora divulgados pelo IEFP.
VARIAÇÃO DO DESEMPREGO DURANTE A PANDEMIA
Nos últimos dez meses, a pandemia provocou uma acentuada subida do desemprego nacional que teve o seu maior aumento em abril, o primeiro mês completo de confinamento no país. Nessa altura, o número de desempregados registados nos centros de emprego nacionais aumentou em mais de 49 mil indivíduos em cadeia, ou seja face ao mês anterior, totalizando 392.323 desempregados. Logo no mês seguinte, em maio, acabaria por superar a fasquia dos 408 mil desempregados. A trajetória de subida do desemprego registado em Portugal só viria a ser interrompida em junho, quando o Governo decretou o desconfinamento da economia que se traduziu numa ligeira diminuição do número de inscritos nos centros de emprego para os 406.665 indivíduos. Um alívio que se revelou pouco duradouro. Julho chegou com um novo agravamento do desemprego e a subida só foi invertida em outubro. Durou dois meses o otimismo em torno do mercado de trabalho.
85% DOS CONCELHOS AGRAVARAM DESEMPREGO COM A PANDEMIA
Para a subida em cadeia do desemprego registado em dezembro terão contribuído “todos os grupos do ficheiro de desempregados, com destaque para as mulheres, adultos com idade igual ou superior a 25 anos, os inscritos há menos de um ano, os que procuravam novo emprego e os que possuem como habilitação escolar o secundário”, pode ler-se na nota explicativa que acompanha os indicadores do IEFP. 85% dos 278 concelhos do continente registavam no último mês de 2020 um nível de desemprego superior ao período pré-pandemia. Em cinco deles – Odivelas, Castro Verde, Loulé, Faro e Albufeira – o aumento do desemprego superou os 75%. Há, no entanto, 42 concelhos do país (15%) onde o número de inscritos nos centros de emprego locais se encontra abaixo do registado em níveis pré-covid.
DESEMPREGO REGISTADO POR CONCELHO
A análise ao perfil dos desempregados inscritos por grupo profissional demonstra que os trabalhadores não qualificados foram os mais sacrificados com o aumento do desemprego registado em dezembro. Este grupo registou uma subida de 25,1% em cadeia, ou seja, face a novembro. A seguir na lista estão os trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores (22,2%), o pessoal administrativo (11,4%), os especialistas das atividades intelectuais e científicas e os trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices, com aumentos de 10,4% e 10,3%, respetivamente.
No último mês de 2020, o número de novas inscrições registadas nos serviços públicos de emprego totalizou 44.030. A maioria dos novos inscritos (56,4%) indicou como motivo da inscrição o fim de um contrato de trabalho não permanente. 13,8% foram despedidos e 7,8% são ex-inativos. Os despedimentos por mútuo acordo representaram em dezembro 3,4% dos novos inscritos nos centros de emprego do continente.
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