O clima do medo parece ter vindo a pouco a pouco a instalar-se no seio das nossas recentes sociedades.
A Democracia instalou-se, politicamente, na generalidade dos países europeus, após longos anos da existência de ditaduras, sobretudo, no período entre as duas guerras mundiais, se bem que hoje ainda prevaleça alguns regimes autoritários em alguns países. A imperfeição é humana e transversal em qualquer sistema organizativo…
São muitas as expectativas constantes em promessas, feitas por quem pretende ter acesso ao poder instituído mas que depois de ser alcançado, grande parte das mesmas não são cumpridas.
Esta é, infelizmente, uma realidade já conhecida. Por isso, poderão surgir aproveitamentos que impulsionarão certas mudanças, ocorrendo na base de novas promessas e assim estas vão-se renovando, sucessivamente, no tempo.
Quem mais promete como potenciador de decisões, mais consegue obter apoios populares perante uma já conhecida “ignorância cultural e política”, no seio das sociedades organizadas, partindo do pressuposto da existência de quem nem sequer consiga reflectir, racionalmente, naquilo que lhes é prometido…
Por outro lado, a sociedade sempre foi composta por uma diversidade de ideias, de culturas de inteligências que se aglutinam em grupos diferentes organizados e que interagem, politicamente, ou de outra ordem qualquer…
Por todos estes motivos próprios da imperfeição humana, nada será estático mas sim dinâmico em transformação constante, no seio da sociedade. Contudo, há estruturas políticas mais duradouras do que outras no tempo histórico.
As mentalidades, essas custam mais a acompanhar as ditas mudanças, pois até chegam a sobrepor-se às mesmas. Quanto ao clima do medo os poderes instituídos, sobretudo, os de cariz político-administrativos têm assumido cada vez maior “controle” sobre os cidadãos, mesmo em democracia, dado as diversas competências que possuem.
O poder gira, acentuadamente, à volta de quem tem na mão a “chave da porta” de acesso por exemplo à justiça, aos deferimentos de pedidos efectuados, à segurança pessoal e colectiva, ao emprego, à habitação social, às Associações e organizações nacionais, regionais ou locais, aos clubes (subsidiados), aos licenciamentos de obras, licenças de horários de funcionamento de estabelecimentos diversos, à aplicação ou perdão de coimas, etc, etc. Por conseguinte, tais poderes mencionados desde o central ao local, têm vindo a pouco a pouco a aumentar os seus poderes decisórios e o cidadão tem vindo a ficar cada vez mais limitado na sua liberdade de acção criativa, crítica, participativa, de manifestação, de reivindicação, etc, etc com receio de susceptíveis retaliações pessoais, por desagrado.
Caminhamos para uma espécie de feudalização com o rei e os suseranos no topo da pirâmide e os vassalos e a respectiva criadagem na base dependente, cada vez com maior subserviência pelo medo instalado…
Daí afirmar que terá de haver maior equilíbrio nas decisões fundamentais determinadas pelos Representantes, sendo necessário para o efeito, os Representados possuirem maior Participação Democrática nas referidas decisões, por exemplo do tipo Semi-participativa.
Deste modo, evitar-se-ia o cavalgar cada vez mais acelerado e imbuído de interesses dúbios na corrida ao PODER (concentrado nos mesmos de sempre).
Assim não o sendo, o clima do medo será expectável, Infelizmente, na sociedade onde constata um nível de subserviência acima mencionado, ou de uma mudança radical, porventura que possa vir a ocorrer.