Um projeto científico inédito a nível europeu tem esta semana a sua 27.ª paragem no Algarve, num percurso que pretende desenhar um mapa dos ecossistemas costeiros da Europa e perceber o impacto humano nos oceanos.
A expedição TREC – “Traversing European Coastlines”, iniciada em abril de 2023 e com conclusão prevista para junho do próximo ano, percorre pela primeira vez a costa europeia, do mar Báltico ao mar Mediterrâneo, numa iniciativa liderada pelo Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL).
Em Portugal, a expedição já passou pelo Porto e está agora na zona sul do país, escolhida por ser a ‘fronteira’ entre oceano Atlântico e mar Mediterrâneo, explica aos jornalistas Kiley Seitz, microbiologista do solo norte-americana e investigadora no EMBL.
“É onde estamos a sair do [oceano] Atlântico e começamos a ir em direção ao [mar] Mediterrâneo. Estamos a tentar cobrir muitos gradientes diferentes e, como temos esta mudança aqui mesmo, vamos ter uma boa visão do impacto da água e da terra, de como é movida para dentro e para fora do oceano”, refere a investigadora.
Este projeto, inédito à escala europeia, com análises em mais de 120 locais de 46 zonas do continente, pretende estudar ecossistemas costeiros e como organismos respondem a fatores ambientais naturais e ao impacto humano em diferentes escalas.
A expedição TREC combina a recolha de amostras de solo, sedimentos, águas rasas e organismos, pelos cerca de uma dezena de investigadores presentes em cada paragem, em terra e no mar, onde é utilizado um barco laboratório com tecnologia própria.
A primeira fase do projeto encerra em novembro com a próxima paragem, em Cádis, na vizinha Espanha. A segunda fase decorre de fevereiro a agosto de 2024, percorrendo a costa mediterrânica e encerrando em Malta.
“Nunca houve um projeto como este. (…) É algo inédito e realmente esperamos que isto seja um ponto de partida para este tipo de coleta de dados em grande escala”, diz a cientista, durante uma visita guiada ao laboratório móvel, um de três veículos envolvidos na expedição, instalado temporariamente junto ao Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, um dos 70 parceiros locais envolvidos no projeto.
Neste laboratório móvel, que tem um forno para secar as amostras e um espaço de armazenamento, são apenas realizadas análises básicas, uma vez que todas as amostras são enviadas para a sede do EBML, em Heidelberg, na Alemanha, onde serão efetuados os testes mais completos.
Os cientistas recolhem ainda dados sobre poluentes, antibióticos e pesticidas, mas também a temperatura específica, salinidade, níveis de oxigénio e parâmetros geofísicos de cada uma das zonas em análise.
Entendendo como os organismos e ecossistemas se adaptam às mudanças ambientais no nível molecular e celular, as conclusões extraídas do projeto serão a base para o estudo das mudanças na costa e ecossistemas nos próximos anos.
“Queremos responder a questões importantes, como os impactos que os humanos estão a causar no meio ambiente. (…) Todos os nossos dados serão tornados públicos e esperamos poder começar a fazer perguntas muito maiores e a trabalhar com pessoas muito diferentes para definir onde ir a partir daqui”, assinala Kiley Seitz.
Obviamente, acrescenta, “o objetivo final seria ter biorremediação”, o processo de utilização de organismos vivos para reduzir ou remover contaminações no ecossistema, “mediando o impacto humano” na natureza.
Meta que “levará anos e anos”, reconhece. “A nossa esperança é que essa base esteja aqui, para que outros laboratórios possam começar a ajudar-nos, concentrando a nossa perspetiva em como podemos fazer isso melhor”.
A expedição TREC é dirigida pelo Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL), juntamente com a Fundação Tara Ocean, o Consórcio Tara OceanS e o Centro Europeu de Recursos Biológicos Marinhos (EMBRC).
No total, a iniciativa reúne mais de 150 equipas de investigação de mais de 70 instituições de 29 países europeus.
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