A camada de gelo da Gronelândia, que está a derreter rapidamente, irá acabar por elevar o nível global do mar em pelo menos 27 centímetros, mais do dobro do que anteriormente previsto, segundo um estudo publicado esta segunda-feira.
Este efeito pode ser causado pelo chamado ‘gelo zombie’, ou ‘gelo condenado’, que, embora ainda preso a áreas mais espessas de gelo, já não é ‘reabastecido’ por glaciares próximos que agora recebem menos neve.
Sem este ‘reabastecimento’, o ‘gelo condenado’ está a derreter com as alterações climáticas e inevitavelmente irá elevar o nível do mar, salientou William Colgan, especialista do Serviço Geológico da Dinamarca e da Gronelândia e coautor do estudo.
“É gelo morto. Vai derreter e desaparecer da camada de gelo. Este gelo será enviado para o oceano, independentemente do cenário climático que adotemos agora”, realçou Colgan em conferência de imprensa.
O autor principal do estudo, Jason Box, especialista em glaciares da Gronelândia, alertou que a situação é estar “com um pé para a cova”.
Os inevitáveis 27 centímetros apontados pelo estudo são mais do que o dobro do aumento do nível do mar que os cientistas esperavam com o degelo na Gronelândia. Contudo, a investigação, publicada na revista Nature Climate Change, aponta que pode chegar a 78 centímetros.
Por outro lado, o relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) do ano passado projetou um alcance de 06 a 13 centímetros para o provável aumento do nível do mar, pelo derretimento do gelo da Groenlândia, até o ano 2100.
Neste trabalho, os cientistas olharam para o gelo em risco. Em perfeito equilíbrio, a queda de neve nas montanhas da Gronelândia desce, recarrega e engrossa as laterais dos glaciares, equilibrando o que está a derreter.
Mas, nas últimas décadas, há menos ‘reabastecimento’ e mais degelo, o que cria um desequilíbrio.
Os autores do trabalho analisaram a proporção do que está a ser adicionado ao que está a ser perdido e calcularam que 3,3% do volume total de gelo da Gronelândia irá derreter, sem que importe o que aconteça no mundo com a redução da poluição por carbono, salientou Colgan.
Mais de 120 triliões de toneladas de gelo já estão fadadas a derreterem, devido à incapacidade do manto de gelo reabastecer as laterais.
“Esta é uma perda muito grande e terá um efeito prejudicial nas costas de todo o mundo”, destacou David Holland, da NYU, que regressou recentemente da Gronelândia, mas não faz parte da investigação.
Esta é a primeira vez que os cientistas calculam uma perda mínima de gelo – e o aumento do nível de mar que causa – para a Gronelândia, uma das duas enormes camadas de gelo do planeta.
As duas estão a diminuir lentamente devido às alterações climáticas decorrentes da queima de carvão, petróleo e gás natural.
O ‘timing’ é uma questão sem resposta no estudo. Os investigadores frisaram que não podem estimar o momento do degelo do ‘gelo condenado’, mas apontaram que será “dentro deste século”, embora não o assumam concretamente.