A Cannabis já é a primeira causa de pedidos de ajuda aos centros de tratamento de toxicodependência em Portugal, a seguir à heroína, revelou hoje o presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).
“A cannabis suplantou a heroína, em Portugal, nos pedidos de ajuda”, disse João Goulão aos jornalistas, no final da apresentação do relatório europeu sobre drogas 2014, acrescentando que tal se deve ao aumento da potência da resina (haxixe) importada.
Os dados disponíveis permitem também concluir que as emergências médicas relacionadas com a cannabis parecem ser um problema cada vez maior em alguns países com prevalência elevada, revela o relatório.
Os dados europeus
Entretanto o relatório europeu sobre drogas hoje divulgado refere que a cannabis vendida nas ruas é cada vez mais potente devido às inovações introduzidas na produção desta planta e as emergências médicas relacionadas com o seu consumo estão a aumentar.revela o relatório europeu sobre drogas, hoje divulgado.
As novidades observadas no mercado de cannabis na Europa são uma das principais preocupações apontadas este ano pela agência europeia de monitorização do fenómeno da droga (EMCDDA).
Especialistas alertam que as drogas actualmente consumidas na Europa são “mais prejudiciais para a saúde” do que eram no passado e que há indícios de que a potência da cannabis vendida nas ruas esteja a aumentar, devido a alterações introduzidas na sua produção.
Inovações no cultivo preocupam autoridades
“As inovações recentemente introduzidas na produção de cannabis são motivo de preocupação, dado que os produtores estão a cultivar plantas que têm simultaneamente um elevado teor de THC (o princípio activo da cannabis) e um baixo teor de CBD (uma substância anti-psicótica)”, aponta o relatório.
Embora a potência de ambas as formas de cannabis tenha vindo a aumentar desde 2006, no caso do haxixe “esses aumentos foram bastante acentuados entre 2011 e 2012”.
Reflexo disso será o facto de a cannabis ter sido, em 2012, a principal droga mais frequentemente referida pelos utentes que iniciaram pela primeira vez tratamento da toxicodependência.
Os especialistas alertam também para a ausência de um acompanhamento no domínio das emergências médicas relacionadas com o consumo de cannabis, considerando tratar-se de um “ângulo morto” na vigilância europeia “às ameaças emergentes para a saúde”.
Tanto assim é que “os poucos dados disponíveis permitem concluir que as emergências médicas relacionadas com a cannabis parecem ser um problema cada vez maior em alguns países com prevalência elevada”, sublinham.
Estas preocupações são maiores para os europeus que mantêm um consumo diário ou quase diário desta droga e que correspondem a cerca de 1% dos adultos entre os 15 e os 64 anos.
Estatísticas
De acordo com o relatório, cerca de 73,6 milhões de europeus consumiram cannabis em algum momento da sua vida, 18,1 milhões dos quais no último ano.
Aproximadamente 14,6 milhões de jovens entre os 15 e os 34 anos referem tê-la consumido no último ano.
Os especialistas indicam que, de uma forma global, o consumo de cannabis na Europa está a estabilizar ou até mesmo a diminuir, especialmente nas faixas etárias mais jovens.
No entanto, salvaguardam que em termos nacionais as tendências são mais divergentes, como mostra o facto de oito dos países que efectuaram novos inquéritos desde 2011 terem registado diminuições e os outros cinco referirem aumentos da prevalência do consumo no último ano (entre os 15 e os 34 anos).
(Agência LUSA)