Vários cidadãos britânicos contactados pela Lusa no aeroporto de Faro manifestaram-se descontentes com a decisão do Governo britânico, mas, devido a compromissos de trabalho foram obrigados a antecipar, alguns deles, em vários dias o regresso a Inglaterra.
“Não concordo com a decisão do meu país em colocar Portugal [exceção dos Açores e da Madeira] nos corredores aéreos de risco, não avaliando as regiões, como é o caso do Algarve, região onde me sinto em segurança”, disse à Lusa a britânica Carly Spencer.
A médica cirurgiã, residente no norte de Inglaterra, disse que a medida a “obrigou a antecipar em seis dias o voo de regresso a casa, que teve custos de cerca de 500 euros, para evitar a quarentena na chegada ao Reino Unido”.
“As férias terminam na próxima semana e não posso, por motivos profissionais, sujeitar-me a uma quarentena de duas semanas”, frisou.
Carly Spencer acrescentou que a situação em Portugal “pode suscitar preocupação em grandes cidades como Lisboa e Porto, mas o Algarve devia ser exceção para o Governo britânico”.
“Chegámos na segunda-feira passada ao Algarve, estivemos na zona de Silves, local onde me sentia segura em termos de possíveis contaminações, devido às condições de segurança que o hotel oferece”, sublinhou.
Para Carly Spencer, verifica-se que no Algarve “há uma grande preocupação com as medidas de segurança, sem bares abertos até de madrugada e com os estabelecimentos a obrigarem e sensibilizarem os clientes para a problemática da covid-19”.
“Trabalho com doentes covid em Inglaterra e apreciei as medidas que encontrei no Algarve, região onde espero voltar em breve”, destacou.
À semelhança de Carly Spencer, também Thomas Hurley antecipou o regresso ao Reino Unido para evitar ter de cumprir a quarentena imposta pelas autoridades britânicas a quem regresse de Portugal continental.
“Tinha voo para sábado à tarde, mas tive de antecipar o regresso a casa, perdendo um dia de férias nesta região maravilhosa que está a ser injustamente discriminada pelo meu Governo”, disse à Lusa o professor na zona de partidas do aeroporto de Faro.
“Não compreendo e custa-me aceitar que o Reino Unido não olhe de outra forma para outras regiões que não têm muitos casos de covid-19, como o Algarve, onde se vê pessoas conscientes do perigo da doença, coisa que não vejo, infelizmente, no meu país”, afirmou.
Na opinião de Thomas Hurley , o Governo britânico “devia olhar primeiro para dentro, impondo medidas mais firmes para evitar o tão grande número de contágios, como limitar mais a circulação dos seus cidadãos”.
“Sei que não são medidas populares, mas perante esta pandemia, que não se sabe como termina, as medidas teriam de ser tomadas dentro de portas”, sublinhou.
Elisabeth Crown é outra cidadã britânica que disse à Lusa ter sido “obrigada a antecipar o seu regresso” a Manchester, cidade onde vive e leciona a disciplina de História.
“Infelizmente, tenho de regressar dois dias mais cedo do que o que tinha previsto, porque tenho que voltar ao trabalho e uma quarentena de 14 dias não seria possível”, referiu aquela cidadã britânica.
Elisabeth Crown acrescentou que a situação lhe causou custos acrescidos “apenas com a remarcação do voo, em perto de 500 euros, um valor muito perto ao do despendido para uma estadia de seis dias” em casa de amigos no Algarve.
“Discordo da posição do Governo [britânico] em relação ao Algarve, local onde me sinto segura, com pessoas conscientes e informadas para esta trágica situação que o mundo enfrenta”, concluiu.
Por seu turno, alguns taxistas contactados pela Lusa, disseram que hoje se verificou “um aumento muito grande de passageiros britânicos que deixam Portugal, movimento que começou por volta das cinco horas da manhã”.
O presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, disse à Lusa que “há registo de muitos turistas a antecipar a saída das unidades hoteleiras e também um número significativo de cancelamentos de reservas”.
A Lusa contabilizou em cerca de 30 os voos agendados para hoje com saída de Faro e destino a Inglaterra, o que, para Elidérico Viegas, “é um número fora daquilo que é um dia normal”.
A agência Lusa questionou a ANA – Aeroportos de Portugal sobre o aumento dos voos previstos depois de ter sido conhecida a decisão do Governo britânico, mas não obteve resposta em tempo útil.