Portugal foi excluído do corredor turístico do Reino Unido, pela primeira vez, a 3 de julho. A decisão foi reforçada com a divulgação da lista britânica, já no dia 24 do mesmo mês. O principal fator para o afastamento do nosso país é a incidência relativamente elevada de casos de covid-19, principalmente na região da grande Lisboa.
O número de casos por 100 mil habitantes – fator também crucial na decisão – continua também a ser elevado, o que faz com que as viagens para Portugal não sejam aconselhadas.
O Algarve será uma das zonas mais afetadas pela decisão e prevê-se um espectro de desemprego. O mercado britânico tem uma dimensão representativa de três milhões de receitas em Portugal, principalmente na região algarvia, com um terço (cerca de seis milhões) dos turistas.
Os empresários algarvios tentam agora perceber como os fundos europeus serão aplicados no setor, que já começou a dar sinais de crise. O Governo hesita nas respostas e a solução pode chegar tarde demais para alguns. João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), conta em entrevista ao POSTAL que “têm sido meses bastante difíceis, como apontam os dados da procura ou do crescimento do desemprego”.
O condicionamento do Reino Unido e da Irlanda, sendo mercados importantes para Portugal e com “peso relativo” estão a ter “o seu impacto”, continua João Fernandes. As perspectivas podem inverter-se no “último quadrimestre [do ano], onde se espera que haja um indicador favorável de casos por 100 mil habitantes”. O presidente da RTA afirma que “analisando a segurança sanitária do país por outros indicadores, temos um retrato positivo. O indicador [dos casos covid-19 por 100 mil habitantes] não nos favorece”.
“O Algarve tem vindo a recuperar alguma procura nacional” – João Fernandes
João Fernandes fala ainda da região e do crescimento do mercado nacional: “O Algarve tem vindo a recuperar alguma procura nacional, espanhola e alguns mercados para os quais conseguimos reatar ligações áreas. Estamos ligados a três cidades europeias. Alguns desses mercados como França, Holanda e a Alemanha, estão a ter boas taxas de ocupações dos aviões”.
Os portugueses são responsáveis por 37% das dormidas em hotelaria (segundo os dados de 2019) e são “claramente um mercado expressivo em agosto”, afirma o presidente da RTA, salvaguardando que a situação do turismo vai demorar “algum tempo” até voltar ao “normal”, mas que estes são indicadores positivos.
O POSTAL questionou João Fernandes acerca da iniciativa de um grupo de empresários, que ofereceu uma t-shirt a Boris Johnson com a palavra “Algarve”, para alertar para as consequências do fecho do corredor turístico para o nosso país. O responsável pela RTA afirmou que “não vou comentar isso, independentemente da liberdade de cada um, não posso entrar nessa discussão enquanto representante do Turismo do Algarve”.
A ideia dos dois amigos surgiu depois de uma reunião de negócios, onde Filipe Pimenta, em conversa com alguns dos seus colegas da TXIRTE, chegou à conclusão de que seria ótimo mandar uma t-shirt a Boris Johnson. Imediatamente, após a ideia, o empresário pensou na criação de um vídeo e assim entrou Guilherme Costa.
A t-shirt já existe desde 2018 e o contacto com Boris Johnson não foi fácil. Filipe Pimenta pesquisou na internet como se mandam cartas a “personalidades” e, por sorte, encontrou um exemplo precisamente com o nome do primeiro-ministro britânico. Para além da prenda e do vídeo, enviaram uma mensagem que dizia, essencialmente: “Apesar de acharmos injusta a decisão, continuamos ‘amigos’”.
O objetivo era alertar o representante do Reino Unido para o fecho do corredor turístico, enquanto se fazia uma promoção à marca. Em uma semana, o desafio estava a ser colocado em prática. Contudo, os amigos não queriam “parecer arrogantes” ou dar a entender que a atitude era um “suplício”, o que foi para ambos o verdadeiro desafio.
A ideia inicial seria assim dar voz aos empresários, uma vez que as autoridades não atuaram em conformidade para reverter a situação com o Reino Unido, afirma Filipe Pimenta. O responsável pela TXIRTE afirma que “é um descontentamento com os nossos [portugueses] e com os ingleses, pela situação injusta”.
“O português é reativo, mas não é proativo” – Guilherme Costa
Na opinião de Guilherme Costa, o “português é reativo, mas não é proativo. Nesta questão vemos isso em termos da diplomacia. O Reino Unido representa uma grande fatia [no turismo], principalmente na região do Algarve”. Destaca o diretor de Marketing da ConforHoteis (Albufeira), que a situação é “problemática” e deve ser feita com delicadeza. Para ambos, o cenário pode ainda piorar.
“Como pequenos empresários, temos de o fazer. Se não o fizermos vamos estar à espera da ‘onda gigante’”, afirma Filipe Pimenta.
“Nós que dependemos do turismo, queríamos tê-los cá. Mas talvez já seja tarde demais”, defende o diretor de marketing. “As férias de muitas pessoas já estão marcadas e a perda vai mesmo acontecer”, conclui.
A t-shirt já foi entregue e os amigos esperam ver Boris Johnson com a palavra “Algarve” ao peito. Enquanto isso, no coração dos britânicos Portugal não será um destino a visitar em 2020. O turismo nacional parece ser a “solução” para uma parte dos problemas económicos do país.
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