Durante décadas, o conselho generalizado de que beber grandes quantidades de água pode curar ou atenuar os efeitos de uma ressaca tem sido partilhado como verdade incontestável. No entanto, um novo estudo vem abalar esta noção popular, sugerindo que a água pode não ser a panaceia que muitos esperavam.
De acordo com uma investigação conduzida por Marlou Mackus, farmacologista da Universidade de Utrecht, existe pouca evidência científica que suporte a ideia de que beber muita água após o consumo de álcool diminui significativamente os sintomas da ressaca. O estudo, que analisou dados de 13 investigações anteriores, procurou esclarecer a ligação entre a desidratação e a gravidade das ressacas.
Surpreendentemente, os investigadores não conseguiram encontrar uma relação direta entre desidratação e os desconfortos associados a uma ressaca. Este resultado põe em causa a crença comum de que a desidratação é o principal culpado e que o simples consumo de água alivia a situação. “A ressaca e a desidratação são duas consequências distintas do consumo de álcool que ocorrem em simultâneo, mas uma não causa a outra,” explicam os autores do estudo.
Embora seja sabido que o álcool é um diurético, levando à perda de líquidos através de um aumento da produção de urina, os investigadores sublinham que a desidratação não é responsável pelos aspetos mais dolorosos de uma ressaca. Ou seja, enquanto o álcool pode efetivamente desidratar o corpo, a reposição de líquidos, apesar de útil para aliviar a sede ou a boca seca, tem pouco impacto na redução de sintomas como a dor de cabeça, náuseas ou fadiga.
No estudo, os cientistas analisaram 826 estudantes, alguns dos quais consumiram água com o objetivo de aliviar a ressaca. O resultado? Embora beber água possa ter tido um efeito ligeiramente positivo, não foi suficiente para reduzir de forma significativa os sintomas mais debilitantes. Ou seja, a ideia de que basta hidratar-se para “curar” a ressaca não se confirma.
Para muitos, a sensação de sede intensa ao acordar depois de uma noite de excessos é vista como um sinal claro de desidratação severa. No entanto, os investigadores indicam que este sintoma é, na verdade, de curta duração e muito menos intenso do que os outros efeitos da ressaca, que tendem a prolongar-se por horas. Ou seja, a sede pode ser uma consequência imediata da perda de líquidos, mas os sintomas da ressaca têm outra origem.
“Os efeitos da desidratação são normalmente ligeiros e de curta duração”, observou a equipa de Mackus, acrescentando que a ressaca, por outro lado, pode persistir muito além da sensação de sede, o que sugere que outros mecanismos estão em jogo.
Embora a ciência tenha avançado no estudo das ressacas, a verdade é que ainda existem muitos aspetos por desvendar. Além da desidratação, outros fatores, como a acumulação de acetaldeído, uma substância tóxica que resulta do metabolismo do álcool, podem desempenhar um papel importante nos sintomas de ressaca.
Ainda assim, a noção de que beber água “cura” ressacas parece estar a ser finalmente desmistificada. Os dados sugerem que, se o objetivo é evitar os efeitos no dia seguinte, a melhor abordagem continua a ser a moderação no consumo de álcool, e não confiar em remédios caseiros cuja eficácia é, na melhor das hipóteses, limitada.
Embora beber água durante ou após o consumo de álcool possa ter alguns benefícios, nomeadamente na reposição de fluidos perdidos, é cada vez mais claro que a desidratação não é o único fator responsável pela ressaca, e a água, por si só, não oferece um alívio substancial. A prevenção continua a ser o melhor caminho, e os mitos populares podem precisar de uma revisão à luz das novas descobertas científicas.
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