Não há como enganar. Enquanto caminha ao longo da Ponte Pedro e Inês, em Coimbra, Linda Brites é facilmente reconhecível pelos cães que traz consigo. O Parque Verde do Mondego é um dos pontos onde costuma passear com os animais, numa história que começou quando se apercebeu de que não se “sentia realizada profissionalmente”.
Linda trabalhava como empregada de limpeza e reposição quando conheceu o cão, “particularmente agressivo”, de uma senhora para quem a mãe trabalhava. Foi o primeiro caso de sucesso da treinadora, ainda sem experiência, que percebeu a “necessidade” de existir este tipo de serviços. Seguiu-se um curso em Lisboa e, em 2012, o regresso a Coimbra, para iniciar a atividade profissional que foi pioneira na cidade.
Nos últimos anos o crescimento foi grande e atualmente Linda Brites lida com “mais de 100 cães” e anda habitualmente com “cerca de 22 por dia”, que divide em dois passeios diários, para depois voltar a deixar os cães com os donos. “Tudo tem que ser muito bem planeado”, conta, até porque uma das críticas que deixa é que as cidades “não estão preparadas” para a circulação dos animais. “Os passeios são mínimos e as fontes de água são inexistentes”, por exemplo. “Só com um cão já é difícil”, atira.
O convívio entre cães é visto pela treinadora como uma das maiores vantagens do serviço que providencia, uma vez que os animais aprendem a lidar com “diferentes sons, diferentes ambientes e diferentes situações do quotidiano” em conjunto, o que os torna mais confiantes junto de outros cães. “É importante para a saúde mental deles”, até porque “aprendem mais com a espécie deles do que com os humanos”.
De acordo com o Sistema de Informação de Animais de Companhia, há 2.339.558 cães e 367.774 gatos registados. A pandemia representou um aumento de 78% na adoção de gatos e 15% na adoção de cães em 2020, com a subida a estimular a procura de serviços de cuidados dos animais, mas também a ter efeitos perniciosos.
Estima-se que 30 mil sejam abandonados por ano e, segundo a presidente da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal, Maria do Céu Sampaio, se “no pico da covid-19 foram adotados mais animais”, muitos começam agora “a ser devolvidos”, o que é “indicativo de que se adota ainda sem consciência e de acordo com o interesse pessoal do próprio, e não do animal”. Na opinião desta responsável, é importante “que os animais sejam integrados na própria comunidade, criando-se para isso as infraestruturas necessárias”.
Mesmo com algumas mudanças recentes em termos de medidas públicas e consciencialização, Maria do Céu Sampaio não tem dúvidas de que se não fossem as associações de defesa dos animais “seríamos um país do terceiro mundo no que concerne à problemática animal. Estes estariam completamente desprotegidos e ao abandono, e seriam abatidos aos milhares”, garante.
POUCA OPORTUNIDADE
Para Sofia Arroube, dona de um espaço em Évora que funciona como hotel, clínica e creche, “notou-se o agravamento do problema de ansiedade dos cães” durante a pandemia. “Os cães têm muito pouca oportunidade de serem cães”, de terem “uma fase de socialização”, o que resulta em problemas comportamentais. “A maioria é tão humanizada que quando é separada de um dono fica bastante ansiosa.” Por isso a necessidade de os municípios criarem “parques caninos”, que “ainda são manifestamente poucos”. Dona de dois gatos e de uma cadela, a radialista Ana Galvão destaca o papel dos animais domésticos no ensino do que é “cuidar do outro”. Quando a avó ficou viúva, “o gato salvou-a”, revela. Mas faltam soluções.
Os animais“ precisam de contacto com a terra, o cimento não é bom”, aponta e, entre outras ideias, fala de “mais transportes para animais” ou de facilitar o acesso a “consultas veterinárias municipais gratuitas”. Só depende de nós “entender e aceitar os animais como seres iguais”.
O QUE É O BAIRRO FELIZ
O projeto
Programa Objetivo: incentivar a mobilização de vizinhos e comunidades para apresentarem ideias que tornem o seu bairro mais feliz. Enquadrado na política de responsabilidade social do Pingo Doce, pretende fortalecer vínculos e relações mais próximas entre moradores dos bairros através de causas comuns
O prémio
Votação As inscrições encerraram a 1 de julho. Agora, serão os membros das comunidades a eleger uma ideia por loja, que será apoiada com um valor até €1000. A votação nas lojas decorre entre 28 de setembro e 2 de novembro. A 3 de novembro serão apresentadas as causas vencedoras
500 ideias
Recorde Esta 3ª edição — a primeira nacional — teve mais de duas mil inscrições. Mobilizou perto de 1500 instituições por todo o país. Mais de 500 grupos de vizinhos uniram-se para apresentarem ideias, o que representa cerca de 2500 pessoas. Acompanhe o projeto e saiba tudo no portal do programa Bairro Feliz.
Notícia exclusiva do parceiro do jornal Postal do Algarve: Expresso