O Algarve recebe muito menos do que dá ao país
O Algarve continua a ser o patinho feio do Estado Central e apesar da crise instalada ainda não há plano de emergência. Nesta entrevista, o líder regional do PSD, David Santos, não poupa nas palavras e afirma que os setores mais atingidos pela pandemia não têm ainda qualquer verba para a sua recuperação. E quanto a promessas mil vezes adiadas como o hospital central, a requalificação da 125 e a ligação ao aeroporto, garante que não estão contemplados no plano de investimentos do Estado.
P – Quais são as perspetivas eleitorais do PSD para as autárquicas deste ano?
R – O PSD, em todas as eleições concorre sempre para ganhar. Somos um partido com tradição nas eleições autárquicas, e o que pretendemos é eleger mais presidentes de câmara, mais vereadores, mais membros das assembleias municipais, mais presidentes de juntas de freguesia e mais membros das assembleias de freguesia.
P – O caso de Vila Real de Santo António pode penalizar a candidatura de Luís Gomes e do PSD localmente, ou entende que não terá qualquer influência?
R – A ex-presidente Conceição Cabrita, em janeiro deste ano, informou-nos que não seria recandidata, invocando principalmente razões de ordem pessoal. Na sequência dessa decisão, a Comissão Política de Secção do PSD de Vila Real de Santo António propôs à Comissão Política Distrital o nome do engenheiro Luís Gomes, que foi aprovado e posteriormente ratificado pela Comissão Política Nacional do PSD.
Fomos agora surpreendidos com este processo judicial que nos abalou, por nos parecer inusitado, e por todo o passado da Conceição Cabrita, na política, profissionalmente e também na sua vida pessoal. Acreditamos que tudo se resolverá, de modo célere e com o apuramento da verdade, em consonância com o passado da Conceição Cabrita.
Ninguém compreende que o Governo tenha dito (…) que sem um plano de emergência não seria possível garantir a sobrevivência das empresas e do emprego, e passados 9 meses, ainda não temos plano
P – Outro caso que agitou o seu partido foi o que se passou em Portimão, com avanços e recuos na escolha do candidato à câmara. Como acompanhou e viu este processo?
R – Caso que não foi caso, pois não foi a primeira, nem será a última vez, que uma Comissão Política de Secção do PSD, na procura do melhor candidato, faz contactos, pondera os prós e os contras, antes de fazer uma proposta à Comissão Política Distrital, de um candidato a presidente de Câmara. O único candidato que foi objeto de apreciação e votação pela Comissão Política Distrital do PSD/Algarve, por proposta da Comissão Política de Secção do PSD/Portimão foi o doutor Rui André. Autarca experiente, que ganhou as eleições em Monchique em 2009, 2013 e 2017, onde tem realizado um excelente trabalho, recuperando financeiramente a câmara.
P – Albufeira pode ser uma câmara problemática para o PSD tendo em conta a candidatura de Desidério Silva?
R – O povo sabe muito bem o que quer. Em Albufeira, o nosso candidato e atual presidente de Câmara, José Carlos Rolo, tem um passado na autarquia, de muito trabalho, seriedade, transparência, nunca abandonando quem o elegeu, colocando sempre o interesse coletivo à frente do pessoal, servindo e defendendo, com denodo, os albufeirenses.
P – Tavira é uma praça onde o PSD aposta forte com o regresso de Macário Correia, agora como candidato à assembleia municipal. É para ganhar?
R – Todas as nossas candidaturas são para ganhar. Agora louvo e agradeço o facto do engenheiro Macário Correia, mais uma vez ter dito presente, fazendo parte de uma equipa, de gente competente, com ideias novas, profundamente conhecedora do concelho de Tavira e das suas gentes, tendo como candidato a presidente da Câmara Municipal de Tavira, o doutor Dinis Faísca, que se candidatam com o objetivo de servir os Tavirenses, ajudando os que mais precisam, ouvindo as pessoas.
P – Em que medida, partidos como o Chega e a Iniciativa Liberal podem dispersar o voto entre o eleitorado do centro-direita e comprometer as aspirações do PSD no distrito? Preocupa-o?
R – Os portugueses têm sabido ao longo dos vários atos eleitorais, nas eleições autárquicas, fazer as suas escolhas em função dos candidatos que cada partido apresenta. Sabem muito bem diferenciar os atos eleitorais e sabem que nas autárquicas em primeiro lugar estão os candidatos e só depois as ideologias políticas (ditas de direita ou esquerda).
A proposta (emergência) do PSD, que continha 23 medidas, o PS não viu mérito em qualquer delas, votando todas contra
P – O país confronta-se há mais de um ano com uma crise sanitária com reflexos na vida económica e social. Em regiões como o Algarve com uma economia dependente dos fluxos turísticos, a situação ganhou dimensões na vida das empresas e das pessoas onde o desemprego é crescente. Que análise faz das respostas do governo a esta situação?
R – Após repetidas interpelações dos deputados do PSD, Cristóvão Norte, Rui Cristina e Ofélia Ramos, os algarvios, no dia 8 de julho de 2020, ouviram o ministro da Economia anunciar que a região beneficiaria de um plano de emergência específico para combater a grave crise económica e social, que estamos a enfrentar. No dia 21 de julho de 2020, à saída de uma cimeira europeia, o primeiro-ministro prometia um pacote especial de 300 milhões de euros para ajudar a região a conter as suas perdas. Relembro que o Presidente da República afirmou que o plano específico para o Algarve era um desígnio nacional.
Ninguém compreende que o Governo tenha dito – aliás como o PSD Algarve – que sem um plano de emergência não seria possível garantir a sobrevivência das empresas e do emprego, pois a crise faz-se sentir de modo tão violento na região que não haveria condições de vencer a crise, e passados 9 meses, ainda não temos plano, continuando a situação no Algarve, em termos económicos e sociais a piorar.
A Assembleia da República, por proposta do PSD e do BE, aprovou resoluções, que continham medidas, que instavam o Governo a tratar do assunto de forma urgente. Na proposta do PSD, apresentada pelos deputados Cristóvão Norte, Rui Cristina e Ofélia Ramos, que continha 23 medidas, o PS não viu mérito em qualquer delas, votando todas contra.
Vamos continuar empenhados para que o Algarve tenha o que é devido e mantendo a esperança e exigência que o Governo apresente o plano específico para o Algarve. Apesar de estarmos na oposição, fomos capazes de ver aprovada uma proposta dos nossos deputados do Algarve, pela qual o deputado Cristóvão Norte se tem empenhado ao longo dos anos, para que se reduzam as portagens na Via do Infante, em toda a sua extensão, de 50%, com voto contra, uma vez mais, do PS, o qual curiosamente sustentava essa posição nas duas últimas campanhas eleitorais. Vai entrar em vigor a 1 de julho e vai ajudar muitos algarvios em particular empresários e trabalhadores.
A proposta (emergência) do PSD, que continha 23 medidas, o PS não viu mérito em qualquer delas, votando todas contra
P – Que Algarve vamos ter depois da pandemia?
R – A crise internacional, que levará tempo a ser vencida, em consequência da falta de confiança das pessoas e da sua reduzida capacidade financeira, levará a que os turistas demorem ainda tempo a procurar a nossa região, para passar férias. As companhias aéreas, quase que não operam e ainda não sabem como irá ser o futuro, a que acrescem as restrições que os mercados/países têm colocado, no movimento entre países. A eventual procura interna também demorará a fazer-se sentir.
O futuro será um Algarve, em crise, com uma recuperação muito lenta. Temos uma dificuldade acrescida, fomos uma das regiões da Europa mais fortemente atingidas em razão da nossa especialização setorial. Por isso, as empresas do Algarve estão em pior situação que a média do país, por isso recuperar também é mais difícil, mas possível se bem feito. Mas não nos podemos resignar, temos naturalmente que apostar na diversificação da economia do Algarve.
Assim, teremos que apostar no mar, energias renováveis, ciências da saúde e da vida, agro alimentar e TIC, mas naturalmente continuar a apostar no turismo.
Temos que provocar/forçar a variedade relacionada, onde o Turismo será a âncora para os setores acima referidos, promovendo projetos que fomentem as relações/parcerias entre os diversos setores, o que aumentará resiliência a choques exteriores, tal como o desta pandemia.
Os fundos comunitários terão que ser procurados e aplicados neste desígnio. Devemos procurar mais apoios comunitários, fora dos fundos comunitários regionalizados. Como exemplos, para as empresas, COSME, na investigação/inovação, Horizonte 2020, e para a comunidade académica, Erasmus +. Não podemos continuar a ser uma região que recebe muito menos do que contribui, para as contas públicas do País.
Dos 13,9 mil milhões de euros previstos com execução até 2026, o Algarve beneficiará diretamente de uma fatia de 1,7%, muito aquém dos perto de 5% da população e da economia que detém
P – Na sua opinião pensa que o Algarve não tem recebido os apoios que o seu peso económico representa para o país? O PRR é o programa que o Algarve precisa?
R – Eu ouvi os deputados do PSD, eleitos pelo Algarve, em particular o deputado Cristóvão Norte questionar o ministro do Planeamento várias vezes sobre o PRR, a dizer “que se não há apoios fortes de curto prazo, se no PRR as verbas escasseiam para a região, e se esta é a região mais afetada pela crise, como é que se vai operar a reviravolta e se constrói uma economia mais diversificada?”. E ainda não ouvimos resposta. Dos 13,9 mil milhões de euros previstos com execução até 2026, o Algarve beneficiará diretamente de uma fatia de 1,7%, perto de 250 milhões de euros, muito aquém dos perto de 5% da população e da economia que detém.
Investimentos decisivos para a região, não estão contemplados: o Hospital Central do Algarve, a requalificação da EN-125, a ligação ferroviária ao aeroporto e a Espanha, o Porto de Portimão, apenas para citar algumas. Os setores mais atingidos pela crise: turismo, restauração e comércio não têm qualquer verba prevista para a sua recuperação.
É positiva a previsão de verbas para a eficiência hídrica da região, de modo a estruturar uma resposta para as alterações climáticas; não vislumbramos, qualquer visão de mudança para a região, alicerçada na diversificação de atividades económicas. O documento não contempla medidas para atrair investimento em setores mais atrofiados, como o mar, a biotecnologia…
O Algarve precisa de uma grande mudança
P – Em termos estratégicos o que falta para resolver os problemas estruturais do Algarve?
R – O Algarve precisa de uma grande mudança, para não voltarmos a passar pelo que estamos a passar, a região precisa de ser mais resiliente e menos dependente do Turismo, o que não quer dizer menos Turismo, mas sim mais nos setores que já referi.
O futuro exige responsabilidade acrescida por parte dos atores regionais, com vista à valorização dos ativos estratégicos, dos recursos endógenos e das competências instaladas e que devem ser colocadas ao serviço da recuperação e afirmação do Algarve.
Falta uma efetiva participação e empenho de todos. Não podemos participar só nas eleições, devemos participar, enquanto cidadãos nas consultas públicas, quando estes documentos (estratégicos regionais) estão em período de discussão pública. Os autarcas, empresários, a Academia, o setor social, as associações culturais e desportivas e os jovens, do Algarve, devem participar na definição dessa estratégia, mas também acompanhar a sua execução e monitorização. O futuro depende de todos nós.