Em dia de autárquicas, os negacionistas às vacinas e máscaras convocaram um protesto e umas ‘eleições’ alternativas no Marquês de Pombal, em Lisboa.
A manifestação está a ser convocada, como tem sido hábito nos últimos meses, nas redes sociais. E vai ser seguida com muita atenção pelas polícias e serviços de informações. Isto porque nas últimas semanas, o grupo de negacionistas tem subido o tom e a agressividade nos seus protestos. “Vai haver um forte dispositivo policial”, confidencia fonte da PSP.
Em meados de agosto, gritaram impropérios e deram empurrões ao vice-almirante Gouveia e Melo, coordenador da task force da vacinação contra a covid-19, junto a um centro de vacinação na Azambuja. Depois foi a vez dos insultos do juiz Rui Fonseca e Castro aos agentes da PSP que faziam o cordão de segurança à porta do Conselho Superior da Magistratura, onde o magistrado suspenso de funções ia ser ouvido. Há duas semanas, o alvo foi Eduardo Ferro Rodrigues, enquanto o presidente da Assembleia da República almoçava num restaurante junto ao Parlamento, onde decorria uma manifestação do movimento.
Desta vez, publicaram um cartaz onde anunciam umas “eleições paralelas” entre “a Constituição ou a Ditadura” e oferecem um caldo verde a cada um dos manifestantes/votantes.
O suposto boletim de voto é uma folha A4 em que cada um pode escolher entre a “Lista A – Constituição da República Portuguesa” e a “Lista B – Ditadura Parlamentar”. Depois, segundo as organizadoras do evento, a contagem dos votos será realizada no Terreiro do Paço, após um desfile, e o resultado enviado aos deputados da Assembleia da República.
Um dos organizadores diz tratar-se de uma “eleição satírica” que “visa alertar contra a suposta revisão constitucional proposta pelo PSD e para os perigos que esta trás ao estado de direito em Portugal”.
O Expresso sabe que também vão apelar à abstenção nas eleições autárquicas e levarem a cabo protestos de caráter local.
De acordo com fontes próximas da investigação ao universo dos negacionistas, o cenário de boicote às eleições autárquicas é considerado muito baixo. No entanto, há elementos do grupo de anti-vacinas a incentivar à ida às urnas sem máscara e a protestar caso sejam obrigados a usar o equipamento de proteção pessoal contra a covid-19. “Filmem as tentativas de inconstitucionais de vos impedir de votar. À mínima recusa de entrada devemos chamar a polícia e exigir a prisão de toda a mesa de voto por fraude eleitoral”, apela um dos militantes negacionistas.
As polícias e serviços de segurança não colocam de parte a tentativa de encerramento de mesas de voto.
Tal como o Expresso avançou esta semana, as polícias estão a ponderar um reforço da segurança pessoal a alguns políticos, entre eles ministros, por causa dos episódios mais agressivos contra Gouveia e Melo e Eduardo Ferro Rodrigues.
A RECRUTAR PELO PAÍS
Nas redes sociais, a líder informal dos negacionistas, Ana Desirat, já está a planear protestos um pouco por todo o país, a serem realizados após as eleições autárquicas. “Vamos conhecer todas as formas de fiscalizar o trabalho que os autarcas fazem e como gastam o nosso dinheiro. Recrutem pessoas nas vossas terras e falem connosco. Iremos a qualquer cidade, ou vila de Portugal levar informação.”
Notícia exclusiva do parceiro do jornal Postal do Algarve: Expresso
Como lidar com um negacionista? Falar
O grupo de negacionistas das vacinas e das máscaras deixou de ser apenas ruidoso nas redes sociais, tornando-se neste verão mais agressivo nas ações de rua, sobretudo nos ataques verbais ao vice-almirante Gouveia e Melo, o coordenador da task force da vacinação, ou ao presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues.
Neste momento, estes teóricos da conspiração estão debaixo de olho dos serviços de informações e das polícias, que reforçaram a segurança pessoal de alguns políticos depois destes últimos incidentes.
Há um muro de desconfiança entre este grupo e o resto da sociedade que à partida parece intransponível. Mas ao Expresso um conjunto de especialistas revela algumas formas de tornar possível a ponte entre estes dois universos.
“A pior estratégia para lidar com estas pessoas é tratá-las como inimigos, como ignorantes ou, em geral, como ‘os outros’”, defende Rui Costa Lopes, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
O mesmo é dizer que o caminho a seguir é “tentar engajar estas pessoas com alguma abertura e com genuína vontade de diálogo, por mais difícil que pareça”.