O presidente da Câmara de Faro mostrou-se hoje “surpreso” com a decisão da Autoridade de Saúde do Algarve em fechar as escolas do 1.º e 2. ciclos do concelho e de mais quatros municípios.
“Foi com surpresa que ontem [domingo], quando estava a ver o jogo, fiquei a saber desta situação, ninguém nos consultou sequer sobre isso, ainda por cima em cima da hora, muitos pais não sabiam o que fazer aos filhos e que condições é que tinham para justificar as faltas”, disse o autarca.
O encerramento do ensino presencial dos 1.º e 2.º ciclos vai afetar no concelho “à volta de 5.000 alunos”, estimou o presidente da Câmara de Faro, antecipando uma provável travagem e retrocesso no desconfinamento “com alguma redução de horários” no comércio do concelho, por exemplo.
A decisão da passagem ao ensino não presencial, até ao final do ano letivo, nos dois ciclos de ensino em Faro, Loulé, Albufeira, Olhão e São Brás de Alportel foi anunciada no domingo ao final da tarde e justificada pelas autoridades de Saúde com a “gravidade da situação” epidemiológica.
Rogério Bacalhau lamentou que a autarquia não tenha sido ouvida e que a decisão tenha deixado “muitos pais” sem saber o que fazer aos filhos, mas advertiu os munícipes de que “é preciso acatar” as medidas impostas pelas autoridades de saúde regionais.
A decisão foi tomada numa altura em que mais de 1.300 alunos estão em isolamento profilático, havendo 78 casos de infeção entre alunos por covid-19 nas escolas dos cinco concelhos abrangidos pelo encerramento do ensino presencial, segundo a delegada de saúde do Algarve.
“Provavelmente, [as autoridades de saúde] teriam outros indicadores que nós não temos, porque eu não estava à espera disso, mas agora é preciso fazer um apelo e sensibilizar as pessoas para que cumpram as normas”, referiu o autarca.
O governante alertou ainda para a necessidade de intensificar a vigilância “para que não haja abusos, porque tem havido muitas festas privadas e particulares, que dão origem depois à disseminação do vírus e ao aumento da pandemia”.
Rogério Bacalhau apontou a “faixa dos 20 a 30 anos” como aquela em que “aparecem mais pessoas infetadas” e muitos destes casos “têm a ver com festas”.
Além de uma fiscalização mais apertada, é preciso, também, “coordenar a vacinação para aumentar o número de pessoas imunizadas”, porque o Algarve “é a zona que menos taxa de vacinação tem” e onde “é preciso aumentar a taxa de vacinação rapidamente”.
“O número de pessoas vacinadas é manifestamente pequeno, é preciso aumentar isso, porque os recursos existem, pelo que dizem também há vacinas, portanto é uma questão de convocar as pessoas e levá-las a ser vacinadas”, argumentou.
No comunicado divulgado no domingo ao final da tarde, a Autoridade de Saúde Regional do Algarve explicou que a decisão teve como base “o princípio da precaução”, devido à existência de “816 casos confirmados ativos de covid-19” na região.
“Esta medida, decidida pela gravidade da situação, de modo a conter cadeias de transmissão, por um período previsível de 12 dias iniciado na segunda-feira, dia 28 de junho, coincidindo com o final do ano letivo, será monitorizada permanentemente e revista no dia 09 de julho, com análise da situação epidemiológica dos municípios nessa data”, pode ler-se na nota.
A autoridade de saúde solicita ainda à comunidade educativa das escolas que contactem a linha SNS24 “caso surjam sinais ou sintomas” de covid-19.
A região do Algarve é a que apresenta o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 mais elevado no país, com 1,3, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) na sexta-feira.
Na quinta-feira, o Governo alertou que na próxima semana, se a situação epidemiológica se mantiver, “mais 16 concelhos” estarão no nível de risco muito elevado de incidência de covid-19, situação em que se encontram agora Albufeira, Lisboa e Sesimbra.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 3.919.801 de vítimas em todo o mundo, resultantes de 180.725.470 casos de infeção diagnosticados oficialmente, segundo o balanço feito pela agência francesa AFP.