Dois dos quatro jovens acusados por agressão a um imigrante nepalês eram os principais instigadores dos atos cometidos em grupo, relatou esta sexta-feira uma testemunha no julgamento que decorre no Tribunal de Faro.
Os quatro arguidos, que na altura da agressão, no final de janeiro de 2023, tinham 16 anos, estão indiciados pelos crimes de roubo, de ofensa à integridade física qualificada e de dano com violência. Dois estão em prisão preventiva.
Na terceira sessão do julgamento, uma amiga dos arguidos confirmou uma série de agressões cometidas em janeiro de 2023, afirmando que os membros do grupo procuravam de forma aleatória, pelas ruas de Olhão, homens “mais frágeis” sobre quem podiam exercer força.
Os seus alvos eram, sobretudo, imigrantes das comunidades indiana e nepalesa, tendo sido também registado um episódio de violência contra um sem-abrigo e um roubo a um adolescente.
A jovem, que fugia “com medo” quando os ataques se agravavam, confirmou em tribunal que os dois arguidos, atualmente em prisão preventiva, eram os principais instigadores.
Estes dois jovens “mandavam”, influenciavam os outros e pediam para ser filmados a agredir, imagens que eram depois partilhadas num grupo fechado na rede social Instagram e comentadas “em tom de gozo”, referiu a testemunha.
Na altura, foram identificados 11 jovens, entre os 14 e os 16 anos, por participarem ou presenciarem os atos, sendo que os três que acabaram detidos eram os mais ativos e violentos do grupo, de acordo com a PSP.
Admitindo que o que os suspeitos faziam “não era bom”, a jovem disse que continuava a encontrar-se com eles porque, “querendo ou não”, eram seus amigos, embora o relacionamento tenha terminado desde que o caso veio a público, quando um vídeo da agressão ao imigrante nepalês foi divulgado nas redes sociais.
Também ouvido na terceira sessão do julgamento, o comandante da PSP de Olhão, que coordenou a investigação, relatou que depois de vários testemunhos e da visualização de imagens de videovigilância, foi possível identificar “um conjunto de situações que envolviam sempre as mesmas pessoas”.
De acordo com Alberto Santos, as autoridades conseguiram identificar os membros do grupo “quer pela indumentária, quer pela forma como agrediam as pessoas”, tendo-se depois centrado em três dos elementos, que participaram em várias agressões.
Na altura, a PSP referiu que as agressões e os roubos eram cometidos “com aproveitamento da força do coletivo, alicerçados numa extrema violência gratuita e espontânea, especialmente por parte dos três jovens com maior ascendência no grupo”.
Para identificar o grupo, a PSP ouviu várias testemunhas e visualizou mais de 20.000 vídeos, bem como centenas de horas de imagens recolhidas pelas câmaras do circuito de videovigilância instaladas na cidade de Olhão.
Os jovens comunicavam entre si através de um grupo fechado no Instagram – a que atribuíram o nome de 8700, que corresponde ao código postal de Olhão -, e que era onde combinavam as agressões.
A agressão cometida contra o imigrante nepalês em Olhão ocorreu em 25 de janeiro, tendo o grupo roubado a mochila da vítima, que não apresentou queixa.
No vídeo, o cidadão nepalês suplicou para que parassem de o agredir e lhe devolvessem pelo menos os seus documentos.
O julgamento prossegue na próxima terça-feira no Tribunal de Faro.
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