Uma viagem em família num bairro central de Londres, em julho de 2020, acabou com o atleta português Ricardo dos Santos e a sua companheira, a velocista britânica Bianca Williams, retirados à força do seu carro e algemados, com o filho de ambos, então com três meses, no banco de trás da viatura.
O caso, que levou o casal a acusar as autoridades de racismo, teve grande repercussão em Inglaterra, depois do treinador de ambos, o campeão olímpico dos 100 m em Barcelona 92, Linford Christie, o denunciar nas redes sociais. As autoridades abriram então uma investigação independente e praticamente dois anos depois a Polícia Metropolitana de Londres anunciou que os cinco agentes envolvidos serão ouvidos por “conduta imprópria grave”.
Na altura, o atleta português, várias vezes campeão nacional e recordista dos 400 m, além de olímpico em Tóquio 2020, explicou que foi mandado parar pela polícia, que o acusou depois de cheirar a cannabis. Ricardo e Bianca Williams estiveram 45 minutos algemados enquanto a polícia fazia uma busca ao carro por armas e drogas, mas nada de suspeito foi encontrado. Williams disse então ao “Times” que serem mandados parar pela polícia era algo regular desde que tinham adquirido um carro de uma marca de gama alta.
“É sempre o mesmo com o Ricardo. Pensam que ele está a conduzir um carro roubado ou que esteve a fumar cannabis. É uma questão de raça. A forma como eles falam com o Ricardo, como se ele fosse escumalha, lixo, é chocante”, explicou a atleta britânica, especialista em estafetas e campeã da Europa em 2018.
Na altura, as autoridades recusaram qualquer tipo de má conduta dos agentes que procederam à detenção dos atletas e justificaram a operação por o português, atleta do Benfica, estar “a conduzir de maneira suspeita”. Mas mais tarde voltaram atrás e abriram uma investigação, pedindo desculpa aos velocistas. O presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan admitiu então ter ficado “perturbado” com o incidente, criticando abertamente a liderança da Polícia Metropolitana de Londres.
Através dos advogados do casal, Williams disse “dar as boas-vindas à decisão” do Departamento Independente para a Conduta Policial, que lida com queixas contra as autoridades policiais em Inglaterra e no País de Gales. O organismo analisou as razões para o carro ser parado, se as autoridades usaram força desproporcionada e se o casal foi tratado de forma diferente por causa da raça. E decidiu que era necessário ouvir os polícias envolvidos. “Espero que esta decisão abra as portas para que a polícia metropolitana comece a ser mais honesta e reflita sobre a cultura de racismo que ainda é, sem sombra de dúvidas, uma realidade na organização”, disse a velocista.
Um painel disciplinar vai agora ouvir os agentes e decidir depois se há provas que sustentem que existiu de facto quebra das regras profissionais.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL