A Direção Geral do Património Cultural (DGCP) manifestou “completo repúdio” pela vaga de ataques de vandalismo que está a ocorrer contra várias obras de arte europeias, mas assume que “nenhum museu está preparado para lidar com atos de vandalismo de tal natureza, pela surpresa que acarretam, pelas mais variadas e inesperadas formas que podem assumir e pelo mau princípio com que são acometidos”. Em resposta oficial enviada à agência Lusa, a DGCP (que tutela os principais museus portugueses” assumiu ainda estar a acompanhar a situação e alertar os responsáveis para a necessidade de reforço dos habituais mecanismos de segurança.
Os ataques contra algumas obras primas da pintura europeia estão a ser desenvolvidos, desde julho, por vários grupos ambientalistas que protestam contra a degradação do Planeta. Os alvos escolhidos foram já duas obras de Van Gogh – um quadro da série “Os Girassois”, exposto em Londres e “O Semeador”, que se encontra em Roma -, uma obra da série “Les Meules”, de Monet em exposição no Museu Barberini de Potsdam, em Berlim, assim como “A Rapariga do brinco de Pérola”, de Vermeer e que faz parte da coleção permanente do Museu Murithius, em Haia. Os ativistas atiram sopa de tomate e puré de batata ou de legumes aos quadros em exposição o que, não pondo em causa a integridade das obras, representa um risco e uma evidente quebra de segurança dos quadros, considerados como obras primas da arte europeia.
Embora não se tenha, até agora, registado qualquer caso em Portugal, esta vaga de protestos representa uma ameaça que os diretores dos principais museus portugueses estão a levar muito a sério. Contactados pela Lusa, todos foram unânimes em condenar os atentados, que consideram “preocupantes”, já que “colocam em risco um património que é de todos” e “deve ser protegido para as atuais e futuras gerações”.
Mário Antas, responsável pelo Museu Nacional dos Coches, assumiu ter “alguma dificuldade em perceber o que os museus e as obras de arte têm a ver com este tipo” de protesto ambientalista e “porque têm as obras de arte de pagar por isto”. Mas, como a situação causa “obviamente, preocupação”, a direção do museu está a reforçar o alerta da equipa de vigilância”, que possui um “excelente sistema de segurança interna”.
Também Joaquim Caetano, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, partilha a ideia de que “a situação é preocupante para todos os museus” e garante estar a ser tomadas medidas de reforço de segurança, nomeadamente através do recurso a “empresas de vigilância, em princípio, mais preparadas para responder a casos destes”.
Rita Lougares, diretora do Museu Coleção Berardo, em Lisboa, classifica estas ações como “terrorismo” contra a arte e assumiu que estão a ser ajustados os padrões de segurança do museu, através do reforço do controlo nas entradas, aumento de vigilância nas salas de exposição e até pela proteção das obras com a aplicação de paineis de vidro ou acrílico.
No Porto, o Museu Nacional Soares dos Reis, está em fase de produção da sua nova exposição de longa duração, que deverá ser inaugurada no início do próximo ano. Segundo o diretor António Ponte, “estão a ser equacionadas medidas de segurança necessárias para salvaguardar a coleção” e, “entretanto, continuarão a ser cumpridas as normas de segurança em vigor, nomeadamente a proibição da entrada de mochilas, sacos e outros objetos similares”, acrescentou o responsável numa resposta escrita enviada à agência Lusa.
Também o Museu de Serralves respondeu à Lusa, por escrito, considerando que “desde a sua abertura [em 1999], adotou sólidos protocolos de segurança que periodicamente e de forma sistemática são revistos e adaptados a circunstâncias antecipáveis”.
Fonte oficial do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa, indicou, por seu turno, que não tomou medidas extra face a estes atos específicos, mas “tem, de forma permanente, equipas de segurança e vigilância de forma a minimizar eventuais percalços no espaço expositivo”.
“Estas equipas trabalham em conjunto com a produção das exposições para adaptarem estas medidas de segurança às especificidades de cada projeto expositivo”, acrescentou, indicando ainda que tem vindo a dar, na programação, “uma atenção constante às questões derivadas das urgentes questões climáticas e uma ação interventiva permanente na defesa do planeta através dos meios que a arte, os artistas e os projetos pedagógicos associados nos permitem desenvolver”.
Finalmente, a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, diz que está “atenta à situação, mas, por razões óbvias, nunca comenta nem divulga publicamente os seus protocolos de segurança interna”.