Portugal registou esta segunda-feira, o número mais elevado de óbitos do século (637 num dia contra os 572 de 2 de janeiro de 2017) e regista, nas últimas duas semanas, mais de 500 mortes por dia, barreira que só tinha sido ultrapassada por duas vezes no século XXI.
Os números de infetados e de mortes por Covid-19 também batem recordes neste mês de janeiro. A violência desta crise pandémica não se limita ao número de mortes. A maioria das pessoas teme sobretudo os seus efeitos duradouros e profundos.
Estávamos cheios de certezas, mas agora todos nós vivemos momentos angustiantes. A pandemia vem demonstrar como somos instantes, falhos e incompletos como seres humanos. Está posto em causa o nível sustentado de desenvolvimento económico e social, tal como o conhecemos. Os desequilíbrios estruturais da economia evidenciaram as desigualdades sociais.
Perante o infortúnio, procuramos alternativas. Reinventamos o nosso dia a dia e fazemos da esperança a nossa âncora, porque o mundo está enfermo e as consequências da “doença” são o nosso maior desafio, sem nunca esquecer a valorização das pessoas no respeito pela sua autonomia e dignidade. E isso faz-se através de uma forte e clara aposta na educação e na cultura.
A alavanca mais poderosa está na reinvenção e no reforço de modelos de educação e cultura
Esta crise global de 2020 é uma oportunidade para repensarmos as nossas políticas na educação e na cultura, num momento em que deixaram de ocupar o papel que costumavam ter em nossas vidas.
Apesar da incerteza pesar, é preciso adaptar-se aos constrangimentos e explorar outros caminhos. As medidas dos confinamentos marcam o nosso modelo de sociedade nos últimos e nos próximos meses. E creio que, seja qual for o ou os planos de recuperação, os danos colaterais serão sempre menores quanto maior for a mobilização da sociedade em trazer para o seu centro a redefinição da educação e da cultura como objetos sociais.
A alavanca mais poderosa para o combate às desigualdades sociais e locais, que a crise agravou, está no reforço e na reinvenção de modelos de educação e cultura adaptados às exigências dos tempos atuais, mas sobretudo adaptados às reais necessidades para fazermos face à exclusão, à pobreza, às desigualdades sociais e territoriais.
Para voltarmos a alimentar o sentimento de reconhecimento, mérito e bondade como uma pertença do ser humano comum, o caminho é devolver à cultura e à educação o seu papel central.
Esse é o grande desafio a iniciar em 2021 e a melhor resposta com efeitos duradouros.
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