Todos nós temos emoções, são uma constante na vida. O que a maioria das pessoas não se apercebe é a interacção destas no nosso corpo. Mas, se nos propusermos a reflectir, é fácil perceber como as nossas emoções se manifestam no nosso corpo. Por exemplo, os suores frios perante o medo, as alterações intestinais e cardíacas perante a ansiedade, a apatia e fadiga perante a tristeza, etc..
A primeira grande questão que tem que colocar a si mesmo quando sente vontade de comer é que tipo de alimento lhe apetece. É quente ou frio? É mole ou crocante? Doce ou salgado? Pense no alimento que lhe vem à cabeça? É uma sopa? Uma peça de fruta, um iogurte? Ou por outro lado, um bolo, bolachas ou snacks? Quando fizer a sua escolha, pense se é isso que realmente o seu corpo precisa. Atenção: o seu corpo fisiológico, não a sua motivação!
Questione ainda se realmente tem fome ou se na verdade só tem vontade de comer. Se a resposta lhe tardar a chegar, acredite que não tem realmente fome e quer comer por outra razão.
Uma dessas razões pode ser a fome cuja motivação são os princípios ou valores pelos quais se rege. Desta forma, poderá comer porque não gosta de desperdiçar: tem um alimento cuja validade está a acabar, e, mesmo não sendo saudável e não lhe traga nada de bom para o seu corpo, prefere comer a deitar fora. Tem tendência para terminar os pratos dos outros, os conhecidos “raspa pratos”, porque aprendeu e acredita que não se deve deixar comida no prato. Come tudo o que vem para a mesa, entradas, pão, manteiga e patés, assim como come a sobremesa (mesmo que já esteja cheio) porque está incluído no preço, tal como a bebida que é à descrição e o melhor é aproveitar! Depois poderá ainda ser daquelas pessoas que não é capaz de dizer não quando lhe oferecem comida ou bebida, porque não quer desagradar ou fazer desfeita, mesmo não lhe apetecendo comer. Receia ainda, depois de oferecido, dizer que não gostou, com receio que o achem esquisito e com “manias” e acaba por comer.
Desta forma, os seus princípios irão traí-lo a partir do momento que não pára para se observar e ouvir as necessidades do seu corpo. Estará a pensar mais em não desiludir os outros, ou melhor, da imagem que pensa que os outros têm ou podem vir a ter de si do que propriamente em si.
Outra fome é a motivada pelos hábitos. Aqueles que aprendeu na infância e que ficaram enraizados de tal forma que nem se questiona em mudar. Assim, o pequeno-almoço e o lanche por exemplo são os mesmo há anos e ainda não se deu ao investimento de experimentar outras opções. Aprendeu, por exemplo, que se deve comer três vezes ao dia, sendo o almoço a refeição em que se pode “enfardar” e assim continua a fazer, mesmo sentindo-se “empaturrado” após o tal almoço. Hesita comer alimentos ou pratos novos, criando de antemão ideias estereotipadas de alimentos ou formas de cozinhar, sem que na realidade nada saiba sobre elas (como pratos vegetarianos por exemplo), ficando-se pelas mesmas comidas.
Na verdade, os hábitos são o que nos liberta e aprisiona ao mesmo tempo. Os hábitos que identifica que tem, e como pouco saudáveis, são difíceis de mudar porque exigem esforço e determinação. Ao mínimo descuido, o hábito antigo que voltar à ribalta, porque está instalado e é fácil de praticar. Assim, se quer mudar a sua alimentação e prática física por exemplo, tem que inicialmente focar-se, pôr em acção o esforço para criar novos hábitos e atenção para não permitir que os velhos hábitos retornem.
A gula é outra motivação para enganar a fome. Acontece quando se passa à porta da pastelaria e cheira a pão fresco ou a bolos acabados de fazer! Acabou de tomar o pequeno -almoço em casa, mas aquele cheiro desperta a “fome” e quando dá por si está a comer! Acontece quando está a comer algo que “está tão bom” que não consegue parar! E depois, dá por si a dizer: “já me servi três vezes!”, às vezes com alguma vaidade ou orgulho! Vai ainda comer um alimento que alguém tinha consigo, você viu e pelo aspecto, cheiro, cor, textura ou sabor, acaba por ir comprar. Nunca lhe aconteceu ir comprar um geladinho ou chocolatinho porque a colega estava a comer?
Outra situação flagrante da gula são as pipocas no cinema: mesmo depois de um jantar recheado, ainda compra um pacote XL de pipocas para “petiscar” no cinema!
A verdade é que a gula apela aos sentidos. Para lhe resistir, tenha consciência, mais uma vez, das reais necessidades do seu corpo.
A necessidade de se Recompensar é outra das motivações que levam a comer e encaixa-se nos dois pratos da balança: recompensa-se comendo porque está orgulhoso de uma tarefa terminada com êxito, ou, depois de um dia de trabalho cansativo, come para relaxar. Pelo contrário, sente-se frustrado e desapreciado e recompensa-se com um alimento reconfortante. É comum ver que a maioria das celebrações são comemoradas à volta da mesa! Baptizados, casamentos, aniversários, promoções, reencontros, término dos estudos, etc. Alguns países até servem comida em funerais!
O importante é que o evento social que crie à volta da comida para celebrar algo, seja pelo prazer da companhia e não apenas pelo prazer momentâneo que a comida oferece. Se comer ou beber demais por recompensa, por motivos positivos ou negativos, acaba por comer o que não precisa.
A preguiça é outro dos motivos que leva a comer o menos apropriado às necessidades do corpo.
Come o que lhe põem à frente, porque não sabe cozinhar e não quer investir nessa aprendizagem e porque, afinal de contas, dá trabalho! Na ausência do “cozinheiro” de serviço opta, por vezes, por não comer de todo e salta uma refeição ou come “petiscos”. Compra comidas de recurso, congeladas, enlatada e pré-feitas (quase sempre hipercalóricas e processadas) para comer sempre que está sozinho, não tem tempo ou aborrece-lhe fazer comida.
Esta preguiça leva à compra de comida já feita ou a sujeitar-se à dieta de outra pessoa, não conseguindo assim ter controlo na sua confecção e aporte nutricional. Na verdade, a preguiça é a de investir em si.
A fome emocional , que já foi abordada, de uma forma global é a que é motivada pelas emoções, ou seja, porque se sente triste, frustrado, zangado, com raiva, carente e sente na comida um alívio momentâneo dessas emoções.
De forma resumida, o que deve realmente repensar é na sua forma de comer e nas motivações que o levam a comer. Tudo o que é comido para além da fome fisiológica, ou seja, da verdadeira necessidade do organismo, é armazenado no seu corpo em forma de gordura e no seu íntimo, em forma de culpa, frustração, vergonha, raiva, entre outras emoções depreciativas que desenvolve acerca de si próprio pela descida da auto-estima e desagrado pela imagem corporal.
Assim, convença-se que engordar e emagrecer é um processo físico mas acima de tudo emocional e psicológico. O seu peso pode ser reflexo de um conflito emocional.
Para vir descobrir ‘as suas fomes’, informe-se na Associação Semear Saúde para marcar a sua consulta em Psicologia do Emagrecimento e Comportamento Alimentar com o Programa RAFCAL – Reabilitação Afecto Cognitiva do Comportamento Alimentar.
(Artigo publicado na edição online do Caderno Semear Saúde)