Ainda antes de António Costa entrar em cena, surgiu Marcelo Rebelo de Sousa a impor o trilho – o Presidente da República já na segunda-feira apareceu antes de o primeiro-ministro falar a dar-lhe um empurrão para infletir o rumo. Desta vez, nas escolas. Mas se no apertar do confinamento o líder do Governo acedeu, no que às escolas diz respeito vai resistir o mais que conseguir. Horas depois de Marcelo ter dito que “é preciso atuar depressa,” Costa travou o ímpeto: “Estamos a bater-nos para manter as escolas abertas”, disse durante o debate no Parlamento, no dia em que houve mais mortes por covid (218), acrescentando-lhe um ‘mas’: “Se para a semana soubermos, se amanhã soubermos, se depois de amanhã soubermos, se daqui a 15 dias soubermos, por exemplo, que a estirpe inglesa se tornou dominante no nosso país, ah, muito provavelmente vamos ter mesmo de fechar as escolas e aí farei o que tenho de fazer, que é fechar as escolas”.
A data pode não ser inocente: amanhã mesmo o Instituto Nacional Ricardo Jorge (INSA) vai revelar os dados sobre a nova estirpe inglesa em Portugal e é importante perceber em que faixa etária está a atacar mais. Ainda na segunda-feira, Manuel Carmo Gomes, perito na área da saúde, avisava para um aumento das infeções na faixa etária dos 13 aos 17 anos nos últimos sete dias. Será por causa da nova estirpe? Essa é uma das dúvidas que pesarão na hora da tomada de decisão política de António Costa, que pela primeira vez admitiu este cenário, apesar de deixar sempre, ao longo do debate, a ideia que é o último cenário que quer ver cumprido, sobretudo pelo impacto que tem na vida dos alunos: “O mais fácil era mesmo encerrar as escolas, porque o custo não é imediato. O problema é que o custo vai pagar daqui a 10, 20 anos”, disse. “O que é responsável politicamente é batermo-nos para manter as escolas abertas. Vamos fazer tudo para manter as escolas abertas“, referiu o primeiro-ministro.
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A sua decisão assenta em dois dados, que levou para o debate: as 13 escolas fechadas por causa da pandemia (em 5.400) e os 39 mil alunos infetados (num universo de mais de um milhão e cem mil).
Perante isto, assumiu que se tiver de recuar, que o faz. Estas respostas deu-as sobretudo ao PSD, CDS e IL que apontaram as baterias ao primeiro-ministro neste assunto. Mas também o PAN que deixou no ar a ideia que as aulas do terceiro ciclo ainda não podem ser à distância porque “a transição digital que ainda não aconteceu”, disse André Silva. Uma nota também lançada por João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, que notou que o primeiro-ministro apareceu “irritado” a “culpar os portugueses”.
O primeiro a falar foi no entanto o PSD, pelo líder parlamentar Adão Silva, acusou o Governo “de não cumprir o seu papel” a fazer um “confinamento de faz de conta” e de estar a “deixar pessoas para trás”.
Depois Telmo Correia, do CDS, pôs o dedo na ferida: “Entre ser popular e ser prudente, escolhe a primeira e quando escolhe a primeira, comete erros”, disse. A provocação valeu resposta de Costa: “Ser popular? Quando há uns meses tivemos aqui profissionais da restauração em greve de fome e a pedirem o alargamento do horário quem quis ser popular? Foi o Governo que arcou com a decisão de manter fechado ou os senhores deputados do CDS que andaram a pedir para alargar?”.
Também ao centrista coube a resposta sobre a assunção de responsabilidades perante as medidas tomadas. “Posso assegurar que hoje, nas circunstâncias de hoje, nenhum de nós teria defendido aquelas medidas”. “Se a culpa foi minha por termos celebrado o Natal, ofereço-me a esse sacrifício e deixo-lhe, em consciência, [considerar] se sou o responsável pela situação em que estamos”, respondeu ainda Costa a Telmo Correia, sublinhando que houve outros que defenderam exatamente o que fiz”. E rematou: “Assumo as responsabilidades pelas circunstâncias em que o país está hoje”
ORA OUVE CRÍTICAS ORA EXIGÊNCIAS
De um lado as críticas, do outro as exigências de voz branda, apelando à “sensatez”. Em plena pandemia, António Costa foi ao Parlamento e foi o alvo de todos os ataques do PSD, CDS e Iniciativa Liberal pela gestão da pandemia e pelo estado em que o país se encontra. Contudo, foi mais poupado à esquerda, que lhe pediu para dar mais condições às escolas e aos hospitais, mas não lhe apontou o dedo acusador. Costa agradeceu. No momento mais difícil politicamente, passou pelo debate de política geral no Parlamento sem mossas de maior. Também sem unanimidade ou consenso em relação a como geria a pandemia, mas esses há muito que não os tem.
Catarina Martins foi a primeira à esquerda a falar e estabeleceu o tom do que seria o debate nas bancadas daquele lado. Há “divergências” mas este não é o momento para mais críticas. “é uma imensa hipocrisia atirarmos culpas de um lado para o outro, como se tivéssemos soluções milagrosas”. E fez um apelou: “Temos divergências, mas o que a responsabilidade nos pede neste momento não é o passa culpa, é das situações mais graves do que já vivemos”.
E pediu, numa exigência já muitas vezes repetida, que Costa vá requisitar os privados: “Se não os requisitamos agora, quando?”, perguntou.
A tónica de Jerónimo de Sousa foi sobretudo nos apoios sociais que tardam. Para o secretário-geral do PCP. “os problemas do país são amplos e profundos, a resposta do Governo também tem de o ser”. Costa referiu a lista dos apoios em marcha, o novo apoio social e as alterações ao subsídio de desemprego entram em vigor em Fevereiro e o subsídio de salubridade ainda não tem data, depende das negociações com os sindicatos, ainda em curso.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso