Os animais exóticos são todos aqueles que não fazem parte da nossa fauna autóctone, onde alguns se enquadram como animais de estimação, caso dos coelhos, porquinhos da índia e muitas espécies de aves e répteis, e outros com características mais selvagens como aqueles que ainda existem nos circos e em jardins zoológicos ou parque biológicos.
Embora alguns destes animais exóticos habitem as nossas casas, a sua manutenção pode ser bastante exigente. São animais com requisitos específicos da sua espécie, tanto em termos de habitat como de alimentação, e infelizmente muitas das pessoas que adquirem estes animais não têm, nem procuram ter, os conhecimentos necessários para assegurar o seu bem estar. É frequente vermos papagaios e araras fechados em jaulas demasiado pequenas e sem qualquer tipo de estimulação mental, ou répteis em terrários cujas condições de luz e temperatura não são as mais adequadas, ou ainda há quem compre suricatas (sim, é permitido comprar suricatas) e as coloque em espaços ínfimos onde definham sozinhas. As suricatas são animais extremamente sociáveis e que vivem em grupo familiares razão pela qual apresentam um repertório de comunicação muito diverso e complexo, mantê-las em isolamento, é desta forma uma acto de crueldade.
Ter um animal é uma responsabilidade, ter um animal exótico é ter uma responsabilidade acrescida, e por isso deixo aqui um alerta a todos aqueles que pretendam adquirir um animal exótico. Em primeiro lugar procurem saber a origem do animal, garantindo, caso se trate de um animal CITES, que tenha a documentação certificada pelo ICNF. É preciso lembrar que o tráfico de vida selvagem existe, e representa em termos económicos o quarto maior mercado negro no mundo, estando fortemente ligado ao tráfico humano e de armas. Em segundo lugar, procure se informar sobre a ecologia e necessidades específicas da espécie para que lhe possa assegurar as melhores condições de bem estar ao longo da sua vida. Até porque, caso o leitor não saiba, não existem abrigos, centros de recuperação ou santuários para a fauna exótica no nosso país, o que quer dizer que se não quiser mais o seu animal, não há instituição habilitada para ficar com ele.
Este problema infelizmente estende-se também aos animais exóticos traficados ilegalmente no nosso país, que quando apreendidos pelas autoridade ficam frequentemente com os seus detentores na condição de fiel depositário, em situações inadequadas anos a fio. Outras vezes ficam em zoos, mas estes raramente estão interessados em juntar às suas coleções animais provenientes de privados cuja reabilitação e reintegração não faz parte das suas valências. Exemplo disto é a notícia que saiu apenas há um mês sobre a apreensão de 37 répteis, incluindo algumas cobras venenosas, numa habitação no Montijo, e cujo o destino ninguém sabe qual é (à excepção do ICNF).
O tráfico de vida selvagem é um crime à escala global envolvendo biliões de euros todos os anos, um crime envolvendo práticas hediondas e que estão a levar à extinção várias espécies pelo mundo inteiro. Portugal tem relações próximas com países onde espécies protegidas são traficadas aos milhares anualmente, como por exemplo o Brasil, e no entanto, esta problemática tem pouco peso nas agendas dos nossos governantes. Obviamente que será difícil para Portugal ter um papel forte no combate ao tráfico de vida selvagem, se depois não conseguir oferecer uma solução para os animais apreendidos.
E desta forma fica o apelo aos cidadãos e governantes deste país para que se arranje uma solução não só para os animais exóticos apreendidos e abandonados dentro de portas, mas também para que possamos partilhar com os outros países europeus o combate ao tráfico da vida selvagem.
(CM)