É com tristeza e preocupação que André Jordan, considerado o maior promotor de imobiliário turístico em Portugal, vê a invasão da Rússia à Ucrânia, território onde tem raízes e que teve de deixar em criança, ao fugir com a família de uma outra guerra, escapando aos horrores do Holocausto.
O empresário nasceu em 1933 em Lviv, cidade que então fazia parte da Polónia, mas passou a integrar a Ucrânia na sequência do Tratado de Postdam em 1945 – quando os países aliados que saíram vitoriosos da Segunda Guerra Mundial se juntaram para decidir como administrar a Alemanha, que já se tinha rendido, o que levou à redefinição de vários territórios.
“Não há qualquer justificação para esta guerra na Ucrânia, a Rússia não precisava, é apenas um jogo de ego e vaidade dos seus líderes, com a principal motivação de se afirmarem”, sustenta André Jordan.
“Perante um país mais fraco como a Ucrânia, com problemas militares, económicos e políticos, Putin sente necessidade de afirmação, perde a cabeça e vai para a guerra, que foi primeiro com palavras, e depois com tiros e bombas, para ele isto é uma brincadeira de cowboys”, considera.
“E ameaçado por problemas como a situação económica e o crescimento do sentimento de oposição, Putin joga uma partida de xadrez cujas peças contêm bombas”, conclui André Jordan, enfatizando neste processo “a irresponsabilidade total dos líderes”.
Situação “imprevisível”
Poderá ser uma guerra generalizada à Europa? “Não sabemos que consequências graves possa ter, e nem tenho a coragem de fazer previsões para a evolução desta situação”, faz notar. “Começou com Putin a ‘brincar’ com uma exibição de força na Ucrânia, e agora é imprevisível, as coisas podem saír de controle, não se consegue antecipar o que poderá causar na área económica ou política”.
“A tudo isto, somos todos obrigados a assistir com impotência e, infelizmente, também com medo”, resume Jordan.
Para o empresário, “é extraordinário como, numa era em que a democracia passou a ser um paradigma, os interesses pessoais dos líderes nacionais autocratas prevaleçam, apesar do elevado custo deste exercício”. E frisa haver na atualidade vários países europeus “principalmente a Rússia, que são objetivamente ditaduras, cujos líderes têm necessidade de gerar grandes conflitos internacionais como justificação que mobilize a opinião pública e dos militares dos seus países em apoio ao líder”.
André Jordan lembra ainda que “nos Estados Unidos, Trump intentou nos estertores do seu mandato, tendo perdido a eleição, provocar um golpe militar para assim se manter no poder, evitando os riscos de ser julgado pelas falcatruas e falsificações das contas das suas empresas”.
Sobre a atual guerra movida pela Rússia, Jordan diz esperar “que o bom senso e a paz prevaleçam e que a justiça oficial avance”. Lembra que na sua Polónia natal, incluíndo a região que é hoje Ucrânia, a população é pacífica, “sempre houve várias comunidades, incluindo de judeus, que conviveram perfeitamente entre si durante séculos”, e que as guerras “vieram de fora”, movidas por “ambições dos líderes”.
“No fim do séc. XIX apareceu o petróleo. O meu avô que tinha terras e era agricultor passou a ser produtor de petróleo”, recorda André Jordan, frisando ainda que a caraterística pacífica das pessoas se mantém na região onde nasceu, e que “os ucranianos têm tido um bonito papel como imigrantes em Portugal”, estando longe de ser um povo merecedor desta guerra.
Em relação aos impactos que a situação poderá ter no turismo, sector que em Portugal previa este ano uma forte recuperação numa altura em que a pandemia parece dar tréguas, o empresário destaca que “todas as grandes perturbações políticas, sociais e económicas prejudicam o turismo, que é a primeira vítima inocente dos problemas no mundo”.
Mas também sublinha que “o sector é muito resiliente, principalmente o imobiliário turístico, que durante muitas crises nas últimas décadas conseguiu crescer e valorizar-se. Vamos ver se podemos continuar a aspirar a uma recuperação, pois repente, se a situação se dissipar, as coisas retomam rapidamente. E Portugal é visto, mais do que nunca, como um destino privilegiado em termos de qualidade e segurança”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL