“O Algarve vai ser até ao final deste ano a região do país com maior número de estações da biodiversidade da rede EBIO”, a revelação foi feita ao POSTAL por Patrícia Garcia Pereira, presidente da TAGIS e investigadora no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais.
Neste momento com cinco estações – Boca do Rio (Vila do Bispo), Pico Alto (Silves), Barranco do Velho e Tôr (Loulé) e Ribeira de Alportel (São Brás de Alportel) -, a região tem actualmente o mesmo número destes equipamentos que a Beira Litoral, mas até ao final deste ano, com a abertura das estações da Ribeira de Quarteira (Albufeira), Praia da Amoreira (Aljezur) e Barragem da Bravura (Lagos), será a líder nacional.
O que são as estações da biodiversidade
As estações da biodiversidade são percursos pedestres curtos de até três quilómetros, sinalizados com um conjunto de painéis informativos que dão aos visitantes informações sobre as riquezas biológicas a observar no local. As estações são criadas pela TAGIS – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal e integram a rede nacional EBIO criada para agregar sob um mesmo ‘guarda-chuva’ todos estes equipamentos, bem como, aglutinar toda a informação sobre os mesmos e toda a recolha de dados de observação realizada pelos visitantes.
A nível nacional a rede EBIO dispõe de 24 estações da biodiversidade espalhadas por todo o Portugal continental.
Chamar as pessoas a desempenhar um papel activo
Mais do que conhecer os percursos das estações e a sua biodiversidade, o que estes equipamentos pretendem é envolver as pessoas no processo de conhecimento, tirando-as do seu papel de mero espectador da paisagem e da natureza.
“As estações são recursos fixos em locais de elevado património natural em que o grande objetivo é promover a participação das pessoas na observação e registo da biodiversidade, portanto as estações servem para as pessoas terem um papel activo”, refere a responsável da TAGIS.
Em cada estação, continua a bióloga, “existem nove painéis, sendo que o primeiro apresenta uma introdução e um mapa do percurso pedestre e os outros oito têm conteúdos específicos para servir de guia de campo, que chama a atenção das pessoas para espécies a observar”.
“O que queremos é tornar os percursos mais interessantes, informativos e interactivos com os visitantes”, refere, acrescentando que se pretende que as pessoas “vão passear, mas que façam o registo das espécies que vêem e coloquem, no portal on-line BioDiversity4All as fotos dos exemplares que encontram e a informação que recolhem, ajudando assim a complementar o banco de dados de acesso público e contribuindo para a monitorização ambiental daquele percurso”. “É esta a filosofia do projecto”, remata.
Quanto custa uma estação
As estações da biodiversidade criadas pela TAGIS custam aproximadamente cinco mil euros, contando já com o trabalho científico e de campo, o material, os painéis e a impressão, a edição da informação, o design gráfico e a tradução para inglês, uma vez que os painéis são todos bilíngues.
Exactamente o valor dispendido pela Câmara de Aljezur para a criação da estação da Praia da Amoreira, que abrirá antes do Verão naquele concelho.
José Amarelinho destaca que este investimento foi “integralmente suportado pela Câmara”, mas que será largamente compensado pelo impacto da criação de mais uma valia ambiental / turística.
O presidente da Câmara afirmou ao POSTAL que a medida se insere na política da autarquia de “implementar uma cultura de desenvolvimento sustentável no concelho, que passa muito pelas questões ambientais – de facto, o turismo de natureza encaixa perfeitamente nesta estratégia de desenvolvimento – e mostra um outro Algarve, que se preservou, sustentável e com valores naturais”.
“É um investimento que vai beneficiar os alojamentos local, de turismo em espaço rural e de habitação turística. Esta é afinal a nossa rede de alojamento, uma rede turística que ultrapassa cada vez mais a sazonalidade”, refere o autarca, sublinhando que, “esta é uma rede que de facto funciona durante todo o ano e que já não é só geradora de riqueza em Agosto”.
“Assim se ajuda a economia local e outra coisa muito importante é que se criam novos targets, muito específicos, de pessoas que estão ligadas às caminhadas e a este tipo de turismo que tem a ver com a preservação e contemplação da natureza. São pessoas que ficam alojadas nas nossas unidades hoteleiras de baixa densidade, obviamente, e isso é muito interessante para nós”, remata o presidente aljezurense.
São Brás de Alportel considera a criação da estação da Ribeira de Alportel uma aposta ganha
Quem já tem uma estação a funcionar é São Brás de Alportel e Vítor Guerreiro, presidente da câmara local, considera este investimento “uma aposta ganha”.
“A estação de biodiversidade para nós é muito importante porque vai ao encontro da preservação de algo que nós temos como muito valioso, a fauna e a flora. Monitorizando a estação de biodiversidade como temos feito também nos apercebermos da forma como vai estando o ecossistema, nomeadamente aquela área”, diz o autarca.
Vítor Guerreiro acrescenta que a estação “é muito importante para conseguirmos captar turistas e visitantes, servindo também, e muito, para sensibilizar as camadas mais jovens. Temos uma parceria com a Quinta Pedagógica do Peral e temos levado lá as nossas turmas, dando aos alunos a oportunidade de estudar mais sobre a natureza do concelho”.
Quanto aos custos de manutenção, a Câmara considera que são aceitáveis face aos benefícios. O presidente recorda que “no ano passado os painéis foram remodelados devito ao desgaste provocado pelo sol”, mas sublinha que “a estrutura tem sido respeitada” pelos visitantes.
O impacto regional e o futuro da rede regional de estações da biodiversidade
Para Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve, “as estações são muito importantes para que as pessoas tenham acesso a informações qualificadas e científicas sobre a nossa fauna e flora, que interessam aos adeptos destas temáticas”.
“As estações contribuem claramente para ajudar um turista que se desloca até à região para apreciar uma determinada espécie no âmbito da fauna a ter uma informação mais completa e assim as pessoas vão daqui com a certeza de que a região se preocupa em ajudar naquilo que é o hobby desses turistas”, reforça.
O responsável pela pasta do turismo na região conclui que “o que é importante é agarrar todas as possibilidades e promover turismo que atraia as pessoas não só no Verão mas também numa altura mais calma, entre Outubro e Maio, e isto é fundamental para uma região que se quer afirmar com uma sustentabilidade que não seja só de seis meses mas do ano todo”.
Quanto ao futuro, dia 23 de Maio será inaugurada a estação da Ribeira de Quarteira, faltando depois as da Barragem da Bravura, em Lagos, sem data de abertura prevista, e da Praia da Amoreira, em Maio ou Junho.
“Para termos toda a diversidade da região era importante ter uma estação em Monchique, na Ria Formosa, e no Sapal de Castro Marim. Já foram enviadas as propostas mas ainda não tivemos grandes respostas”, refere a responsável da TAGIS.
Um desafio lançado às autarquias para criarem estruturas que constituem verdadeiras mais-valias para os respectivos concelhos e para a região com um investimento relativamente baixo e com elevada capacidade de retorno.