O projeto começa agora, mas tem os olhos postos no futuro: o Algarve vai avançar com um plano estratégico que visa acelerar a transformação digital e criar um ecossistema de ‘região inteligente’, o que mexe com uma série de frentes, desde acessibilidades e transportes entre municípios à gestão mais equilibrada de recursos como a água, a par da melhoria dos conteúdos turísticos utilizando soluções tecnológicas.
O pontapé-de-saída do projeto RIA (Região Inteligente Algarve) é o estudo de diagnóstico que foi contratado à consultora Deloitte, que ficará concluído nos próximos quatro meses – a partir do qual será elaborado um plano estratégico para estar no terreno até dezembro de 2022.
“O projeto já estava desenhado antes da pandemia para, de forma integrada e envolvendo todos os municípios, podermos dar melhores respostas às necessidades dos residentes e dos turistas, indo ao encontro dos desafios da transição digital”, resume João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), uma das entidades promotoras do programa RIA, juntamente com a CCDR Algarve, a Universidade do Algarve e a Associação de Municípios do Algarve (AMAL).
“A pandemia veio acentuar as necessidades de transição digital e de sustentabilidade, e o objetivos que havia antes acabaram por sair reforçados”, nota ainda João Fernandes, constatando que “a própria pandemia vai-nos dando lições e conhecimentos”.
Apoiado por fundos europeus, o projeto Região Inteligente Algarve – RIA é cofinanciado em 80% pelo CRESC Algarve 2020 – Programa Operacional Regional do Algarve/ FEDER, e tem uma dotação de 1,121 milhões de euros.
O projeto ficou com a candidatura aprovada a 18 de fevereiro do ano passado, mas na altura “tivemos de parar”, segundo lembra o presidente da RTA, referindo que de momento o programa “já tem cobertura financeira” para poder avançar. O novo programa do Algarve também está em linha com o Plano Nacional de Turismo + Sustentável, anunciado recentemente pelo Turismo de Portugal.
A prioridade, nesta primeira fase, é “saber em que ponto estamos numa lógica de destino inteligente, ver as melhores práticas a nível internacional e desenhar um plano estratégico adaptado à região”, explicita João Fernandes.
“Este é um caminho que todos os destinos turísticos estão a abraçar, mas temos de saber concretizar esta ambição”, faz notar o presidente da Região de Turismo do Algarve, enfatizando que no campo dos destinos inteligentes “é preciso estudar primeiro muito bem para não se desperdiçarem recursos financeiros, e daí termos contratado a Deloitte, é um passo importante para podermos fazer investimentos em tecnologias mais ajustados”.
EMITIR INFORMAÇÃO AOS TURISTAS, NA SUA LÍNGUA, SOBRE O QUE FAZER OU VISITAR – OU AVISOS EM SITUAÇÃO DE CALAMIDADE
A gestão sustentável dos recursos, com destaque para a água, que é uma área crítica no Algarve, constitui, à partida, uma das chaves para uma região ser considerada ‘inteligente’.
“A água é tão importante que, durante o primeiro confinamento no ano passado, foi definido um plano estratégico para a eficiência hídrica no Algarve”, recorda João Fernandes. No âmbito deste plano, determinou-se por exemplo que a rega dos campos de golfe deve ter como fonte prioritária a água tratada em ETARs existentes na região, algo que já é seguido pelos campos de Castro Marim, que recorrem à estação de tratamento de Vila Real de Santo António.
O objetivo é o de “alargar esta possibilidade para outras áreas de regadio”, sendo que o plano vai mais além e também inclui “a eficácia hídrica dos edifícios, sejam habitacionais ou de alojamento turístico”, explicita o responsável da RTA.
Outra frente importante de uma região inteligente assenta na mobilidade, e aqui destaca-se o trabalho já avançado pela associação de municípios com vista a “gerir a capacidade de transporte público, privilegiando a mobilidade suave ou elétrica”. Mas se “os municípios já fizeram um plano”, o objetivo é integrar todo este trabalho para haver lugar a “soluções intermodais” de transporte no Algarve.
“As metas que conduzem à sustentabilidade estão muito conotadas com o ambiente, mas no fundo também têm muito a ver com vertentes económicas e sociais, pois são ferramentas que permitem responder melhor às necessidades dos cidadãos e dos visitantes”, frisa João Fernandes.
O desafio da transição digital associado a uma região inteligente tem sobretudo o objetivo de melhorar os conteúdos turísticos e conseguir comunicar de forma mais direta com os visitantes – algo que se tornou mais premente desde o surto do novo coronavírus.
“Com a pandemia ficámos mais cientes de algumas necessidades específicas de informação a dar aos visitantes, e é muito importante termos uma ferramenta adequada. Numa situação de pandemia como a que vivemos, podemos comunicar com os turistas na sua língua, e ajustar a mensagem para diferentes públicos”, exemplifica o responsável da região de turismo, lembrando que os alertas podem ser emitidos em outras situações de emergência, como por exemplo em caso de incêndios.
“Eu consigo, com uma plataforma digital forte, comunicar melhor com os turistas, dizer o que podem fazer ou visitar. Só que hoje esses instrumentos ainda não se encontram disponíveis”, frisa João Fernandes.
O Algarve tem vivido um ambiente particularmente disruptivo com a pandemia: as perspetivas para o verão chegaram a ser boas desde que o Reino Unido pôs Portugal na lista verde de viagens, mas de um momento para o outro o cenário virou abruptamente com o surgimento de novas variantes do vírus.
“Estamos todos apreensivos sobre esta avaliação de impacto da estirpe Delta, que gera preocupações em toda a Europa e pode ditar restrições que não estávamos à espera”, conclui João Fernandes, referindo que de momento as perspetivas dos hoteleiros estão viradas para os portugueses com vista a ‘salvar’ o verão, tendo em conta que os mercados externos continuam em situação muito incerta.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso