O advogado de uma das duas mulheres acusadas do homicídio de um homem no Algarve, em 2020, criticou a investigação da Polícia Judiciária (PJ) relativamente às perícias ao local onde alegadamente foi desmembrado o corpo da vítima.
Em declarações aos jornalistas no final do primeiro dia do julgamento, no Tribunal de Portimão, João Grade considerou que a perícia efetuada à garagem da casa das arguidas “não foi feita da melhor forma, ou foi feita de maneira defeituosa”, não existindo, por isso, qualquer facto que aponte para a presença da sua constituinte, Mariana Fonseca, no local.
De acordo com a acusação do Ministério Público, terá sido na garagem da casa que partilhavam no Chinicato, em Lagos, que ambas terão desmembrado o corpo de Diogo Gonçalves, de 21 anos, em março de 2020, depois de o terem matado em Algoz, no concelho de Silves.
A posição do defensor da enfermeira foi manifestada depois de o inspetor Nuno Nunes assumir na audiência de julgamento que a PJ “não recolheu vestígios do crime na garagem”.
Questionado por João Grade como testemunha arrolada pela acusação sobre a convicção da PJ de que a garagem teria sido o local do desmembramento do corpo, o inspetor referiu que “não foram recolhidos vestígios, mas ali aconteceu alguma coisa”.
Durante a sua audição, Nuno Nunes disse ter a convicção de que as duas mulheres “tiveram a mesma participação no crime”, imputando à enfermeira o “fornecimento das drogas” para imobilizar Diogo Gonçalves.
“Mariana terá fornecido as drogas, reanimado o homem, segurado na mão [do cadáver] para o corte dos dedos, e o esquartejamento terá sido feito na presença das duas. Também estão as duas quando se desfazem dos pedaços do cadáver”, afirmou, perante o coletivo de juízes.
O inspetor disse ao tribunal que foram feitas duas reconstituições do crime, individualmente com cada uma das arguidas, tendo apenas participado numa das diligências com a arguida Maria Malveiro, segurança de profissão.
“Voluntariamente as arguidas participaram numa reconstituição, levaram-nos aos locais, a Maria descreveu os sítios onde o cadáver foi esquartejado e onde foi deixado”, assegurou.
Interpelado pelo advogado João Grade sobre o momento e local da detenção de Mariana Fonseca pela PJ, Nuno Nunes disse “não se lembrar de participar na detenção” da mulher e que a mesma “teria sido detida nas instalações da PJ em Portimão”.
Confrontado com as suas declarações, o inspetor emendou a sua posição e apontou o hospital de Lagos como o local da detenção da enfermeira, que estaria a trabalhar, como consta da acusação.
Nuno Nunes é o único inspetor da PJ arrolado como testemunha no processo, numa investigação que teve a participação de mais elementos e coordenada, segundo o próprio referiu, pelo inspetor-chefe João Carlos.
De acordo com o inspetor, a investigação da polícia conseguiu apurar que foram feitos vários levantamentos de dinheiro da conta da vítima no multibanco, “o primeiro logo na noite em que terá ocorrido a morte do homem, em 20 de março de 2020, em Portimão, no valor de 400 euros”.
“Foram verificados também levantamentos de 400 euros numa caixa automática no Hospital de Lagos e outro de montante igual em São Brás de Alportel, bem como transferências para as contas de cada uma das arguidas”, referiu.
Aquele investigador referiu ainda que as arguidas “terão usado o dedo indicador, cortado ao falecido”, para desbloquear o telefone e mandar mensagens que foram enviadas para várias pessoas, como também para a utilização de uma aplicação para a transferência de dinheiro.
O início do julgamento, durante a manhã, ficou marcado pela audição de Mariana Fonseca, que acedeu em prestar declarações ao tribunal de Portimão, afirmando “que em momento algum” teve a ver com a morte de Diogo Gonçalves e que se pudesse “voltar atrás” teria feito “muitas coisas de forma diferente”.
Durante a tarde, além do inspetor Nuno Nunes, foram ouvidas três testemunhas próximas de Diogo Gonçalves, que apontaram como “estranha a ausência” do jovem, bem como as mensagens que receberam quando o tentaram contactar para o telemóvel.
Um dos colegas de trabalho de Diogo Gonçalves disse ao tribunal ter tido a perceção de que qualquer coisa de estranho se passava, quando recebeu uma mensagem na qual “era tratado por senhor” e que o jovem “iria meter a carta de despedimento e ia para fora”.
“O Diogo nunca me tinha referido nada e achei estranho. Depois de ter recebido a mensagem contactei várias pessoas e as autoridades”, concluiu.
Ambas as mulheres estão acusadas por homicídio qualificado, profanação de cadáver, acesso ilegítimo, burla informática, roubo simples e uso de veículo, e teriam como objetivo aceder aos cerca de 70 mil euros de indemnização que Diogo recebeu pela morte da mãe, atropelada em 2016.
A próxima sessão do julgamento está agendada para sexta-feira às 09:15.
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