Com as experiências e o conhecimento adquirido ao longo dos séculos com a Camera Obscura, do estudo das lentes e dos processos químicos em diferentes materiais fotosensíveis, foram muitas as descobertas científicas no passado que levaram o inventor francês Joseph Nicéphore Niépce em 1826 à primeira fotografia permanente documentada da Humanidade, fotografia essa que sobrevive até aos dias de hoje, 195 anos depois, num processo chamado de heliografia, uma placa de prata coberta com um derivado de petróleo fotossensível chamado de Betume da Judéia. Mas foi através da parceria com Louis Jacques Daguerre e a invenção do Daguerreótipo em 1837 que o processo fotográfico foi realmente aperfeiçoado, ao reduzir o tempo de exposição e a fixação do material fotosensível às placas fotográficas, mergulhando-as em soluções químicas aquecidas com sal de cozinha (mais tarde iodeto de potássio, um sal mais eficaz). William Talbot foi outra figura importante na altura que aperfeiçoou o processo químico do próprio papel fotográfico com nitrato de prata e ácido gálico posteriormente fixado numa solução de hipossulfito de sódio. Este equipamento foi tão revolucionário e inovador na altura, que foi rapidamente considerado de domínio público pelo governo francês.
Aliás, o porto de Lisboa e do Funchal, incluindo a Rainha Maria II de Portugal em 1839, foram fotografados com este equipamento, que se tornou num produto viável para ser comercializado. Mas a fotografia teve um grande impulso no seu desenvolvimento e expansão devido ao grande avanço tecnológico que estava a ocorrer na Europa, com grandes inovações nos processos da industrialização e no crescimento sustentado da população a níveis nunca vistos.
Tudo melhorou ou tudo mudou? É um caso para pensar nos dias de hoje… na realidade o facto é que o trabalho saiu das mãos dos artesãos para as mãos das máquinas, incluindo os artistas pintores que na altura falavam da “morte do artista” ao serem confrontados com a invenção da fotografia.
O processo imediato / instantâneo da captura da realidade e da sua verdade intrínseca veio revelar e preservar o momento, veio preservar a memória e efectivamente mostrar como a Humanidade na realidade é. Foram muitos os sectores que aproveitaram esta revolução da imagem, principalmente o jornalismo, onde as fotografias representavam a partir de agora, um registro histórico inegável e para sempre.
Até a política inovou na altura, principalmente na justiça, uma vez que os “factos históricos” eram facilmente embelezados ou distorcidos de forma a camuflar uma realidade, com a democratização da fotografia, isso tornou-se muito mais complicado de desmentir. Em 1889 outra revolução, desta vez, George Eastman inventou a câmara fotográfica de rolo de 35mm, que fez baixar consideravelmente o preço das câmaras, dos rolos de filme e da própria revelação com o negativo, o nome da empresa é a Eastman Kodak Company e a câmara, a Kodak nº 1.
Os irmãos Lumiére aproveitaram uma patente perdida e inventaram o cinema, com a fotografia em movimento em 1895 e mais uma vez a Humanidade iria ser levada para campos onde a veracidade torna-se acessível a todos e a tudo. Era irreal e de tal modo impressionante que os primeiros espectadores fugiram do cinema onde o primeiro filme foi projectado, uma vez que mostrava um comboio a vir em direção da objectiva (ou da tela), a população literalmente pensava que o comboio iria entrar pelo cinema adentro.
A ciência rapidamente aproveitou a invenção para mostrar a realidade da diversidade do nosso Planeta e do Universo como nunca ninguém tinha visto, com detalhes impressionantes, com descobertas e imagens que se tornaram icónicas e transformaram o próprio tecido do pensamento do ser humano. Imagens icónicas como as do planeta Marte em 1965 quando a sonda especial Mariner 4 enviou as primeiras fotografias digitais de volta para a Terra. Invenção essa que originou a revolução digital ao nível do consumidor comum como conhecemos hoje em dia.
A invenção da fotografia é inegável na transformação do Mundo e do pensamento e hoje em dia está tão disseminada que ninguém consegue viver sem ela, aliás, a fotografia hoje em dia é considerada descartável, mas representa um marco histórico na nossa evolução como espécie e que pode estar de novo em risco de sofrer outra transformação, a da Inteligência Artificial, mas isso, meus amigos, é material para outro artigo no futuro…