O conceito de Felicidade já tem alguns séculos. Tales de Mileto (624 a.C.–558 a.C.), um dos primeiros filósofos da História e um dos denominados Sete Sábios da Grécia, considerava que para ser feliz é necessário “um corpo forte e são, boa sorte e uma alma bem formada”.
Eu considero que é preciso saúde, “bons genes” e um ambiente favorável, com valores de referência para o bem-estar e com respeito pelos outros. A felicidade não é algo que se encontra quando se chega, é algo que se leva quando se vai. Está em nós. No cérebro, onde reside o nosso superpoder. A felicidade é um caminho de recompensa. Esse caminho é um conjunto de eventos que se dão no cérebro e que ficam nas memórias, desde os momentos felizes da nossa infância, das histórias… que foram sementes de esperança, para que hoje possamos continuar a superar obstáculos.
A minha incursão na “Neuroquímica da Felicidade” surgiu após ter sido desafiada por um grupo de estudantes do Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade de Coimbra, onde leciono: “Professora, as suas aulas são uma inspiração, não só pelo conhecimento que nos transmite, mas também pelo seu esforço para sermos felizes e sairmos das suas aulas com um sorriso. Queremos organizar uma Semana dedicada à Felicidade! E gostávamos muito que fizesse uma conferência sobre o tema!…” O desafio de transmitir conhecimento científico complexo de forma simples e ser inspiradora. Dado o meu trabalho junto das escolas, desde 2005, para explicar os mecanismos de interação do álcool e das drogas de abuso com o cérebro e a investigação de fatores metabólicos e genéticos na toxicodependência, foi assim que o termo me surgiu para a conferência, a 19.05.2014.
Existem áreas cerebrais “chave”, que integram a chamada “via da recompensa”: a região límbica no “centro” do cérebro (formada por um conjunto de estruturas, e.g. amígdala, que controlam as emoções, os impulsos, as memórias, a resposta à dor, ao stresse, ao perigo e ao medo…), que é uma espécie de “acelerador” e o córtex pré-frontal, que coordena as decisões, atuando como “travão”.
Os neurotransmissores são atores nesta peça extremamente complexa. Existem fatores genéticos que influenciam a nossa resposta aos estímulos, mas o ambiente físico-químico e psicossocial tem grande influência no desenvolvimento de competências e capacidades. A compreensão desses mecanismos permite um melhor entendimento sobre o funcionamento do nosso cérebro para o bem-estar. A dopamina, a serotonina, endocanabinóides e endorfinas endógenas são os principais neurotransmissores associados ao bem-estar.
Se por um lado a nossa genética é determinante para que a possibilidade de ser feliz, o meio-ambiente e as experiências de vida são decisivos para a concretização desse pressuposto, sendo fundamental uma boa alimentação, com os nutrientes para formar os neurotransmissores que protagonizam o bem-estar.
É possível modular (influenciar as características de funcionamento) e treinar o nosso cérebro para sermos mais felizes!
A felicidade é essencial à nossa sobrevivência como espécie.
No entanto, desengane-se quem acha que a felicidade é ter bem-estar em permanência! Momentos menos bons, infelicidades, dores, medos, perigos, inseguranças, desesperos, lágrimas, contrariedades, passos atrás, repouso, pausas, algum stresse, são temperos fundamentais para a felicidade! De facto, o excesso de dopamina está associado a psicose, sendo prevenido através do papel do córtex pré-frontal, atuando como “travão”, libertando outro neurotransmissor – GABA (ácido gama-aminobutírico), que impede a libertação de dopamina em excesso e mantendo o equilíbrio para a saúde mental, para que a via da recompensa funcione adequadamente.
A Felicidade é como o sal e o açúcar na comida! Tem de ser “Quanto baste”!
O conhecimento dá-nos liberdade, mas implica responsabilidade nas nossas escolhas para a saúde.
Vivemos tempos difíceis, com grandes desafios pessoais, familiares, profissionais e sociais, particularmente devido ao isolamento imposto pelo aparecimento da COVID-19. O vírus Sars-cov-2 entra no nosso organismo e fecha as portas do oxigénio, nos pulmões, impedindo que seja distribuído, através da circulação sanguínea, a todos os tecidos, onde é usado pelas fábricas da energia (mitocôndrias). Esta energia (ATP) é fundamental para a ocorrência de múltiplos processos bioquímicos e celulares, incluindo o funcionamento da via da recompensa e do sistema imunitário. O combate a este novo vírus é um desafio biomolecular para o nosso corpo, nomeadamente manter o funcionamento da via da recompensa e continuarmos a ter estratégias para a felicidade durante o isolamento e sobrevivermos caso sejamos infetados. A prevenção, seguindo as normas de segurança, continua a ser o melhor remédio.
É fundamental apreender a sentir a harmonia do bem-estar com aquilo que somos e com o que temos, encontrando o nosso superpoder! Por isso, deixo-vos o meu lema, que é o título do livro que estou a escrever, “Sejam felizes com o que tiverem à mão”©.
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