Por Ramiro Santos, jornalista
No ano em que se comemora o quinto centenário da viagem da circum navegação de Fernão Magalhães, dois algarvios fizeram-se ao mar numa arrojada aventura que saindo de Vila Real de Santo António os vai levar até “fim do mundo”.
José Viegas e Rui Viegas, dois irmãos, de 35 e 27 anos, respetivamente, da Aldeia Nova, em Monte Gordo, são os protagonistas desta odisseia marítima num pequeno veleiro de duas quilhas, seis metros de comprimento e um mastro de duas velas.
Saíram de VRSA a 23 de novembro, demorando 71 dias até atingirem a ilha do Sal e Mindelo, em Cabo Verde no passado dia 2 de fevereiro. Até lá, passaram por Rabat, El Jadida e Safin, em Marrocos, seguindo depois por Lanzarote, na Gran Canária e Cabo Bojador. Só aqui – após vinte dias sem saírem do barco – pisaram terra onde se demoraram por sete dias por terem contraído a Covid.
Em declarações ao POSTAL DO ALGARVE, José Viegas salientou que nos portos marroquinos foram ajudados “pelos pescadores e pelas autoridades locais que nos traziam alimentos de que necessitávamos”.
O último troço desta etapa levou-os do Bojador, à Ilha do Sal e a Mindelo, em Cabo Verde, onde se encontram e de onde vão partir para cruzar o Atlântico, tendo como destino numa primeira fase, a ilha de Martinica, no mar das Caraíbas. De seguida descerão toda a costa do Brasil e do Uruguai até entrarem, já na Argentina, no estreito de Magalhães e no Pacífico.
Os dois aventureiros, sublinharam que têm a rota definida mas sem tempo, e se não surgirem contratempos de maior “esperamos subir a costa do Pacífico na América do Sul, passando por Portomonte, no Chile, Ilha da Páscoa, fazendo o arquipélago da Polinésia francesa”, seguindo-se uma etapa até à zona norte do continente australiano. Daqui iniciarão a viagem de regresso, atravessando o índico com passagem pelo Cabo da Boa Esperança em direção a Portugal. “No fundo, o que pretendemos é repetir a rota da viagem de circum de navegação de Fernão Magalhães”, disse.
Em declarações ao POSTAL, José Viegas, um ex-agente da PSP, explicou que a maior motivação que tiveram para um empreendimento desta natureza foi o “espírito de aventura e um desafio aos próprios limites”, no ano em que se celebram os 500 anos da primeira viagem marítima de Fernão Magalhães à volta do mundo.
“Numa perspectiva de contemplação, queremos viver, sem pressa de acabar”, disse-nos José Viegas acrescentando: “Sem mais nem porquês, queremos observar as voltas do mundo ao sol, e da lua ao mundo, e tudo o mais que haja para ver e conhecer. Em suma, entendimento, clareza e lucidez”.
Sem apoios ou patrocínios de qualquer espécie, “até a pequena balsa salva-vidas que tínhamos, a oferecemos aos tripulantes de um veleiro francês que seguiam em dificuldades”, frisou José Viegas que admite trocar de barco nas Caraíbas, “pois este é pequeno demais para enfrentar o mar do atlântico sul”.
Ao contrário da navegação astronómica usada pelos navegadores quinhentistas, os dois temerários aventureiros algarvios, utilizam um “rádio VHF com um alcance de 30 milhas, GPS e cartas náuticas, para além de outros dispositivos ao dispor no Google”.