Os funcionários do Algarve Biomedical Centre (ABC) realizam um protesto esta quarta-feira para mostrar a sua preocupação pela “situação gravíssima que vive o consórcio”, que pode comprometer o seu futuro, segundo um comunicado hoje divulgado.
Em causa está um diferendo entre o presidente do ABC, Nuno Marques, e a administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) sobre quem deveria pedir o reembolso de uma verba de 1,3 milhões de euros que tinha sido disponibilizada pela Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) para a compra de 30 ventiladores durante a pandemia de covid-19.
Os ventiladores não passaram nos testes de segurança e qualidade e as duas partes responsabilizam-se mutuamente pelo pedido de reembolso ao fornecedor chinês, com o CHUA a avançar com duas ações contra Nuno Marques, uma delas por difamação.
Para mostrar “a sua preocupação e o seu desagrado” pelo que consideram ser uma “situação gravíssima que vive o consórcio, e que pode, em breve comprometer o futuro do Algarve Biomedical Center”, os trabalhadores vão concentrar-se a partir das 12:00 junto ao CHUA.
No comunicado, os trabalhadores alertam que este “impasse” criado pela “quebra de confiança” no presidente do ABC pode pôr “em risco mais de 120 postos de trabalho qualificados, bem como de mais de 80 milhões de euros em projetos celebrados”.
“Reconhecendo todo o valor e empenho do trabalho desenvolvido pela atual direção, e em sintonia com a sua visão estratégica, os funcionários manifestam o seu voto de confiança na mesma, apelando à sua continuidade”, posicionaram-se os trabalhadores.
A situação atual tem, segundo a mesma fonte, um “claro impacto para o ecossistema científico e de apoio à saúde pública no Algarve e no país” e “condiciona” a “continuidade do projeto”, ao “limitar e dificultar as relações institucionais” entre as partes.
“Este impasse compromete todo um ecossistema de apoio à saúde da população, de reconhecimento nacional e internacional, e que foi fundamental em fases críticas como a da pandemia de covid-19, bem como centenas de projetos de inovação, num investimento conseguido que supera os 80 milhões de euros”, argumentaram os funcionários.
Ao ficar comprometida a ação do ABC, estão também “em risco” as “ações de rastreio e testagem no âmbito da covid-19 na região do Algarve e a nível nacional”, o “funcionamento da linha SNS24 (uma vez que os funcionários do consórcio garantem mais de 1000 horas diárias de atendimento em linha)” ou “projetos celebrados com a Agência Europeia do Medicamento (EMA), com o Programa Operacional Regional do Algarve (CRESC Algarve)”.
“Também em risco estão o desenvolvimento do Observatório Nacional do Envelhecimento e o Algarve Active Ageing, entre muitos outros projetos estratégicos nacionais”, acrescentaram os trabalhadores do ABC, que apelam “à concertação entre os membros do consórcio”.
Os funcionários recordam que o Algarve é uma região com “fragilidade” no que respeita ao “crónico problema da falta de médicos” e alertam que a “instabilidade do consórcio” tem “evidentes consequências no processo de formação e qualificação de profissionais de saúde” e pode ter como “consequência” um “retrocesso de dezenas de anos”.
O ABC é um consórcio detido em partes iguais pelo Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e pela Universidade do Algarve.