A primeira vacina contra a covid-19 de segunda geração estará disponível dentro de dois meses. O diretor executivo da Pfizer, Albert Bourla, anunciou esta segunda-feira que a vacina adaptada à variante Ómicron “ficará pronta em março” e que a empresa “está a começar a produzir algumas doses”. Paralelamente, países como Israel estão a apostar na administração da quarta dose à população, apesar de a atual vacina não se revelar tão eficaz contra a Ómicron. Afinal, o que faz mais sentido: avançar com doses de reforço ou esperar por um imunizante novo?
Para o investigador do Instituto de Medicina Molecular, Miguel Prudêncio, falar em vacinas de segunda geração é “algo ainda especulativo”, incluindo as especificamente dirigidas à Ómicron. Ainda não se sabe como é que a variante se vai comportar nos próximos meses, nem até que ponto faz sentido os países encomendarem vacinas desenhadas para a Ómicron, justifica o professor de microbiologia da Faculdade de Medicina na Universidade de Lisboa.
Portugal é um desses países que já encomendou uma vacina dirigida à nova variante, como informou o primeiro-ministro em dezembro. “Está a decorrer um processo de compra conjunta de uma vacina já adaptada à Ómicron, que estará disponível após a primavera, e já apresentámos o pedido de aquisição”. Segundo António Costa, foi encomendada quantidade suficiente para administrar “uma quarta dose de reforço, se ela vier a ser necessária, como infelizmente é de prever que virá a acontecer”.
As vacinas de segunda geração “têm muito para serem melhores”, diz Nuno Vale. O investigador de farmacologia do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde enumera a longa lista de vantagens: já conseguem ser testadas para as variantes mais recentes; a administração pode ser mais prática (via oral ou intranasal); o processo de acondicionamento e distribuição mais prático também; e a zona de atuação da vacina pode ser mais concentrada no trato respiratório, para evitar que algumas partículas virais cheguem aos pulmões.
Primeiro, reforçar com a vacina existente. Depois, dar fármaco de segunda geração
A terceira dose da vacina ainda não foi alargada a toda a população portuguesa: neste momento, o autoagendamento está disponível para os maiores de 45 anos. Para a restante população que ainda não recebeu a dose de reforço, faria sentido esperar pela nova vacina? Os especialistas ouvidos pelo Expresso dizem que não. No entanto, se falarmos de quarta dose, a resposta já muda.
A prioridade neste momento, como diz Miguel Prudêncio, é “fazer os reforços com a vacina atualmente existente”. Sabemos que a terceira dose é “claramente benéfica” a proteger contra a infeção e doença grave provocada pela nova variante. E, atualmente, é isso que “está à nossa disposição” e que “sabemos que funciona”.
A opinião do investigador é que devemos avançar com a vacina existente no momento em que formos elegíveis para receber o reforço, até porque não seria “prudente ou desejável adiar a terceira dose” em função de uma vacina dirigida à Ómicron, que se prevê chegar numa dada altura, mas que pode ”sofrer atrasos ou não estar disponível”.
“É preferível aguardar pelas vacinas de segunda geração”
Investigador de farmacologia do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Para Nuno Vale, também faz sentido alargar ao máximo a terceira dose com o fármaco atual, mas na eventual quarta dose “é preferível aguardar pelas vacinas de segunda geração”. Em primeiro lugar, porque Portugal já tem uma percentagem muito elevada de vacinados, incluindo com a dose de reforço, a acrescer à imunidade natural depois desta quinta vaga, explica o professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
E em segundo lugar, porque dentro de poucos meses teremos novidades sobre fármacos que ”serão mais eficazes e darão uma maior proteção”. Por isso, insiste, “não deveríamos dar a quarta dose em Portugal, deveríamos aplicar a vacina de segunda geração”. O investigador de farmacologia avança ainda que, atualmente, há mais de 100 ensaios clínicos a decorrer e, destes, cerca de 41 são de fase três. Seria estranho se não tivéssemos, pelo menos, “dois ou três imunizantes para aplicação ainda este ano”.
É importante continuar a acompanhar e a recolher os dados que permitirão dizer se uma vacina de segunda geração tem realmente uma vantagem adicional sobre as atuais, lembra Miguel Prudêncio. E, eventualmente, quando ambas estiverem disponíveis em Portugal, serão as próprias autoridades de saúde a aconselhar aquela que for mais adequada para a quarta dose, nota, por último, o investigador.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL