A direção da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna vem manifestar publicamente a sua solidariedade com os diretores dos três serviços de Medicina Interna do Hospital de Faro, que colocaram o seu lugar à disposição na sequência de acusações do director de departamento, de que os internistas viam mal os doentes, pediam exames a mais e não davam altas atempadas.
Portugal tem a sorte de poder contar com internistas competentes e eficientes, que põem os doentes no centro das suas preocupações, que estão na vanguarda das inovações organizacionais, que suportam nas urgências o acréscimo sazonal de doentes, que assistem doentes internados que excedem em muito a lotação dos seus serviços, que passam muito do seu tempo a tentar resolver os problemas sociais dos doentes, que garantem também as urgências internas, que estão nas unidades de cuidados intermédios, de Acidente Vascular Cerebral, de Insuficiência Cardíaca, nos hospitais de dia e nas consultas. Para além disso formam os alunos das faculdades, os internos do ano comum, os internos a fazer formação específica em Medicina Interna e outras especialidades médicas e ainda fazem investigação, colaboram em auditorias e participam em múltiplas comissões hospitalares. Todos reconhecem que a Medicina Interna é uma especialidade nuclear nos hospitais, cada vez mais necessária, porque os hospitais estão invadidos por doentes idosos com múltiplas patologias. Os especialistas de Medicina Interna conseguem tudo isto à custa de muito trabalho realizado para lá dos seus horários, muitas noites passadas no hospital e sem qualquer tipo de incentivo por produção adicional.
A visibilidade mediática das urgências e a incapacidade dos hospitais adaptarem o seu modelo organizacional à evolução demográfica dos doentes a quem têm de dar resposta colocam os internistas no olho do furacão e debaixo de uma pressão repetida das administrações.
Os colegas de hospital de Faro fazem parte desta gesta de internistas que tudo tem feito para que as consequências da crise económica, que ainda não terminaram no sector da saúde, não recaiam sobre os doentes. Os serviços de Medicina deste hospital estão actualmente com uma taxa de ocupação de cerca de 150%. Mais de 20% destes doentes já teve alta clínica, mas permanecem internados por motivos sociais ou a aguardar vaga na Rede de Cuidados Continuados, inscrevendo-se a sua demora média na média nacional. Os números de Faro são semelhantes aos da grande maioria dos serviços de Medicina dos hospitais do SNS. As suas angústias pela impotência sentida perante as disfunções e as carências do sistema são semelhantes à realidade da grande maioria dos internistas: os casos sociais que se acumulam, a falta de resposta dos exames complementares, a insuficiência de pessoal, a sobrecarga assistencial e outras.
A actividade, a competência e a dedicação dos internistas do hospital de Faro, como a de todos os internistas em todos os hospitais do SNS é digna de reconhecimento, de estímulo e de incentivo, e é por isso que consideramos profundamente injustas as acusações feitas a estes colegas e é por isso que as sentimos como se tivessem sido feitas a todos os internistas portugueses. Esta atitude não pode ser desvalorizada por quem tem a responsabilidade pelo bom desempenho dos hospitais do SNS. Estas atitudes têm um efeito desmotivador e a motivação é uma das principais armas que restam a quem tem de gerir equipas. Estas atitudes empurram os melhores para fora do SNS. É crucial dar sinais concretos de apoio, incentivo e recompensa à Medicina Interna portuguesa, porque os nossos doentes vão precisar cada vez mais de internistas competentes e motivados.
* em nome da SPMI