Os programas de gestão de listas de espera na área da saúde da visão fracassaram em toda a linha. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2018, a lista de espera para a primeira consulta hospitalar de especialidade de oftalmologia era superior a 233.000 pessoas com tempos de espera superiores a 1.000 dias.
As barreiras de acesso aos cuidados para a saúde da visão no Sistema Nacional de Saúde (SNS) são “crónicas, gigantescas e aumentam de ano para ano e a pandemia de COVID-19 veio agravar a situação para um patamar ainda mais crítico”, afirma a APLO em comunicado.
“Este cenário resulta da falta de integração dos cuidados para a saúde da visão e do incorreto planeamento da força de trabalho, e quem o diz é a própria Organização Mundial de Saúde. Não adianta atirar dinheiro para algo que está fundamentalmente errado” diz Raúl de Sousa, presidente da Associação de Profissionais Licenciados de Optometria (APLO).
Cinquenta por cento das causas de problemas visuais em Portugal são erros refrativos que podem e devem ser atendidos, diagnosticados, prescritos e tratados nos cuidados de saúde primários.
Os optometristas são especialistas a tratar erros refrativos, síndromes de visão binocular e são treinados para detetar quando há anomalias no olho. Os optometristas são formados pelas mesmas faculdades e escolas que formam os médicos, garantindo a mesma qualidade e segurança.
Para Raúl de Sousa “a solução técnica e científica para assegurar acesso universal aos cuidados para a saúde da visão, é garantir cuidados de proximidade e na comunidade, através de força de trabalho bem planeada e organizada com oftalmologistas, optometristas e ortoptistas em trabalho de equipa multidisciplinar e distribuídos pelos vários níveis de cuidados do SNS”.
Recentemente um inquérito realizado, a 217 médicos de família em 58 centros de saúde da comunidade autónoma de Navarra, em Espanha, sobre a implementação da consulta de optometria nos centros de saúde, revela que 86% dos médicos de família encaminhavam os seus doentes para esta consulta quando detetavam perda de acuidade visual à distância ou presbiopia.
Após dez anos da implementação da consulta de optometria nos centros de saúde, Navarra tinha apenas 3.683 pacientes a aguardar uma primeira consulta no serviço de oftalmologia, sendo a quarta comunidade autónoma, em 2016, com a menor taxa na lista de espera no SNS.
O mundo caminha alinhado com o Programa de Visão da OMS que visa facilitar a integração dos cuidados da saúde da visão na cobertura universal de saúde.
Portugal além de não seguir esta tendência, continua inerte em políticas obsoletas que não asseguram o direito a uma prestação de cuidados de saúde primários da visão eficiente e atempada. É absolutamente crítico refletir sobre a realidade atual e futura dos cuidados para a saúde da visão no nosso país.
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