A imagem pode ser distante e até nos parecer um pouco utópica tendo em conta a evolução da pandemia em Portugal e no mundo neste início de verão, estação em que o prazer e o amor costumam ordenar, mas pode dar-nos algumas indicações sobre o modo como a nossa vida sexual será no pós-Covid-19.
O que, para já, sabemos é a influência que a pandemia e as medidas restritivas aplicadas para a sua contenção têm provocado a nível físico e mental na vida sexual ativa de todos nós.
Não só as atividades sexuais podem aumentar o risco de transmissão do novo coronavírus, como as incertezas da pandemia, trazem um conjunto de desafios que podem “interferir com as relações emocionais, a intimidade entre pessoas” e, por consequência, na “atividade sexual e a sexualidade individual”, explica a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP).
Em clínicas espalhadas por todo o país, os relatos de ausência de intimidade por causa da pandemia multiplicam-se e não partem apenas de solteiros, mas também de casais.
Para quem está numa relação, a pandemia pode ter vindo acentuar as diferenças no que diz respeito ao desejo sexual. Se alguns encontram no sexo uma forma de escape à ansiedade e incerteza em que se vive, outros acabaram por perder o interesse e o desejo.
Já para quem não está numa relação, a oportunidade para conhecer alguém novo e ter encontros sexuais foram reduzidos a quase zero, o que, explica a OPP, aumentou o sentimento de isolamento e solidão, uma vez que as pessoas se retraem a combinar encontros pelo medo de serem infetadas.
Isto está vinculado aquilo que os especialistas em saúde sexual denominam como “modernidade líquida”, caracterizada pelo descompromisso nos relacionamentos, provisoriedade e individualidade que se verificava antes da pandemia. Porém, quando essa liberdade é coartada, como acontece atualmente, acaba por desencadear-se uma sensação de desamparo e patologias mentais, como depressão e ansiedade, decorrentes da solidão e isolamento.
Conselhos para que se reinvente a intimidade e a sexualidade durante a pandemia de Covid-19
Apesar dos avanços na vacinação e no melhor conhecimento da doença causada pelo Sars-Cov-2, a pandemia não irá desaparecer tão cedo, tempo que a vida sexual de todos nós não pode esperar, sob pena de mais pesadas faturas sobre a saúde física e mental.
Por isso, entre outras coisas, procure viver a sexualidade de forma diferente e apostar na masturbação. Assim, diversas entidades recomendam que:
- ♦ Masturbe-se e masturbe
Apesar da sexualidade a solo não competir com a sexualidade com um parceiro, são prazeres diferentes, a masturbação (a solo ou com a sua cara metade) pode ser uma excelente forma de obter e dar prazer, bem como, enquanto casal, as pessoas se conhecerem melhor do ponto de vista sexual.
Aliás, durante a pandemia, está a observar-se que a masturbação está a comportar-se como um aliado, sobretudo das mulheres. Elas passaram a explorar a sua sexualidade a solo de uma forma que não faziam antes e a descobrir a importância do clítoris no prazer sexual, sim, em 2021.
O que acabamos de dizer vai ao encontro do crescimento das vendas de sex toys em Portugal durante o último ano, um aumento de cerca de 20% de acordo com a Control, em particular entre as pessoas do sexo feminino.
Foi o que acabou por acontecer na sex shop em Lisboa – Vibrolandia. Segundo Pedro Correia, desde março de 2020 as vendas têm vindo a crescer de forma sustentada, com particular enfoque nos teledildónicos, mistura perfeita entre vibradores e tecnologia que podem ser manipulados à distância (via Internet ou Bluetooth) e os sugadores de clitóris.
Estes e outros sex toys podem, de igual forma, desempenhar um papel importante na criação de jogos sexuais, conselho que vamos detalhar já de seguida.
- ♦ Crie Jogos Sexuais e aposte no Sexting (mesmo se está numa relação casal)
Para além de criar encontros virtuais, partilhar músicas ou escrever uma carta de amor, a OPP incentiva a criação de novos hábitos, como jogos sexuais, partilha de fantasias ou procurar estímulos sexuais que funcionem à distância.
O exercício do sexting, troca de mensagens de cariz sexual, são uma boa aposta, mesmo que o casal esteja na mesma casa. Para enriquecer a experiência de sexting pode-se juntar, com os devidos cuidados de privacidade, a partilha de fotografias ou vídeos, dado que, enriquecem a vida sexual e estimulam a imaginação.
- ♦ Aprenda mais sobre sexualidade
Esta altura também pode ser uma excelente altura para aprender mais sobre sexualidade e descobrir as suas e as preferências da/o companheira/o.
Sozinho ou acompanhado, leia livros ou veja documentário sobre sexualidade. Esta poderá ser uma forma de descobrir novas fontes de prazer. Por exemplo, na plataforma de streaming Netflix estão disponíveis, entre outras, a série documental Sex, Explained (O Sexo Explicado) e a série de ficção Sex Education.
É proposto ainda que o casal converse abertamente sobre a sexualidade. A expressão dos sentimentos e a comunicação acerca da sexualidade contribui para o aumento da satisfação sexual”, explica a OPP.
- ♦ Crie espaço para usufruir da companhia do outro e aceite as dificuldades
Para os casais com filhos, a OPP sugere que deitem as crianças sempre num horário específico que permita, assim, “criar um espaço” para usufruir da companhia um do outro.
A falta de desejo sexual ou as dificuldades na estimulação do outro não devem ser entraves. É importante aceitar que a pandemia tem repercussões na vida sexual e que dificuldades como a ausência de desejo ou excitação são naturais e, aliás, expectáveis.
- ♦ Proteja-se
Nunca é demais sublinhar a importância da proteção. Infelizmente, a Covid-19 não veio acabar com as DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e, como tal, é fundamental que continue a proteger-se e a proteger os outros. Use preservativo.