O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares criticou este domingo a “falta de estratégia por parte do Governo”, considerando que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tornou-se “pouco atrativo” para captar médicos.
“Houve claramente falta de uma estratégia por parte do Governo. Os hospitais têm sinalizado esta carência sistematicamente, têm pedido contratos e têm pedido uma alteração das regras, nomeadamente de recrutamento de profissionais”, disse Xavier Barreto, em entrevista à TSF-Jornal de Notícias.
Segundo o mesmo responsável, há médicos para recrutar, nomeadamente os mais novos, que têm optado por sair do SNS.
No entanto, sustentou, que SNS se tem tornado “pouco atrativo” para reter aqueles que se formam todos os anos, porque a grelha salarial e a progressão na carreira já não são adequadas.
O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares sublinhou que se foram “criando incentivos para as pessoas abandonarem o contrato individual do trabalho e para migrarem para outras situações, seja o privado ou a prestação de serviços”.
O responsável defendeu também que é preciso pagar mais aos médicos e premiar os melhores.
“O salário que está a ser pago atualmente é completamente desajustado, a tabela que está a ser utilizada agora data de 2012. Em 10 anos tudo mudou, o custo de vista é radicalmente diferente. 2.750 euros há 10 anos era uma coisa agora é outra, a concorrência é completamente diferente e o setor privado é completamente diferente, onde o profissional pode ganhar melhor, ter melhores condições de trabalho e ter um horário menos penoso”, disse.
Xavier Barreto acrescentou que tem de ser criado um quadro “mais atrativo”, que “possa eventualmente pagar melhor” e que “retribuam melhor àqueles que têm melhor desempenho”.
“O SNS tem todo o interesse em reter aqueles que são os melhores, o privado quando vem ao SNS recrutar recruta os melhores”, precisou.
Na entrevista, o responsável considerou também que o modelo das Parceria Público-Privada (PPP) “foi mais eficaz porque tinha as ferramentas adequadas”, nomeadamente a autonomia do Conselho de Administração que permitia o recrutamento das pessoas que necessitava e o pagamento em função do seu desempenho, bem como “penalizações perante a indisponibilidade do serviço de urgência”.
“Estas ferramentas podem ser replicadas no modelo de gestão público, nada o impede”, disse, exemplificando com os hospitais de Braga, Loures e Vila Franca de Xira que têm atualmente problemas, mas tal nunca aconteceu durante o período em que eram PPP.
O responsável sustentou igualmente que parece haver desconfiança da tutela em relação à capacidade dos administradores hospitalares ao não replicar essas ferramentas das PPP no SNS.
Segundo o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, o SNS “está em más condições e nesta altura não consegue concorrer com o setor privado”, sendo difícil captar médicos estrangeiros, nomeadamente na Europa, para trabalhar em Portugal devido aos baixos salários.
“Não sei que médicos estrangeiros é que estarão disponíveis para vir para Portugal, não estou a ver qual é o país, nomeadamente na Europa, que tenha uma grelha salarial mais baixa do que a nossa”, precisou, considerando que a suborçamentação dos hospitais faz com que sejam menos eficientes.
Xavier Barreto disse ainda que devido a toda a conjuntura internacional o financiamento dado este ano aos hospitais “é insuficiente”, salientando que “todos os hospitais têm resultados negativos neste momento, sendo a consequência mais gravosa para os fornecedores.