“Não tentem arranjar bodes expiatórios para a incompetência de quem gere a pandemia, que seja repensada e programada a estratégia da sua gestão, e não se ande sempre a correr atrás do prejuízo”, afirma o SIM em comunicado.
A reação do sindicato surge depois de uma carta – que o SIM divulga no comunicado – enviada em 26 de dezembro pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, aos presidentes das cinco Administrações Regionais de Saúde para maximizar a resposta dos Cuidados de Saúde Primários aos doentes com suspeita de Covid-19, tendo em conta a atual situação epidemiológica.
Na carta, a diretora-geral da Saúde escreve que “a ausência de uma resposta adequada ao nível dos Cuidados de Saúde Primários para a atual situação epidemiológica tem motivado uma utilização excessiva e desadequada de Serviços de Urgência das unidades hospitalares”.
“Mais se informa que devem ser implementadas as medidas adequadas para a rápida identificação e isolamento dos casos de covid-19, incluindo a utilização de testes rápidos de antigénio nos ADR-C (áreas dedicadas a doentes respiratórios), nos termos da Norma 004/2020 e 019/2020 da DGS”, lê-se na missiva.
Para o SIM, “é lamentável que se tente transferir para os médicos de família a responsabilidade do anunciado caos nas urgências hospitalares”.
O sindicato salienta que os médicos de família “têm sido fustigados desde o primeiro dia da pandemia”, tendo respondido “prontamente às solicitações impostas pelo Ministério da saúde”.
“Os médicos de Medicina Geral e Familiar desdobraram-se entre seguir os seus doentes crónicos, dar resposta às áreas respiratórias covid na comunidade (ADR-C), apoiar a vacinação nos Centros de Vacinação Covid-19 e nos domicílios, mantendo ainda em funcionamento serviços de Atendimento Complementar. Contabilizaram mais de 19.000 horas de trabalho em telefone em acompanhamento de doentes covid, sete dias sobre sete, fins de semana de trabalho sem fim e muitas vezes nem sequer contabilizado como trabalho suplementar”, afirma o SIM no comunicado.
“Apesar da propaganda, os médicos de família continuam amarrados de pés e mãos. Requisitados à socapa para tarefas relacionadas com a pandemia e também cada vez mais ocupados com trabalhos burocráticos (vigilância de casos positivos assintomáticos, atestados de amamentação, cartas de condução…), obrigados a serem secretários das ineficiências da Segurança Social (baixas, relatórios, atestados…), gestores coagidos às manipulações de custos entre hospitais e centros convencionados, ‘copiando’ prescrições alheias como se nada mais houvesse a fazer…”, lamenta o SIM.
Questiona ainda se a Linha SNS24 pode emitir declarações de isolamento profilático, porque não pode haver um procedimento idêntico para os certificados de incapacidade temporária (baixas) dos doentes com covid-19.
“A questão é simples: há ou não falta de médicos?! Há, ou não, prejuízo grave para os doentes não covid com esta situação? Se sim, qual a moral de os ocupar com papéis? Responda quem souber… Mas desde já se diga alto e bom som: Libertem os Médicos de Família”, remata o SIM.