A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que mais de 50% da população da Europa tenha covid-19 nas próximas seis a oito semanas. A projeção foi avançada por Hans Kluge, o diretor regional da OMS Europa durante uma conferência de imprensa esta terça-feira.
Hans Kluge recordou que os não vacinados estão seis vezes mais suscetíveis a necessitarem de internamento do que os vacinados. O especialista referiu contudo que os dados mais recentes mostram que a eficácia da vacina cai após a segunda dose, mas é recuperada pela terceira dose.
Questionado sobre a iniquidade da vacinação entre continentes, o especialista considerou não existir contradição na Europa (que está a avançar com os reforços enquanto noutros continentes a primeira dose ainda não chegou à maioria da população). Hans Kluge considera que a abordagem a esta questão não deve ser “um ou outro”, mas sim promover a vacinação em todas as frentes.
“Enquanto houver iniquidade vacinal, a pandemia não acaba”, afirmou. “Nenhum país vai reforçar-se [ao ponto de sair] para fora da pandemia sozinho.” O diretor regional reconheceu contudo que embora a Europa tenha liderado a doação de vacinas a regiões mais empobrecidas, esta deve aumentar este esforço.
89% dos contágios com Ómicron apresentam sintomas
Segundo os dados mais recentes, a Europa reportou na primeira semana de 2022 mais de sete milhões de novos casos, “mais do que duplicando” o número em duas semanas. “As taxas de mortalidade permanecem estáveis e continuam elevadas em países com muitos casos e baixa cobertura vacinal.” A variante Ómicron foi detetada em 50 países da Europa e Ásia Central, estando a tornar-se a variante dominante e a expandir-se para os Balcãs.
Apesar de tender a apresentar sintomatologia mais ligeira, Hans Kluge voltou a sublinhar que a Ómicron não deve ser “subestimada” e que é altamente contagiosa devido às suas mutações, podendo afetar até recuperados e vacinados. “O controlo das infeções permanece muito importante.”
Na mesma linha, a responsável pelas situações de emergência na OMS Europa, outra das intervenientes na conferência, disse que os dados mais recentes parecem sustentar que a Ómicron é efetivamente menos grave que a Delta, mas sublinha que o aumento de infeções menos grave deve-se principalmente à cobertura vacinal.
Segundo Catherine Smallwood, a nova variante está a circular maioritariamente em países com altas taxas da vacinação, pelo que “não podemos generalizar esse cenário em todos os contextos”. Na opinião da especialista, não é possível garantir que nos países com menor vacinação os casos vão ser tão moderados.
Ainda assim, adianta que os dados preliminares sobre a Ómicron mostram que 89% dos casos continuam a apresentar sintomas e 1% resultam em hospitalizações. Embora o número de internamentos “não [seja] muito diferente do que vimos noutras variantes”, durante o internamento tende a haver menor progressão e necessidade de recurso a ventilação.
Por este motivo, Catherine Smallwood defende: é necessário “segurar as nossas armas” e “ter cuidado”. A especialista alerta para a necessidade de “não saltar para conclusões” e considerou precipitado mudar para já a estratégia de combate à pandemia.
“[A Ómicron] poderá trazer uma nova fase da pandemia, mas ainda não estamos lá.” Por isso, defende que os países continuem a avançar de acordo com as análises de risco regulares.
“O mais importante é isolar imediatamente após testar positivo”
Sobre a eficácia das vacinas, o conselheiro regional Siddhartha Sankar Datta sublinhou que as que estão atualmente aprovadas continuam a ser eficazes a prevenir doença grave e morte. Contudo, questionado sobre futuros planos vacinais, o especialista afirmou que ainda há “muitas incertezas”. A estratégia de vacinação deve continuar a privilegiar os grupos mais vulneráveis, defendeu.
De igual forma, os especialistas da OMS reafirmaram a confiança nos testes atualmente aprovados. Catherine Smallwood afirmou que os testes de PCR e rápidos funcionam na deteção de todas as variantes. “O mais importante é isolar imediatamente após testar positivo”, defendeu.
De acordo com os especialistas, os infetados são mais contagiosos imediatamente antes e após começarem a apresentar sintomas. Por isso, devem isolar-se imediatamente e notificar qualquer pessoa com quem tenham tido contacto nas 48h anteriores.
Hans Kluge rejeitou a hipótese de excluir totalmente os confinamentos. “Os confinamentos devem ser ferramentas de último recurso. Tudo deve ser feito para os evitar”, sublinhou. Afirmando a necessidade de equilibrar a saúde pública com a economia, o diretor regional reconheceu que não deixam de ser ferramentas possíveis para usar temporariamente de modo a gerar um “alívio”.
O especialista mostrou também a sua preocupação com o aumento da pressão nos hospitais e defendeu que o principal desafio é manter os profissionais de saúde e outros trabalhadores essenciais da linha da frente, que estão “sobrecarregados”. Hans Kluge argumentou ser importante pôr em marcha medidas para apoiar estes trabalhadores, de forma a preservar a sua saúde física e mental.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL