Os cientistas conseguiram reavivar um vírus que esteve congelado durante quase 50 mil anos, um feito que levanta preocupações quanto ao potencial de infeção para humanos e animais. Este fenómeno ocorre num contexto de aumento das temperaturas no Ártico, o que está a provocar o derretimento do permafrost — solo que permanece completamente congelado por mais de dois anos consecutivos, e em alguns casos, desde a última era glacial.
À medida que o permafrost derrete, a vida que esteve adormecida durante milénios é libertada. Entre esses organismos encontram-se vírus antigos, cuja reativação pode representar riscos significativos. Em entrevista à CNN, Kimberley Miner, cientista climática do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, sublinhou a gravidade da situação: “Há muita coisa a acontecer com o permafrost que é preocupante e isso realmente mostra por que é super importante que nós mantenhamos o máximo possível do permafrost congelado”.
O permafrost cobre cerca de um quinto do Hemisfério Norte, incluindo regiões do Alasca, Canadá e Rússia. Para avaliar os riscos associados à exposição a vírus previamente congelados, os cientistas decidiram reanimar alguns destes vírus para estudá-los.
Jean-Michel Claverie, professor emérito de medicina e genómica na Faculdade de Medicina da Universidade de Aix-Marselha, em França, liderou este estudo com o objetivo de verificar se os chamados “vírus zombies” ainda são infecciosos. A amostra mais antiga do vírus reanimado tinha cerca de 48.500 anos e foi extraída a 15 metros de profundidade, enquanto a amostra mais recente tinha 27 mil anos e foi encontrada nos restos mortais de um mamute lanoso.
Os resultados surpreenderam a comunidade científica: os vírus estavam não só vivos, como também se mostraram altamente infecciosos. Claverie explicou à CNN, fonte citada pelo Executive Digest, que utilizou “vírus que infetam amebas como substitutos de todos os outros vírus possíveis que possam estar no permafrost”. Ele acrescentou: “Vemos vestígios de muitos, muitos, muitos outros vírus. Então sabemos que eles estão lá. Não temos certeza se eles ainda estão vivos. Mas o nosso raciocínio é que, se os vírus da ameba ainda estão vivos, não há razão para que os outros vírus ainda não estejam vivos e sejam capazes de infetar os seus próprios hospedeiros”.
A ameaça não é apenas teórica. Em 2016, um surto de antraz na Sibéria, resultante da libertação de esporos com 75 anos devido ao degelo do permafrost, matou mais de 2.000 renas e infetou 13 pessoas. Este evento ilustra o potencial devastador da reativação de patógenos antigos e sublinha a necessidade urgente de monitorizar as mudanças no permafrost e as suas implicações para a saúde pública.
Com estas descobertas, os cientistas alertam para a importância de medidas preventivas e de investigação contínua para entender e mitigar os riscos associados ao derretimento do permafrost e à reativação de vírus antigos.
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