Ao longo dos últimos anos têm sido realizados vários ensaios clínicos com o objetivo de determinar se a administração de células estaminais provenientes do sangue e do tecido do cordão umbilical é uma solução viável no tratamento de Perturbações do Espectro do Autismo (PEA).
Um estudo recentemente publicado na revista científica Stem Cells Translational Medicine teve como objetivo “avaliar a exequibilidade e segurança de administrar uma, duas ou três doses de células estaminais mesenquimais (MSC, de Mesenchymal Stem Cells) do tecido do cordão umbilical a crianças com PEA”, refere a Crioestaminal em comunicado.
No ensaio clínico em causa participaram “12 crianças com PEA, com idades entre os quatro e os nove anos. Na primeira fase, três participantes receberam uma infusão de MSC; na segunda fase, três participantes receberam duas infusões de MSC; e, numa terceira fase, foram administradas três doses de MSC a seis participantes. No geral, aferiu-se que as infusões foram seguras e bem toleradas, tendo sido reportados apenas efeitos adversos ligeiros”.
Neste estudo, foram utilizadas “três medidas de avaliação de eficácia, duas baseadas em questionários preenchidos pelos pais – um relativo à capacidade de comunicação social e outro à severidade dos sintomas de autismo – e uma terceira baseada na avaliação por um médico especialista, tendo em conta várias dimensões, como as competências sociais, comportamentos restritos ou repetitivos e capacidade funcional da criança”.
Num total de 12 crianças, “metade demonstrou melhorias em pelo menos duas das três medidas analisadas”. No entanto, os autores advertem que “não é possível saber se as melhorias observadas se deveram ao tratamento, uma vez que o estudo não incluiu grupo controlo. Além disso, referem que, enquanto algumas crianças melhoraram substancialmente, outras demonstraram poucas ou nenhumas melhorias”.
Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, afirma que “este estudo indica que a administração de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical a crianças com PEA é segura e pode conduzir à melhoria dos sintomas. No entanto, é fundamental sustentar este e outros estudos já desenvolvidos com a realização de mais ensaios clínicos, envolvendo um maior número de participantes, para que seja possível retirar conclusões definitivas acerca da eficácia deste tipo de abordagem terapêutica”.
De forma a obter resultados mais conclusivos, o centro já iniciou um novo ensaio clínico de fase II, aleatorizado e controlado com placebo, para avaliar o efeito da infusão de MSC do tecido do cordão umbilical na melhoria das competências sociais em 164 crianças com PEA. Adicionalmente, prevê-se avaliar esta opção terapêutica em indivíduos adultos, estando já registado um ensaio clínico de fase I que incluirá 12 participantes com idades entre os 18 e os 35 anos.
As Perturbações do Espectro do Autismo (PEA) englobam “um conjunto de transtornos do desenvolvimento infantil caracterizadas por alterações nas competências sociais e pela presença de interesses restritos e comportamentos repetitivos”.
Nas últimas décadas, a sua incidência tem vindo a aumentar, estimando-se que afete, atualmente, cerca de uma em cada mil crianças portuguesas em idade escolar.