A Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau (APARF) assinala no próximo dia 28 de janeiro o 71.º Dia Mundial dos Doentes de Lepra e uma vasta rede de voluntários, sensibiliza a população nacional para a problemática da Lepra (quer na vertente de doença física quer na sua acentuada marca de estigma social) ao mesmo tempo que promove o peditório nacional.
O Dia Mundial dos Doentes de Lepra foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1954, a pedido de Raoul Follereau, a fim de alertar a população mundial para as condições de sofrimento e de miséria em que vivem muitos milhares de pessoas atingidas pela doença da lepra. Hoje é celebrado em cerca de 130 países.
Apesar da existência de tratamento para a doença da lepra e a mesma ter cura, ainda não foi erradicada sobretudo em países onde existem pessoas que continuam a viver abaixo do nível da dignidade humana e sem acesso a cuidados de saúde básicos. É necessário apostar na prevenção e no diagnóstico precoce para travar a propagação da doença. Dotando as populações mais pobres ao acesso a cuidados de saúde, água potável, condições sanitárias e alimentação básicas podemos eliminar a doença de lepra.
Sobre a APARF
A APARF – Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau, fundada em 1987, é uma IPSS, sem fins lucrativos, reconhecida oficialmente de utilidade pública. Tem Direcção Nacional e a sede em Lisboa. Integra um Núcleo Regional (de âmbito distrital) e várias dezenas de Grupos Locais (de âmbito de povoação ou freguesia).
Esta associação tem por objeto social prestar assistência material, sanitária e moral às pessoas afectadas pela doença de Hansen (lepra), e suas famílias. Promove acções de prevenção, tratamento e cura desta terrível doença, e de outras doenças estigmatizantes, resultantes da pobreza e da falta de condições sanitárias e alimentação básicas. Apoia em Portugal os doentes e ex-doentes de lepra e suas famílias.
Durante 37 anos da sua existência já diagnosticou e acompanhou milhares de doentes de lepra em mais de 50 países, de quatro continentes.
É membro da UIARF – União Internacional das Associações Raoul Follereau, sediada em Paris, França; está inscrita e acreditada como Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento; a sua acção é inspirada na vida e obra de Raoul Follereau.
Sobre Raoul Follereau
Escritor, jornalista e advogado francês, nascido em 1903, que deixou a sua actividade profissional para se dedicar exclusivamente à causa dos doentes de lepra, após um primeiro encontro com estes doentes, em 1935, no Níger. Em 1957 visita Portugal e o Hospital Rovisco Pais, na Tocha. Em 1966 criou o ILEP (Federação Internacional das Associações que lutam contra a Lepra no Mundo).
Em 1968 cria as Fundações Raoul Follereau e visita Portugal pela 2ª vez, proferindo conferências em diversos locais do país; visita o Hospital Rovisco Pais pela segunda vez. Em 50 anos ao serviço dos doentes de lepra, juntamente com Madeleine Boudou, com quem casou em 1925, deu a volta ao mundo várias vezes a visitar leprosarias/prisões, a proferir milhares de conferências, numa entrega total ao serviço destes estigmatizados doentes. Raoul Follereau faleceu em Paris, a 6 de dezembro de 1977. Contava 74 anos o “vagabundo da caridade” ou “apóstolo dos leprosos” como era frequentemente apelidado.
O que é a Lepra
A doença de Hansen mais conhecida como Lepra é uma doença infecciosa crónica, causada pela “Mycobacterium Leprae”, caracterizada por largo período de incubação (até dez anos ou mais). As primeiras referências escritas relativas à Lepra datam de 1500 anos a. C. Desde então a doença era considerada como um castigo divino, até que a identificação do bacilo veio esclarecer a sua causa. A identificação do bacilo responsável pela doença foi identificado em 1873 pelo médico norueguês Dr. Gerhard Armauer Hansen, daí provindo o nome de Doença de Hansen.
Os enfermos eram internados compulsivamente em Lazaretos ou ilhas de Leprosos ficando privados dos mais elementares direitos, como o casamento, família, circulação no território, herdar ou possuir bens. Tais medidas foram implementadas sobretudo para não contagiarem a restante família e sociedade.
A lepra não é hereditária, como se julgou durante muitos séculos, mas contagiosa pois passa de uma pessoa afectada a uma outra “susceptível”. O contágio verifica-se em ambientes e entre populações que sofrem de desnutrição, sem acesso a água potável e, portanto, de baixos padrões de higiene.
Apenas no século XX, na década de quarenta, se criou o primeiro medicamento, a sulfona, que conteve a proliferação da doença, mas não como tratamento definitivo e sua cura. Esta só foi possível a partir de 1980, com a poliquimioterapia – PCT.
Quando aplicados em prazos e doses adequadas permite o tratamento rápido, completo e não deixa sequelas no doente. No entanto, na ausência de vacina e, dado o longo período de incubação do bacilo, torna-se difícil a erradicação da doença.
Quando não é diagnosticada e tratada atempadamente, evolui e causa úlceras ao nível da pele, afecta o sistema nervoso periférico, mutila, provoca a cegueira e a morte.
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