Considerada a doença do século, o cancro é a segunda causa de morte em todo o mundo, sendo responsável, todos os anos, por 2,1 milhões de óbitos no velho continente. “As doenças oncológicas constituem, na Europa, um problema de saúde pública”, diz ao Expresso a presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO). Para Ana Raimundo, reduzir a mortalidade é “o grande desafio” para peritos e políticos, que devem ter a prevenção, o diagnóstico precoce, o tratamento e a investigação como prioridades.
O médico e oncologista Mário Fontes e Sousa, do Hospital CUF Tejo, acrescenta ainda a importância da educação e da literacia em saúde para que a população consiga mais facilmente detetar situações de alerta. Mas há, no entanto, algo mais que preocupa o especialista. “A estimativa é que 40% destas mortes poderiam ter sido prevenidas”, realça, acrescentando que “são estatísticas verdadeiramente perturbadoras”.
Inverter esta realidade depende não apenas do rastreio, mas também das tecnologias de saúde disponíveis em cada momento, como novos medicamentos ou equipamento mais avançado. “O acesso a cuidados de saúde de qualidade e experientes e o acesso a medicamentos mais inovadores e mais caros conduzem a resultados piores em saúde, com impacto nas curvas de sobrevivência [dos doentes]”, lamenta a responsável pela SPO.
É preciso, defende, garantir que todos os europeus têm o mesmo nível de acesso aos cuidados oncológicos que permitam melhorar a sua qualidade de vida e, no limite, salvá-la. Este é um dos principais objetivos da proposta legislativa da Comissão Europeia sobre Avaliação das Tecnologias de Saúde (ATS), que pretende centralizar a avaliação clínica de novas soluções terapêuticas e acelerar a sua disponibilização. “É um processo faseado em que vamos começar com os medicamentos na área da oncologia”, atesta o presidente do Infarmed Rui Santos Ivo, que liderou o grupo de trabalho encarregue deste dossiê.
“Os dirigentes [políticos] consideram que a investigação é um gasto e não um investimento”, afirmou Ana Raimundo, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia
Habituado a lidar com doentes oncológicos diariamente, Mário Fontes e Sousa faz questão de apontar “os impactos raramente contabilizados: os dias de ausência laboral, as reformas precoces, as sequelas duradouras, a perturbação sociofamiliar, as idas ao serviço de urgência e internamentos”. Acredita, por todas estas razões, que além de sensibilizar a população é urgente investir em investigação científica que permita avanços nesta área de especialidade. “Apenas com a colaboração entre instituições nacionais e internacionais Portugal poderá contribuir ativamente para avanços significativos e reais na vida dos doentes oncológicos, que tanto deles necessitam”, afirma.
A importância da investigação será um dos temas em destaque na agenda da Presidência Portuguesa do Conselho da UE, cuja atividade o Expresso, com o apoio da Apifarma, continua a acompanhar com o projeto “Mais Saúde, Mais Europa”. À segunda-feira, reunimos os eventos mais relevantes e à sexta-feira fazemos um resumo dos momentos-chave da semana.
25% da população europeia será diagnosticada com doença oncológica ao longo da sua vida. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, os cancros mais comuns são os de pulmão, mama, colorretal, próstata e pele
À segunda-feira, o ‘Mais Saúde, Mais Europa’ reúne os principais eventos da semana num projeto do Expresso com o apoio da Apifarma.
Conheça os destaques:
Segunda-feira, 3
- A semana arranca com a Cimeira Europeia de Investigação na Área do Cancro 2021, organizada pela Presidência Portuguesa com o apoio dos ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Este encontro acontece depois de, em fevereiro, a Comissão Europeia ter apresentado o Plano Europeu de Combate ao Cancro assente em quatro prioridades: prevenção, deteção precoce, diagnóstico e tratamento e melhoria da qualidade de vida.
- As prioridades da investigação científica e o fortalecimento de redes colaborativas a nível europeu estarão, também, no centro do debate. “É necessário investir em pessoas dedicadas apenas à investigação, meios tecnológicos e organizações especializadas”, pede Ana Raimundo. O novo plano comunitário prevê a utilização de €4 mil milhões em ações de luta contra o cancro, recorrendo a instrumentos do Programa UE Pela Saúde, do Horizonte Europa e do Programa Europa Digital.
- Mário Fontes e Sousa defende ainda que “umas das áreas mais promissoras [da investigação], e não limitada à oncologia, é a edição do DNA através da ferramenta CRISPR. Esta tecnologia prevê a possibilidade de corrigir individualmente o DNA alterado em determinado cancro, de modo a reverter as suas características nocivas à normalidade”, explica o oncologista.
- Além de especialistas nacionais e internacionais, a iniciativa vai contar com a presença da ministra da Saúde, Marta Temido, e do ministro da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, Manuel Heitor, que reconheceu ao Expresso a importância de reforçar o investimento nacional em I&D. “É um esforço público e privado enorme, mas não devemos desistir de continuar a aumentar [o financiamento de I&D]”, garante.
- Transmitida online a partir do IPO do Porto, a cimeira tem início às 09h e requer inscrição gratuita através da página oficial [link: http://ipoporto.pt/evento/european-cancer-research-summit-2021/].
Quarta-feira, 5
- Ao longo de três dias, a conferência HEPHIV2021, organizada pela EuroTEST, vai reunir peritos, responsáveis políticos e organizações comunitárias para debater novas tecnologias e abordagens na testagem integrada relacionada com VIH, hepatites virais, tuberculose e infeções sexualmente transmissíveis. Recorde-se que o objetivo apontado pela Organização Mundial de Saúde é a erradicação das doenças infecciosas até 2030, prazo aceite por países como Portugal.
- Além de apresentações, debates e reuniões temáticas, a iniciativa pretende retirar lições de aprendizagem na forma como os serviços de testagem se adaptaram aos desafios da covid-19. Entre as presenças, destaque para António Lacerda Sales, secretário de Estado e Adjunto da Saúde, Ricardo Baptista Leite, deputado e médico, John Ryan, diretor de saúde pública da Comissão Europeia, e Andrea Ammon, diretora do Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças.
- Este evento, com início marcado para as 14h (hora de Lisboa) de quarta-feira, é de acesso livre e gratuito, mas requer inscrição prévia através deste link [https://www.eurotest.org/Conferences/HepHIV-2021-Lisbon-Virtual-Conference].
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso