Os brasileiros são chamados às urnas este domingo para eleger quem vai governar o país nos próximos quatro anos. Mais de 156 milhões de eleitores vão escolher o Presidente da República, o Senado, o Governo estadual, além dos deputados estaduais e federais.
O voto é eletrónico e obrigatório entre os 18 e os 69 anos. As atenções centram-se na eleição presidencial, com principal destaque para os favoritos Jair Bolsonoro e Lula da Silva, mas na corrida ao Palácio do Planalto há mais nove candidatos.
A primeira volta realiza-se a 2 de outubro e, caso nenhum dos candidatos consiga 50% mais um dos votos, realizar-se-á uma segunda votação a 30 de outubro com os dois candidatos mais votados.
Às presidenciais brasileiras concorrem: Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Simone Tebet, Luiz Felipe D’Ávila, Soraya Tronicke, José Maria Eymael, Kelmon Souza, Leonardo Pericles, Sofia Manzano e Vera Lúcia. São estes os 11 nomes que disputam o cargo de Presidente do Brasil. Com percursos bem distintos, há estreantes e veteranos, candidatos que concorrem pela quarta e pela sexta vez.
Quem são os candidatos às presidenciais?
Jair Messias Bolsonaro – Partido Liberal (PL)
É Presidente do Brasil desde 1 de janeiro de 2019. Antes da primeira candidatura ao Palácio do Planalto, em 2018, foi deputado federal pelo Rio de Janeiro, cargo que ocupava desde 1990. Foi também vereador da capital fluminense durante dois anos.
O candidato à reeleição para a presidência brasileira tem 67 anos, atualmente é filiado no Partido Liberal e formou-se na na Academia Militar das Agulhas Negras, em 1977. Ocupou o cargo de capitão do Exército, antes de passar à reserva.
Bolsonaro deixou a carreira militar e dedicou-se à política em 1988, ano em que concorreu à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, sendo eleito vereador como membro do Partido Democrata Cristão.
Nasceu na cidade de Glicério, no interior de São Paulo, e residiu em várias cidades deste estado durante a infância. É o terceiro de seis irmãos e conta que o interesse pelo Exército surgiu ainda na adolescência.
Bolsonaro é casado com Michelle Bolsonaro e pai de cinco filhos. Em 1986, quando exercia o cargo de capitão no 8.º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, Bolsonaro esteve preso durante 15 dias depois de escrever um artigo na revista Veja no qual criticava os baixos salários dos militares. A detenção gerou uma onda de apoio, desde as altas patentes a familiares de militares. Dois anos mais tarde, acabaria por ser absolvido pelo Tribunal Militar.
Apresenta-se como candidato antissistema, de extrema-direita, defensor do uso de armas de fogo e dos valores da família. Defensor do liberalismo económico, propõe a privatização das empresas estatais e a liberdade econômica como mecanismo de promoção de bem-estar social.
Tem como aliado e candidato ao cargo de vice-presidente um militar de carreira, o general Braga Netto, também militante do Partido Liberal, que liderou a pasta da Defesa e foi ministro-chefe da Casa Civil no seu Governo.
Na votação eletrónica, o eleitor tem de digitar o número do candidato que pretende eleger. A Jair Bolsonaro foi atribuído o número 22.
Luiz Inácio Lula da Silva – Partido dos Trabalhadores (PT)
Natural de Garanhuns, em Pernambuco, cedo deixou este estado e migrou para São Paulo com a família, de origem humilde. Sétimo filho de um casal de agricultores analfabetos, começou a trabalhar muito novo e exerceu diversas profissões. Aos 14 anos, foi empregado numa metalúrgica e admitido no curso técnico de torneiro mecânico. Foi num acidente de trabalho, aos 17 anos, que perdeu o dedo mindinho da mão esquerda.
Já como sindicalista, recebeu a alcunha de “Lula”, que mais tarde viria a incluir oficialmente entre os seus apelidos ao fazer a alteração jurídica do seu nome.
Esta é a sexta vez que Lula da Silva concorre ao cargo de Presidente da República e as últimas sondagens apontam-no como o candidato mais votado. A primeira candidatura foi em 1989, depois em 1994 e 1998, mas foi em 2002 que venceu pela primeira vez as eleições, na segunda volta, tal como aconteceu em 2006, quando foi reeleito.
Liderou greves de operários durante a ditadura militar, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores, em 1980, e foi uma das principais figuras do movimento “Diretas Já”, no período da redemocratização, quando iniciou a carreira política.
Em 1986, o ex-Presidente foi deputado federal por São Paulo por um mandato, com a maior votação para a Câmara Federal até aquele momento, tendo participado da elaboração da Constituição Federal de 1988, antes de dar o salto para a política nacional.
Em 2010, foi considerado um dos políticos mais populares da história do Brasil, enquanto Presidente. A suceder-lhe no cargo teve uma aliada, Dilma Rousseff, que foi chefe da Casa Civil no seu Governo.
Lula da Silva também foi pré-candidato à Presidência em 2018, mas o seu nome foi impugnado pelo Tribunal Superior Eleitoral após ter sido detido no âmbito da Operação Lava Jato. Em 2017, o então juiz federal Sergio Moro considerou-o culpado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Contudo, em 2021, o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações do ex-Presidente, deixando o caminho aberto a uma nova candidatura.
A questão do desenvolvimento social está no topo do programa eleitoral de Lula da Silva, político de esquerda que tem feito algumas cedências ao centro. O candidato propõe mais investimento em áreas estratégicas, como habitação e reforma agrária. O ex-Presidente quer também recuperar alguns projetos na área da saúde, avançar com uma reforma tributária e recuar na privatização da Eletrobras, empresa estatal de energia, considerada a maior do setor na América Latina.
Lula da Silva tem 76 anos, é viúvo de Marisa Letícia e pai de cinco filhos. Casou-se novamente em maio deste ano com a socióloga Rosângela da Silva. O seu candidato a vice-presidente é um antigo rival político que enfrentou nas presidenciais de 2006: o ex-governador Paulista, Geraldo Alckmin.
O candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, é representado nas urnas pelo número 13.
Ciro Gomes – Partido Democrático Trabalhista (PDT)
Esta é a quarta vez que Ciro Gomes se apresenta com candidato à Presidência da República. Nas eleições de 2018 chegou ao terceiro lugar com 12,5% dos votos. Advogado e professor universitário, tem uma longa carreira política, na qual já ocupou altos cargos.
Começou como deputado estadual pelo Ceará antes de ser eleito prefeito da capital, Fortaleza, entre 1989 e 1990. Depois foi governador do mesmo estado (1991-1994) e ocupou Ministérios nos Governos de Itamar Franco e Lula da Silva. Foi também deputado federal, entre 2007 e 2011.
Tem 64 anos, é natural de Pindamonhangaba, no estado de São Paulo, mas aos 4 anos anos a família instalou-se em Sobral, no Ceará, cidade natal do pai, e onde Ciro Gomes estudou até à conclusão do ensino secundário.
Licenciou-se em Direito na Universidade Federal do Ceará e foi professor de Direito Tributário e Direito Constitucional. Tem quatro irmãos, dois deles também seguiram a carreira política. Casado com Giselle Bezerra, é pai de quatro filhos.
A sua candidata a vice-presidente é a vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos. O candidato Ciro Gomes, do Partido Democrático Trabalhista, é representado nas urnas pelo número 12.
Simone Tebet – Movimento Democrático Brasileiro (MDB)
É descendente de uma família libanesa radicada no Mato Grosso do Sul. O pai, Ramez Tebet, foi senador e ex-presidente do Congresso Nacional.
Escritora, advogada, professora, é filiada no Movimento Democrático Brasileiro e atual Senadora do estado do Mato Grosso do Sul. Já desempenhou cargos que nenhuma outra mulher ocupou anteriormente no Brasil.
Iniciou a carreira política em 2002, ao ser eleita deputada estadual em Mato Grosso do Sul. Liderou a prefeitura na cidade de Três Lagoas, antes de ser vice-governadora do estado, no mesmo estado na região Centro-Oeste do Brasil.
Tem 52 anos, formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é casada com o deputado estadual Eduardo Rocha e tem duas filhas.
A sua candidata a vice-presidente é Mara Gabrilli, também senadora em primeiro mandato.
À candidata presidencial do Movimento Democrático Brasileiro, Simone Tebet, foi atribuído para a votação eletrónica o número 15.
Luiz Felipe d’Avila – Novo
É um estreante em eleições, mas o seu percurso pessoal e profissional tem ligações à política. Em 2008, fundou o Centro de Liderança Pública, uma organização sem fins lucrativos patrocinada por grandes empresas, que tem como objetivo desenvolver líderes públicos que procurem promover mudanças transformadoras.
Cientista político e mestre em Administração Pública, é neto de João Pacheco e Chaves, que foi deputado federal e presidente do Instituto Brasileiro do Café e secretário da Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, de onde Luiz Felipe d’Avila é natural.
Tem 58 anos, é casado e pai de dois filhos. O seu candidato a vice-presidente é o deputado federal Tiago Mitraud.
Na corrida eleitoral ao Palácio do Planalto pelo partido Novo, Felipe D’Avila é representado nas urnas pelo número 30.
José Maria Eymael – Democracia Cristã (DC)
Veterano com uma longa carreira política, esta é a sua sexta candidatura presidencial. Foi deputado federal por três mandatos entre 1986 e 1995, representando o estado de São Paulo. Integrou a Assembleia Constituinte que redigiu a Constituição Federal de 1988 e disputou por quatro vezes a prefeitura da capital paulista.
É advogado, empresário, fundador e atual presidente do Democracia Cristã.
Natural de Porto Alegre, do estado de Rio Grande do Sul, no sul do país. Tem 82 anos, é casado e pai de dois filhos.
José Maria Eymael tem como candidato a vice-presidente o economista João Barbosa Bravo (DC), ex-prefeito de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro.
Ao candidato presidencial do partido Democracia Cristã foi atribuído o número 27 para voto eletrónico.
Vera Lúcia – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU)
Repetente na prova presidencial, esta é a segunda vez que concorre ao Palácio do Planalto, a primeira foi em 2018. É uma das das fundadoras do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado e tem já um longo percurso político.
Disputou as prefeituras de São Paulo e Aracaju, capital do estado de Sergipe, na costa nordeste do Brasil, pelo qual disputou um lugar no Governo, sendo também candidata a uma vaga na Câmara dos Deputados.
Nascida numa família pobre em Pernambuco, licenciou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal de e desenvolveu um percursos profissional e político em prol da defesa da classe operária. Vera Lúcia foi diretora da Central Única dos Trabalhadores e da Federação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Têxtil.
Na candidatura do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, apresenta-se para vice-presidente Raquel Tremembé, indígena da tribo Tremembé, do Maranhão.
A candidata Vera Lúcia é representado nas urnas pelo número 16.
Leonardo Péricles – Unidade Popular (UP)
Mais conhecido como Léo Péricles, é um político e ativista que se tornou conhecido por liderar os movimentos contra o Campeonato do Mundo de Futebol no Brasil, em 2014.
É presidente e foi um dos fundadores da Unidade Popular, partido pelo qual concorre pela primeira vez à Presidência da República. Tem apenas 40 anos, é técnico de eletrónica e mecânico de manutenção de máquinas.
Léo Péricles tem já um longo percurso como ativista na luta contra o racismo e pelas causas sociais.
O partido Unidade Popular apresenta como candidata a vice-presidente Samara Martins, dentista, também natural de Minas Gerais e ativista.
Ao candidato presidencial foi Leonardo Péricles atribuído número 80 para o voto eletrónico.
Sofia Manzano – Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Esta é a segunda vez que entra na corrida ao Palácio do Planalto, embora na estreia tenha concorrido ao cargo de vice-presidente. Filiada no Partido Comunista Brasileiro desde 1989, Sofia Manzano foi número 2 na candidatura de Mauro Lasi, em 2014.
Licenciada em Economia, mestre em Desenvolvimento Económico e doutorada em História, é professora na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Sofia Manzano tem 51 anos, nasceu em São Paulo, é casada e tem um filho.
O início da carreira política foi como presidente da União da Juventude Comunista. A professora e economista tem como candidato a vice-presidente o jornalista Antonio Alves.
Sofia Manzano disputará esta eleição presidencial com o número 21.
Soraya Thronicke – União Brasil (UB)
Foi indicada como candidata à Presidência pelo partido União Brasil a 2 de agosto, após a desistência do pré-candidato Luciano Bivar. Esta é a primeira vez que entra na corrida presidencial.
Soraya Thronicke tem 49 anos e foi eleita senadora pelo estado do Mato Grosso do Sul em 2018, para um mandato com final previsto em 2026.
Descendente de alemães, Soraya Thronicke é advogada, licenciou-se em Direito na Faculdade de Campo Grande, cidade onde foi criada, tendo nascido em Dourados, também no estado do Mato Grosso do Sul. A candidata tem ainda um MBA em Direito Empresarial, tirado na Fundação Getúlio Vargas, e várias pós-graduações.
A advogada tornou-se conhecida pelo seu desempenho em movimentos de rua desde 2013 e por ações que moveu contra políticos e empresas.
Soraya Thronicke tem como vice-presidente Marcos Cintra, também da União Brasil, e apresenta-se ao escrutínio com o número 44.
Kelmon Souza (PTB)
Mais conhecido como padre Kelmon, embora exista uma grande polémica sobre qual a igreja que representa. Líder do Movimento Cristão Conservador do PTB e do Movimento Cristão Conservador Latino Americano, diz pertencer à Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru.
Tem 45 anos, nasceu em Acajutiba, na Bahia, onde celebra missas e batismos e ganhou notoriedade em grupos conservadores graças aos discursos contra a esquerda. Foi seguidor de Bolsonaro e chegou a discursar em manifestações de apoio ao Presidente.
No início da campanha, Kelmon Souza estava como candidato a vice-presidente, mas depois do Tribunal Superior Eleitoral ter indeferido a candidatura de Roberto Jefferson, o padre ortodoxo assumiu o lugar deixado vago e entra pela primeira vez numa corrida eleitoral.
O candidato a vice-presidente na lista do Partido Trabalhista Brasileiro passou a ser o pastor Luiz Cláudio Gamonal. A Kelmon Souza foi atribuído o número 14 para o voto eletrónico.
Candidaturas indeferidas
Além da candidatura do ex-deputado federal Roberto Jefferson, o Tribunal Superior Eleitoral também indeferiu o nome de Pablo Marçal, do Partido Republicano da Ordem Social.
Marçal não pôde ser candidato a Presidente da República porque o líder do partido, Eurípedes Júnior, retirou a candidatura dele e declarou apoio ao ex-Presidente Lula da Silva.
Já Jefferson teve a candidatura negada pela Justiça Eleitoral por se encontrar inelegível até dezembro de 2023 devido à condenação no julgamento do caso mensalão. O ex-deputado está implicado em ataques ao regime democrático e tem mantém-se em prisão domiciliária desde agosto de 2021.
Recomendações e votação em Portugal
Uma das novidades nesta eleição é o horário de votação que será adaptado à hora de Brasília, onde a votação vai decorrer entre as 8:00 e as 17:00. Assim, tendo em conta os diferentes fusos horários, numa parte do país o período para votar é das 6:00 às 15:00 e noutra é entre as 7:00 e as 16:00.
Ao dirigir-se à mesa de voto, o eleitor deve ser portar do cartão de eleitor ou de qualquer documento oficial com a sua fotografia e do e-título no telemóvel. O Tribunal Superior Eleitoral aconselha os eleitores a levarem consigo um auxiliar de memória com os números dos seus candidatos para não correrem o risco de errar no momento em que vão votar
Em Portugal, as urnas vão estar abertas entre as 8:00 e as 17:00 (hora de Lisboa), mas se ainda houver pessoas na fila à hora do encerramento os eleitores poderão votar. “As portas fecham, mas a essas pessoas será dada uma senha para ainda poderem votar”, garantiu Wladimir Valler Filho, cônsul-geral do Brasil na capital portuguesa.
Um total de 80.896 eleitores brasileiros estão registados para votar em Portugal nas presidenciais de 2 de outubro. O consulado de Lisboa tem o maior número de inscritos fora do Brasil, estão inscritos 45.273 eleitores, um aumento superior a 100% relativamente às anteriores eleições presidenciais, em 2018.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL