Nove mulheres para oito homens. O primeiro Governo mais do que paritário da democracia tem oito estreias, com muitas promessas socialistas. Eis os perfis de cada um
MARIANA VIEIRA DA SILVA, MINISTRA DA PRESIDÊNCIA
Poderosa número dois
O XXIII Governo consagra Mariana Vieira da Silva como número dois de António Costa. Já o era de facto, mas agora é formalmente uma vez que na organização do Governo é seu o segundo lugar, que já foi de Santos Silva e já foi de Siza Vieira.
Nascida em 1978, licenciada em Sociologia, há muito que espera ter tempo para concluir o doutoramento em Políticas Públicas. Ainda não deve ser durante esta legislatura, já que não só sobre a número dois formal, como ganha as pastas do Planeamento (leia-se fundos) e da Administração Pública.
Formiguinha trabalhadora, há muito que acompanha António Costa, primeiro na redação de programa eleitoral, depois como secretária de Estado Adjunta e, por fim, como ministra da Presidência e da Modernização Administrativa. Em 2019 subiu a ministra de Estado e agora será uma espécie de vice-primeira-ministra ainda que sem o título. Eunice Lourenço
JOÃO GOMES CRAVINHO, MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS
O diplomata
João Titterington Gomes Cravinho nasceu em Lisboa em junho de 1964. Sai da Defesa para os Negócios Estrangeiros. Na Defesa não deixa saudades em vários lugares da hierarquia, nem em Belém. A sua passagem de pasta foi coordenada entre São Bento e Belém, já que Marcelo considera que, dada a sua carreira diplomática, terá mais aptidões para o lugar.
Já esteve, aliás, nas Necessidades como secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação nos governo de José Sócrates. Doutorado em Ciência Política, pela Universidade de Oxford, e com Mestrado e Licenciatura pela London School of Economics, foi Embaixador da União Europeia no Brasil e na Índia entre 2011 e 2015.
Vai substituir Augusto Santos Silva em terrenos que conhece, num tempo de guerra em que até têm estado juntos em conselhos de ministros da União Europeia e da NATO. Eunice Lourenço
HELENA CARREIRAS, MINISTRA DA DEFESA NACIONAL
A primeira mulher a mandar na tropa
É a primeira mulher à frente do ministério da Defesa. O nome de Helena Carreiras, professora universitária, investigadora e socióloga, presidente do Instituto de Defesa Nacional, já circulava nos meios militares há semanas, mas a maior preocupação na hierarquia era o verdadeiro peso político da nova titular junto do primeiro-ministro, sobretudo num momento definidor: com a Europa em guerra, com a NATO a ganhar nova centralidade, com a União Europeia a avançar na área da segurança e com uma enorme pressão externa para os países aumentarem a despesa militar. Numa entrevista ao “Diário de Notícias” esta semana, Carreiras dizia que a unidade da NATO “dependerá do desenrolar da guerra, do cumprimento por parte dos Estados-membros dos compromissos assumidos, incluindo a meta dos 2% do PIB em Defesa, e da forma como o novo conceito estratégico da Aliança venha a espelhar convergência na identificação de ameaças e na definição de prioridades”. Segundo a futura ministra, “a nova situação favorece simultaneamente o agendamento político e uma maior compreensão dessa necessidade [do aumento da despesa] por parte da população”. Resta saber se terá cobertura política. Vítor Matos
JOSÉ LUÍS CARNEIRO, MINISTRO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA
O homem do aparelho
José Luís Carneiro foi nomeado em 2019 para o cargo de vice-secretário-geral do partido para ser o patrão efetivo do aparelho PS. Antigo delfim de Francisco Assis e fiel apoiante de Seguro “até ao fim”, o ex-secretário de Estado das Comunidades teve a tarefa de manter o mapa cor-de-rosa nas autárquicas de 2021.
Uma das suas ambições seria a Câmara do Porto, mas acabou por não avançar ‘barrado’ pelo PS/Porto, que aprovou um perfil à medida do líder concelhio Tiago Barbosa Ribeiro.
Agora vai para um ministério tradicionalmente difícil – a Administração Interna – onde vai continuar a percorrer o país que bem conhece em cerimónias de bombeiros e polícias. Isabel Paulo
FERNANDO MEDINA, MINISTRO DAS FINANÇAS
O delfim
Não tem formalmente a posição de ministro de Estado, mas a pasta que assume e sua proximidade ao primeiro-ministro garante-lhe uma posição de destaque no Governo. Fernando Medina é licenciado em Economia, mestre em Sociologia Económica, mas boa parte da sua carreira profissional foi passada na política.
Filho de pais comunistas, cresceu no Porto, com a avó, e foi por lá que fez o curso, na Faculdade de Economia, e por lá que começou a destacar-se enquanto líder estudantil durante os agitados anos 1990 do cavaquismo. A notoriedade durante a luta académica catapultou-o, anos mais tarde, para o gabinete de António Guterres, de
quem foi assessor para a educação, ciência e tecnologia e, tempos depois, em 2005, para a secretaria de Estado do Emprego, ao lado de José António Vieira da Silva. No segundo Governo de José Sócrates mantém a ligação a Vieira da Silva, mas desta vez no ministério da Economia, como secretário de Estado da Industria e do Desenvolvimento. Daí salta para a Câmara de Lisboa, primeiro como braço direito de António Costa, depois como presidente da autarquia.
A derrota surpreendente nas eleições autárquicas obrigou-o a recuar para a AICEP, onde ingressou em 2002 e mantém como ponto de recuo, mas por pouco tempo. No próximo dia 30 tomará posse como ministro das Finanças, uma das pastas mais ingratas de qualquer Governo, mas com a proteção do primeiro-ministro.
Mantém fora da sua alçada a Administração Pública, uma área especialmente difícil, depois de se terem esboroado os acordos à esquerda e com o avolumar das queixas dos funcionários públicos, mas não chega para simplificar-lhe a vida. Com um perfil mais político do que técnico, terá de conciliar o controlo das metas orçamentais e a reputação de Portugal nos mercados externos, com as pressões internas dos colegas de Governo.
Querendo ficar na história como um ministro reformista, também terá pano para mangas: dos temas fiscais às empresas públicas, da reforma da supervisão passando pelo património do Estado, o difícil é estabelecer prioridades na longa lista. Elisabete Miranda
ANA CATARINA MENDES, MINISTRA ADJUNTA E DOS ASSUNTOS PARLAMENTARES
De líder parlamentar a ministra do Parlamento
Deputada do Partido Socialista desde 1995 e líder parlamentar desde 2019, Ana Catarina Mendes fez todo o seu percurso na JS e nos órgãos do PS no distrito de Setúbal. Deputada há 27 anos, licenciada em Direito, foi sob a liderança de António Costa que ganhou mais palco. Primeiro como secretária-geral-adjunta do PS, para fazer as vezes de Costa no partido, e depois como sucessora do poderoso Carlos César na liderança da bancada parlamentar. Sucedeu a Jorge Coelho no programa de comentário político Quadratura do Círculo, num movimento que foi visto como um sinal de ascendência da socialista.
Apontada como uma das potenciais sucessoras de António Costa no PS, a sua entrada no Governo reforça o núcleo político e o leque de sucessores em São Bento. Mantém-se no Parlamento, mas agora como ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares (pasta que até agora estava dividida entre dois secretários de Estado: Tiago Antunes e Duarte Cordeiro). Com o Parlamento a perder centralidade perante um Governo de maioria absoluta, Ana Catarina herda duas sub-pastas que estavam até aqui debaixo da tutela de Mariana Vieira da Silva e que agora se fundem numa só: as Migrações e a Igualdade, e acumula ainda uma outra que estava na Educação – Juventude e Desporto. Rita Dinis
DUARTE CORDEIRO, MINISTRO DO AMBIENTE
O delfim dos delfins
Jovem turco, braço direito de Pedro Nuno Santos e antigo vice-presidente do delfim Fernando Medina na câmara de Lisboa, Duarte Cordeiro estreou-se no Governo em 2019, como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares com a pasta da mediação da geringonça, e é agora promovido a ministro – do Ambiente. Fica responsável por um superministério que terá três secretários de Estado.
Além do Ambiente, tem também a tutela da Energia, da Natureza e Florestas e da Mobilidade Urbana – pasta importante para quem tem a ambição de vir a liderar a câmara da capital. Nas duas últimas campanhas eleitorais, Costa confiou-lhe a importante tarefa de dirigir a campanha, tendo-se tornado rapidamente um nome incontornável no núcleo político do primeiro-ministro. Antes, já tinha sido ele a coordenar a campanha de Costa à câmara de Lisboa, em 2013, e tinha também ajudado na campanha das primárias contra António José Seguro, em 2014.
Com 42 anos, conotado como próximo da ala mais à esquerda do PS, é licenciado em Economia, foi secretário-geral da JS e é presidente da importante federação socialista de Lisboa. Dentro do vasto leque de delfins de Costa, Duarte Cordeiro é um dos que tem merecido maior destaque. Rita Dinis
MARTA TEMIDO, MINISTRA DA SAÚDE
A resistente
Outrora nos bastidores da Saúde nacional – foi subdiretora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, presidente não executiva do conselho de administração do Hospital da Cruz Vermelha ou presidente da Administração Central do Sistema de Saúde – , Marta Temido estreou-se no Governo socialista sem grande expectativa dos profissionais de saúde e acabou debaixo dos holofotes puxada pela pandemia. Tal como o vírus, teve momentos virais na gestão da infeção, como quando afirmou que faltava resiliência aos médicos do SNS. Retratou-se em lágrimas mas não convenceu e continua a ser uma governante com falta de proximidade a quem governa.
A covid-19 foi uma prova de fogo e, ao contrário dos prognósticos críticos, sobreviveu sem grandes cicatrizes ou sequelas. Doutorada em Saúde Internacional pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical, com mestrado em Gestão e Economia da Saúde pela Faculdade de Economia de Coimbra, especializada em Administração Hospitalar pela Escola Nacional de Saúde Pública e licenciada em Direito pela Faculdade de Coimbra, renova-se na Saúde com um grande desafio: sarar as feridas da Covid e estancar a hemorragia de profissionais para os privados, que quer manter afastados e supletivos. Ana Lúcia Arreigoso
ANTÓNIO COSTA SILVA, MINISTRO DA ECONOMIA
O engenheiro dos petróleos (e do PRR)
É no ano em que comemora 70 anos que António Costa Silva sobe a ministro da Economia. Nunca na democracia portuguesa alguém tinha chegado a titular desta pasta com esta idade. Álvaro Barreto, com 68 anos quando chegou ao Governo de Santana Lopes, é o que mais perto se encontra.
Nascido em 1952 em Angola, Costa Silva passa de conselheiro a ministro, tendo o currículo pintado a petróleo. “O Desenvolvimento de Modelos Estocásticos Aplicados aos Reservatórios Petrolíferos” é o título da tese que escreveu para se doutorar pelo Instituto Superior Técnico (onde se agregou como professor) e pelo Imperial College. Na carreira destaca-se a Sonangol, a petrolífera angolana que tem ainda investimentos em Portugal (posição na Galp e no BCP). A liderança executiva da Partex, a petrolífera que a Fundação Gulbenkian teve e que vendeu a um grupo tailandês em 2019 (numa polémica que levou a queixas de trabalhadores).
Costa Silva continuou na Partex até 2021, já depois de ter sido convidado por António Costa para desenhar as reformas do país que serviu de base ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Ficará agora responsável pela Economia, tendo de olhar para Turismo, Comércio, Serviços e Mar (mas não pela energia), com o que dividirá a paixão pelos escritos e por Angola – tem livros publicados, como “Aroma de pitangas num país que não existe”, poesia escrita com Nicolau Santos com evocações a Angola, numa coautoria que se estendeu por três livros. Diogo Cavaleiro
PEDRO ADÃO E SILVA, MINISTRO DA CULTURA
Entre o 25 de Abril e o poder
Foi o nome mais bem guardado do novo Governo e só foi divulgado depois da cerimónia inaugural das celebrações dos 50 anos do 25 de abril. Pedro Adão e Silva foi nomeado há menos de um ano comissário executivo das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o que gerou polémica com a oposição a acusar o Governo de uma nomeação partidária.
O Presidente da República defendeu-o para o lugar para o qual o Governo o escolheu e António Costa terá receado que Marcelo não aprovasse a escolha, até porque o objetivo é que continue a liderar a estrutura de missão para as comemorações, ainda que a sua número dois vá assumindo mais alguma ação executiva.
Nascido em 1974, Pedro Adão e Silva é professor auxiliar do departamento de ciência política e políticas públicas no ISCTE-IUL, funções que suspendeu para tratar das celebrações do 25 de abril. Comentador político e desportivo, sociólogo, tem presença assídua nas televisões. Além da intervenção na Cultura, leva certamente para o seio do Governo a sua capacidade de análise política. Christiana Martins e Eunice Lourenço
ANA MENDES GODINHO, MINISTRA DO TRABALHO, SOLIDARIEDADE E SEGURANÇA SOCIAL
Provas de fogo
A pasta do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social volta a ficar sob a tutela de Ana Mendes Godinho. Licenciada em Direito, a ministra que teve no Governo anterior uma das pastas mais críticas associada à gestão da pandemia , fez carreira na Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), primeiro como inspetora e mais tarde como diretora dos Serviços de Apoio à Atividade Inspetiva. Foi adjunta e chefe de gabinete do secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade, no Governo de José Sócrates, de onde transitou para vice-presidente do Turismo de Portugal.
Chegou ao Governo em 2015, como secretária de Estado do Turismo, no primeiro mandato de António Costa. Em 2019 muda de pasta e assume, pela primeira vez, a do Trabalho Solidariedade e Segurança Social. A primeira prova de fogo chegaria meses depois, em março de 2020, com a pandemia. A paragem quase total da economia nacional, obrigou à criação de um vasto conjunto de apoios transitórios, a empresas e trabalhadores, que pressionaram a máquina da Segurança Social.
A segunda prova de fogo foi já em 2021, a negociação com os parceiros sociais (sem acordo final) da Agenda para o Trabalho Digno e da revisão da legislação laboral que ficou suspensa com a dissolução da Assembleia, depois do chumbo do Orçamento do Estado para 2022. Dossiê que deverá recuperar no novo mandato. Cátia Mateus
CATARINA SARMENTO E CASTRO, MINISTRA DA JUSTIÇA
A professora e os combatentes
Apesar de não ser um nome que dispense apresentações, Catarina Sarmento e Castro, a nova ministra da Justiça, já tem alguma experiência em cargos públicos e políticos. Além de ter sido deputada eleita pelo PS e juiz Conselheira do Tribunal Constitucional, foi secretária de Estado dos Recursos Humanos e Ex-Combatentes, tendo feito do Estatuto dos ex-combatentes o cavalo de batalha do seu mandato.
É filha do ex-deputado Osvaldo Castro e professora de direito. Fez ainda parte de órgãos importantes do mundo judicial como o Conselho Consultivo da PGR, e o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais. Não deixa de ser uma surpresa e uma aposta na discrição. Rui Gustavo
ELVIRA FORTUNATO, MINISTRA DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR
A ministra cientista
Elvira Fortunato, 57 anos, investigadora, professora catedrática e, desde 2017, vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa, foi o nome escolhido por António Costa para assegurar a pasta da Tecnologia, Ciência e Ensino Superior, sucedendo no cargo a Manuel Heitor.
A cientista tem-se destacado na área da eletrónica em papel e transparente, liderando dois centros de investigação que têm desenvolvido projetos pioneiros: o Centro de Investigação de Materiais (Cenimat) e o Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofabricação (i3N). Elvira Fortunato desenvolveu o primeiro transístor de papel e o primeiro ecrã totalmente transparente. A sua investigação tem recebido importantes bolsas e prémios internacionais. Em 2018 ganhou uma bolsa de 3,5 milhões de euros do Conselho Europeu de Investigação, a maior de sempre até aí atribuída a cientistas portugueses. Em 2020 foi distinguida em Portugal com o Prémio Pessoa. E, no mesmo ano, o seu nome chegou a constar da short list para o Prémio Nobel da Física.
Na academia, tem criticado o excesso de burocracias que as universidades têm de cumprir no dia-a-dia e assumido como bandeira uma maior igualdade de género na progressão nas carreiras. Já este mês, foi escolhida pela Presidência da União Europeia para integrar o grupo de 27 mulheres inspiradoras da Europa.
Em fevereiro, num depoimento enviado ao Expresso a propósito da iniciativa “100 mulheres, 100 ideias” defendeu que o ensino superior deve ser uma “mola motora de todas as transformações necessárias” no país. No mesmo texto escreveu: “São necessários pactos que sustentem compromissos de caráter plurianual, nomeadamente os financeiros, cuja execução não se circunscreve aos ciclos políticos e, portanto, não dependa da aprovação do Orçamento do Estado todos os anos. A ciência é como nós, respira todos os dias, não a podemos sufocar com burocracias”.
À frente da pasta da Ciência e Ensino Superior, tem a oportunidade para concretizar este desígnio. Na última legislatura participou em várias iniciativas do PS, mas sempre salientando que o seu envolvimento na vida política era “pontual” e apenas na condição de “independente”. “O meu partido é a ciência”, respondeu ao Expresso no final do ano passado. Mas Elvira Fortunato acabou por dizer sim ao convite de António Costa.
Adepta do Sporting, costuma ser presença assídua no estádio. Ao site “Mais Futebol” contou que no tempo do liceu chegou a ir com umas amigas a Alvalade tentar fazer um treino. Mas na altura, equipas de futebol feminino era algo que não existia. Isabel Leiria e Joana Pereira Bastos
JOÃO COSTA, MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Promoção dentro de casa
João Costa, 49 anos, já tinha deixado a sua marca na Educação, sendo o principal responsável pela definição do projeto de autonomia e flexibilidade curricular, enquanto secretário de Estado da Educação de Tiago Brandão Rodrigues, o ministro com maior tempo de permanência do cargo.
Mas se muitos dossiers serão familiares – desde o plano da recuperação das aprendizagens, à inclusão, passando pelas questões da avaliação – para o professor catedrático de Linguística e ex-diretor da Faculdade de Ciências Sociais e humanas da Universidade Nova de Lisboa, a tarefa que o espera não será fácil. Além de perder uma secretaria de Estado (já a da Juventude e Desporto muda de alçada e fica com os Assuntos Parlamentares), tem já à sua espera uma das questões mais complexas e potencialmente polémicas à sua espera.
A revisão do modelo de seleção e recrutamento de professores é urgente e a falta de docentes disponíveis para dar aulas é já um problema nalgumas regiões do país, com tendência a agravar-se e generalizar-se se nada for feito. Isabel Leiria
PEDRO NUNO SANTOS, MINISTRO DAS INFRAESTRUTURAS E DA HABITAÇÃO
Mais uma prova para a liderança
Um dos mais mediáticos e incómodos ministros do anterior governo, presença frequente nos media por causa da TAP e da CP, é sem surpresa reconduzido no novo Executivo. Forte candidato a secretário geral do PS e rosto das posições mais à esquerda no Partido Socialista, Pedro Nuno Santos é licenciado em Economia pelo ISEG. Frontal e dialogante, foi ele um dos estrategas da geringonça, que garantiu o apoio do PCP e do BE. Missão que cumpriu como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.
Gosta de puxar os galões da experiência que tem no mundo empresarial, conseguida no grupo Tecmacal, que pertence à sua família e se dedica a serviços e comercialização e desenvolvimento de equipamentos industriais, sedeada em São João da Madeira – cidade onde nasceu, em 1977.
Aos 44 anos, o ministro herda de si próprio dossiês complexos como o da capitalização e reestruturação da TAP, caso bicudo em que não é demais dizer que apostou parte significativa da sua credibilidade política, ao insistir em salvar a empresa com o argumento de que deixá-la cair seria altamente penoso para a economia portuguesa. Num quadro de pandemia, assumiu, sem reserva, o confronto com David Neeleman, o acionista privado da TAP, que acabou afastado da companhia, com um cheque de 55 milhões de euros no bolso. Fez regressar a transportadora à esfera pública. A fatura a pagar é elevada, pelo menos 3,2 mil milhões de euros. E nem todos concordam que foi a melhor decisão – especialmente a oposição à direita.
Tem também o dossiê da recuperação da ferrovia. Os projetos nesta área são tantos que arrisca a ficar na História como o governante que fez dos comboios um meio de transporte moderno, competitivo e mais barato. Leva para o próximo Governo, além da aposta na alta velocidade com uma nova linha entre Lisboa e o Porto, uma estratégia para o sector consagrada no Plano Ferroviário Nacional.
Mantém também a pasta da habitação, menos visível, mas que assume especial relevância numa altura em que os preços do imobiliário continuam a criar dificuldades no acesso à habitação por parte da população das maiores cidades portuguesas. As soluções têm sido poucas – e a habitação, especialmente nas duas cidades do país, Lisboa e Porto, é uma das maiores de cabeça de quem as habita.
A carreira na política começou cedo. Foi secretário-geral da Juventude Socialista entre 2004 e 2008, depois presidente da Federação de Aveiro do PS. Agora são, se tudo correr como o previsto, mais quatro anos de governo, que o deixará próximo dos cinquenta quando terminar. Pelo caminho terá de provar que a salvar a TAP valeu a pena, e conseguir que Portugal deixou de ser uma ilha ferroviária.
Anabela Campos e Pedro Lima
ANA ABRUNHOSA, MINISTRA DA COESÃO
Fora da caixa
Deu a cara quase diariamente durante os fogos de 2017, quando era presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro. Em 2019, António Costa foi buscá-la para o Governo, ignorando as aproximações que Abrunhosa tinha tido ao PSD, tendo sido membro da Assembleia Municipal de Mêda eleita numa lista social-democrata.
Deu-lhe a pasta da Coesão, mas em parte esvaziada, uma vez que o poder local estava noutro ministério e os fundos para coesão noutro. Agora, mantém no Governo esta ministra fora da caixa, mas com o Desenvolvimento Regional e o Ordenamento, em vez da Valorização do Interior que deixa de ter pasta.
Doutorada em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, nasceu em Angola em 1970 . Eunice Lourenço
MARIA DO CÉU ANTUNES, MINISTRA DA AGRICULTURA
Vinda de fora para ficar
A nomeação de Maria do Céu Antunes para a Agricultura, no segundo Governo de António Costa, em outubro de 2019, foi recebida com surpresa e uma certa dose de ceticismo pelo sector. Houve mesmo quem não desse muito tempo de permanência no lugar, pois era vista como “alguém que vinha de fora e não dominava os dossiês”.
A verdade é que, contra quase todas as previsões, não só se manteve no cargo como, em novembro de 2021, ficou na ‘fotografia’ como uma das obreiras do acordo para a nova versão da Política Agrícola Comum (PAC) – na reta final da presidência portuguesa [rotativa] do Conselho Europeu. Também marcou alguns pontos, perante os mais críticos, na forma como geriu os primeiros tempos de confinamento, em plena pandemia, com a coordenação de um ‘grupo de crise’ interministerial e conjunto com o seu colega da Economia.
Antes de chegar ao governo, Maria do Céu Antunes foi presidente da Câmara Municipal de Abrantes, de onde é natural e, já em fevereiro de 2019, ainda antes de assumir a pasta da Agricultura, ocupou por alguns meses o cargo de secretária de Estado do Desenvolvimento Regional. Vítor Andrade
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL