A demissão da ministra da Saúde Marta Temido, anunciada esta terça-feira, constitui a primeira baixa de “peso” no XXIII Governo Constitucional, que tomou posse há exatamente cinco meses, em 30 de março.
Em 2 de maio, já tinha havido uma mexida no terceiro executivo liderado por António Costa: nesse dia, o Presidente da República aceitou a proposta do primeiro-ministro de substituição de Sara Guerreiro por Isabel Rodrigues no cargo de secretária de Estado da Igualdade e Migrações, mas numa mexida que aconteceu a pedido da própria “e por motivo de doença”.
A demissão de Marta Temido, já aceite pelo primeiro-ministro, foi noticiada esta madrugada, mas hoje de manhã fonte próxima de António Costa disse à Lusa que a substituição da ministra da Saúde “não será rápida”, adiantando que o chefe do Governo gostaria que fosse esta governante a concluir o processo de definição da nova direção executiva do SNS.
“A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou hoje a sua demissão ao primeiro-ministro por entender que deixou de ter condições para se manter no cargo”, revelou a nota enviada às redações na madrugada de hoje.
Marta Temido iniciou funções como ministra da Saúde em outubro de 2018, sucedendo a Adalberto Campos Fernandes, e foi ministra durante os três últimos três executivos liderados pelo socialista António Costa.
No último Congresso do PS, em agosto de 2021, tornou-se militante do partido, com o cartão entregue pelas mãos de António Costa e o seu nome chegou mesmo a ser incluído entre os dos possíveis sucessores do atual secretário-geral do PS.
Durante os seus mandatos, Marta Temido esteve no centro da gestão da pandemia, que começou em 2020, mas também atravessou várias polémicas. Recentemente, o encerramento dos serviços de urgência de obstetrícia em vários hospitais por falta de médicos para preencher as escalas pressionou a tutela.
“Dificuldade de diálogo com os intervenientes acabou por ditar esta demissão”
O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) considerou hoje que a demissão da ministra da Saúde “era expectável” face à falta de condições que Marta Temido foi tendo para fazer mudanças necessárias no Serviço Nacional de Saúde.
“Diria que era uma demissão expectável (…). A dificuldade de diálogo que foi acumulando com os diferentes intervenientes acabou por ditar esta demissão. Diria que era expectável que viesse a acontecer, mas não esperávamos que fosse já”, disse à Lusa Xavier Barreto.
Na opinião do presidente da APAH, Marta Temido não conseguiu mobilizar o setor e não teve a força política para convencer o Conselho de Ministros a tomar decisões importantes sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“O SNS precisa de reformas urgentes, o setor das urgências foi o mais abordado nos últimos tempos com os encerramentos, mas é preciso lançar reformas importantes e para isso temos que ter os profissionais connosco, temos de ser capazes de os mobilizar. A senhora ministra foi perdendo essa margem de mobilização do setor para essas mudanças. Esse foi o principal problema. Teve também sempre alguma dificuldade em fazer valer dentro do Governo, dentro do Conselho de Ministros, as suas propostas de mudança e a necessidade de reforçar SNS”, sublinhou.
Questionado sobre aspetos positivos na governação de Marta Temido, o presidente da APAH realçou o combate à pandemia de covid-19.
“Destacaria o empenho e a dedicação que revelou durante o combate à pandemia, que não foi isento de erros. Houve vários problemas de descoordenação, que foram sendo mitigados até com reforço das administrações dos diferentes hospitais, mas ninguém dúvida da sua dedicação, do empenho, dos esforços que a ministra entregou no combate à pandemia”, salientou.
Quanto ao próximo ministro da saúde, Xavier Barreto disse esperar que seja um ministro com “capacidade técnica e conhecimento do setor, mas que tenha uma forte força politica para convencer o Conselho de Ministros a investir mais no SNS”.
“Reforçar aspetos fundamentais do SNS como por exemplo as carreiras dos profissionais de saúde. Destacaria a nossa, a dos administradores hospitalares, que está por rever há mais de 20 anos, que não teve nenhuma evolução durante o mandato da Marta Temido, uma situação que lamentamos e esperemos que seja uma prioridade para o próximo ministro da Saúde”, concluiu.