O presidente da Iniciativa Liberal defendeu esta segunda-feira a revisão dos acordos que Portugal tem com a China, após ouvir o diretor da Safeguard Defenders, ONG que elaborou o relatório que fala de alegadas “esquadras” informais chinesas no país.
“Os muitos acordos que Portugal celebrou com a República Popular da China devem ser revistos com atenção para perceber se não estamos, com total falta de reciprocidade e total falta de equilíbrio diplomático, a dar poderes ao Estado chinês, um estado ditatorial e persecutório dos seus próprios cidadãos, que também passa a ser persecutório a cidadãos de países terceiros”, afirmou João Cotrim Figueiredo.
O líder da Iniciativa Liberal falava aos jornalistas em Coimbra, num jantar inserido nas jornadas parlamentares do partido, que contou com uma intervenção do diretor da organização não governamental (ONG) Safeguard Defenders, Peter Dhalin, que denunciou num relatório a existência em Portugal de esquadras informais da polícia chinesa.
Para além dessa proposta, Cotrim Figueiredo defendeu também que, após ouvir Peter Dahlin falar, a “consequência mais evidente” será a Iniciativa Liberal pedir novamente a suspensão imediata do acordo de extradição que Portugal mantém com Hong Kong.
“Não aceitamos recusas relativamente a essa pretensão relativos aos supostos interesses de Portugal na região que não justificam que direitos humanos sejam postos para segundo, terceiro ou último plano”, vincou, salientando que essa posição está acima de “interesses de ‘real politik’”.
Na intervenção no jantar, Peter Dahlin afirmou que se constatam “três principais tendências na China” nos últimos cinco anos, aceleradas durante o segundo mandato do presidente chinês Xi Jinping,
O diretor da Safeguard Defenders falou de que o Governo chinês tem aumentado o número de pessoas que “desaparecem”, aumentou o rácio de condenações e teme que aplique o conceito de extraterritorialidade (isenção da jurisdição ou lei local) para perseguir dissidentes políticos fora do seu país, tendo criticado os acordos de extradição que Portugal mantém com a China e Hong Kong.
Sobre as extradições, o ativista referiu que já leu e viu sentenças e recursos portugueses relativos a extradições para a China e que sentiu “quase vergonha de ser europeu”. “São uma piada”, resumiu.
Peter Dahlin acusou também a China de pôr em prática um sistema de raptos para capturar dissidentes chineses no estrangeiro.
Durante a sua intervenção, o ativista de nacionalidade sueca que esteve cerca de uma década na China criticou ainda Portugal por não fazer fiscalização aos investimentos feitos no país, assim como não se preparar para uma situação em que a China irá entrar numa espécie de “buraco negro económico”, tal como acontece, de alguma forma com o isolamento da Rússia.
O diretor da ONG acredita que quando houver uma invasão de Taiwan isso irá acontecer e a China “vai desaparecer”, sendo necessário os países elaborarem um plano para uma situação desse tipo.
As jornadas parlamentares da Iniciativa Liberal decorrem entre hoje e terça-feira, em Coimbra.